China pode economizar US$ 1,4 trilhão em infraestrutura

Por Nelson Valêncio – 1 de abril de 2014 A China, como sempre, envolve dados impressionantes. Nos últimos 30 anos, o desenvolvimento do país tirou nada menos do que 500 milhões de pessoas da linha de pobreza. Seria o equivalente a dois e meio brasis. Agora, uma nova estatística, ajuda a entender para onde vai […]

Por Redação

em 1 de Abril de 2014

Por Nelson Valêncio – 1 de abril de 2014

A China, como sempre, envolve dados impressionantes. Nos últimos 30 anos, o desenvolvimento do país tirou nada menos do que 500 milhões de pessoas da linha de pobreza. Seria o equivalente a dois e meio brasis. Agora, uma nova estatística, ajuda a entender para onde vai nosso dragão vermelho. É um estudo do Banco Mundial, recém-lançado em parceria com o Centro de Pesquisa em Desenvolvimento do Conselho de Estado da China. De acordo com o levantamento, divulgado em 25 de março último, os chineses podem economizar cerca de US$ 1,4 trilhão ao ano somente em investimentos em infraestrutura. O montante seria economizado desde que o país investisse na construção de cidades mais densas e corresponde a 15% do PIB da China, considerando os números de 2013.

O pé-de-meia nada desprezível viria com a otimização dos custos com congestionamentos de tráfego, poluição do ar e da água e em serviços de manutenção de infraestrutura. Outro ganho indireto seria a preservação de áreas rurais, passíveis de agricultura, e fontes de produção de alimentos para a nação cada vez mais populosa. “Uma agenda ampla vai dar à China as ferramentas necessárias para que ela se encaminhe para um processo de urbanização sustentável, inclusivo e eficiente”, disse Axel van Trotsenburg, vice-presidente do Banco Mundial para a região da Ásia Oriental e Pacífico. De acordo com ele, as reformas indicadas pelo estudo acelerariam a mudança da indústria para as cidades secundárias. A iniciativa reduziria ainda pressão migratória para as grandes cidades e eventualmente levaria a melhores taxas de qualidade de vida.

Preparadas ao longo de 14 meses, as informações do relatório foram compartilhadas com as autoridades do país que respondem pela formulação das políticas de urbanização. O documento lista os desafios que o dragão oriental vai enfrentar, a começar pela procura de nova abordagem de urbanização (veja infográfico). A área de construção urbana, por exemplo, cresceu 58% entre 2001-11. E mais: 90% das novas terras urbanas foram tomadas de regiões onde antes havia algum tipo de plantação e sem a compensação devida. O relatório aponta que o pagamento corresponderia a cerca de um quinto do valor de mercado. Se essa tendência continuar, a China vai precisar de uma área equivalente ao tamanho da Holanda para acomodar a urbanização na próxima década.

Se apostar na expansão com baixa densidade populacional, o país vai continuar a incorrer no problema da construção da infraestrutura de transporte da população espalhada por várias cidades grandes e não por municípios com maior adensamento populacional. Somente a poluição do ar dá um prejuízo de US$ 300 bilhões por ano aos chineses. O desafio do saneamento é outra dor de cabeça. Cerca de 57% da água em 198 cidades (dados de 2012) é considerada ruim ou extremamente ruim de acordo com as estatísticas do governo local. A quantidade de resíduos sólidos industriais e municipais mais do que dobrou em sete anos e atingiu 2,6 bilhões de toneladas em 2010.

Para enfrentar os desafios colossais, o documento modelou uma agenda de reformas baseada em seis áreas (veja infográfico), com destaque para o gerenciamento de terras e de meio-ambiente e financiamentos locais. “Nossa cooperação estreita com o Centro de Pesquisa em Desenvolvimento na elaboração desse relatório permitiu que combinássemos nosso conhecimento global em urbanização com uma compreensão aprofundada do desafio político da China”, disse Klaus Rohland, diretor do Banco Mundial para o país. “O relatório conjunto vai ajudar a guiar o país para sua inexorável urbanização e melhorar a qualidade de vida das pessoas”, argumenta.

Foco da reforma, o uso eficiente das terras prevê um sistema de registro das propriedades e uma compensação melhor pela compra das áreas rurais. Adensar as cidades já existentes vai reduzir o custo de energia e de combustíveis e pode manter uma produção agrícola maior e mais sustentável. Apesar de cidades como Pequim e Xangai já estarem avançando na maior densidade populacional, o estudo acredita que um trabalho mais intenso pode ser implementado. No caso de Guangzhou, por exemplo, se a cidade alcançar o mesmo adensamento de Seul, cerca de 4,2 milhões a mais de pessoas poderão ser acomodadas no município, reduzindo as distâncias de transporte para quem trabalha na região. Há ainda a previsão de cobrança de taxas para melhoria do meio ambiente e de multas para reduzir o congestionamento de tráfego.

Para o Banco Mundial, os governos locais também devem receber incentivos para melhorar seu desempenho, inclusive reforçando a legislação sobre o meio-ambiente e tendo um gerenciamento financeiro melhor e mais transparente. Os esforços não são pequenos, considerando que as estimativas da instituição indicam que a população urbana da China poderá aumentar em um bilhão até 2030 e representar até 70% do total de residentes.