Por Rodrigo Conceição Santos – 09.03.2016 –
Depois do alto volume de vendas registrados nos últimos anos, números dessa indústria despencam ao pior nível já medido em sua história.
O setor de implementos rodoviários apresentou o resultado do pior primeiro bimestre já medido pela entidade que o congrega, a Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir). Ao todo, foram 9,4 mil unidades emplacadas no período, o que é 36% menor que os 14,8 mil implementos contabilizados nos dois primeiros meses de 2015. Detalhe: o ano passado já foi ruim para o setor e, se nada acontecer, 2016 deve fechar com o pior índice histórico da série que começou a ser medida em 2005.
Para o presidente da Anfir, Alcides Braga, isso é resultado direto da fragilidade econômica do país, algo que só deve mudar após o término do rito do impeachment da presidente Dilma Rousseff, seja ele resultando na sua saída ou seja definindo a sua permanência no cargo. “O problema do governo hoje é que ele está trabalhando para se defender, o que o impossibilita de criar alternativas. É como o Ayrton Senna dizia: ‘me dê três segundos de vantagem e eu faço a melhor volta da corrida. Agora, com o adversário na minha cola, preciso me defender e o desempenho não será o mesmo”, diz Braga.
Para o avanço do setor, ele defende uma agenda de incentivos setoriais, e não de concessão de benefícios industriais, como foi o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) nos últimos anos. “Sempre tivemos a posição de que o subsídio não era o caminho e agora a nossa visão está sendo ratificada”, diz. Ele explica que o setor de implementos rodoviários depende, única e exclusivamente, do crescimento do Produto Interno Bruto, que é o reflexo direto da ascensão econômica do país. “É como no setor agrícola – que foi o único com resultado positivo para o nosso mercado. O BNDES emprestou dinheiro ao agricultor, que passou a produzir mais e, naturalmente, precisou de mais equipamentos, inclusive implementos rodoviários”, diz ele.
A política de incentivar o consumo nesse mercado, algo explorado principalmente a partir de 2011 pelo governo federal, não teve aspectos positivos, segundo Braga. “Isso só gerou um volume de compras inconsequentes em determinado momento, inflando o mercado e induzindo as indústrias a aumentar sua capacidade de produção para, pouco tempo depois, verem as vendas despencarem, como agora, e terem suas capacidades produtivas ociosas. ‘É voo de galinha’, como costumo dizer”.
Atualmente, a indústria nacional de implementos rodoviários pode produzir mais de 225 mil equipamentos ao ano, mas a expectativa, até este momento, é que a produção não passe dos 85 mil implementos. “Ou seja, estamos com uma capacidade ociosa superior a 60%”, diz Braga.
Como alternativa – até que a questão política seja resolvida e a economia ganhe um novo rumo – o presidente da Anfir sugere ao setor trabalhar nas possibilidades de exportação, principalmente para a América Latina, onde a concorrência é tradicionalmente pequena e o produto brasileiro tem forte representatividade. “Ainda exportamos pouco (cerca de 5% da produção) e precisamos ser ágeis, pois já estamos perdendo alguns negócios para empresas chinesas em operações no Peru, por exemplo”, conclui.