Por Ayman Sayed (*) – 08.06.2016 –
Recentemente, o noticiário internacional tem mostrado que estamos vivendo em um mundo no qual valores democráticos estão sob ataque. Paris, Bamako, San Bernardino, Jacarta e Uagadugu foram atacadas por terroristas. A União Europeia tem sua lealdade a Estados-Nação desafiada: realidades geopolíticas estão conduzindo muitas nações da UE a abrir suas portas aos refugiados, enquanto outras as estão fechando. Tudo isso em um momento em que o mundo se tornou refém das ações sem sentido de entidades que não são nem Estado nem Nação.
Ao mesmo tempo, estamos em meio a uma revolução tecnológica que remodela nossa sociedade. A Internet das Coisas (também conhecida como a “Quarta Revolução Industrial”) permite que as empresas otimizem suas operações de uma maneira inteiramente nova. O uso generalizado de aplicativos de software já lançou novos modelos de negócios poderosos nos quais as estruturas de custo foram completamente reformuladas. A oferta e demanda do excesso estão sendo supridas. Modelos de lucro operacional estão mudando. Seguindo esta dinâmica, modelos de trabalho também se transformarão.
O software tornou-se essencial e transformador, mas também introduziu um vetor de ameaça digital para muitos dos mesmos atores que buscam atacar as democracias no mundo físico. Devemos evitar responder a essa ameaça, fortalecendo fronteiras, rescindindo acesso e limitando os recursos da tecnologia. Mais que isto, devemos abraçar uma postura de segurança, que empodera e dá fundamento ao surgimento do tipo de sociedade que buscamos – uma Sociedade Ágil.
Compreendendo a dinâmica digital da quarta revolução industrial
O que torna essa revolução única é que, agora, o usuário está sentado no banco do motorista – exigindo uma experiência digital de fácil acesso, sempre ligada e em constante aperfeiçoamento. Grandes empresas e, curiosamente até países, reformulam suas propostas de valor para ganhar mind share e market share na era digital.
Podemos tomar como exemplo a Estônia, que foi pioneira na ideia de um país sem fronteiras ao lançar recentemente o primeiro programa “e-residência” do mundo. Com ele, você recebe uma identidade digital emitida pelo governo, um endereço estoniano, e pode criar uma empresa on-line com ‘independência de local’. Pode ainda realizar serviços bancários. Um pequeno país que, através da transformação digital, agora pode contabilizar o mundo inteiro como seu mercado potencial.
Já observamos pilares da indústria, tais como transporte (táxis, agentes de viagens), finanças (e-banking, Bitcoin) e saúde (atendimento por acesso remoto), sendo reescritos em todo o mundo por aplicações de software. Costumava levar décadas para as empresas expandirem seus alcances globais e, agora, na era digital, este processo leva meras semanas, ou mesmo dias.
O verdadeiro poder do exemplo da Estônia é que ela vai além de indústrias individuais para demonstrar que o software pode transformar a maneira como pensamos sobre as fronteiras nas quais temos nos baseado para organizar o nosso mundo durante séculos.
A segurança digital está no coração da “e-residência”. Ela é necessária para garantir um nível de confiança e permitir um modelo de negócios que, sem ela, não seria possível. Serve para proteger dos hackers as cerca de 20 a 30 bilhões de unidades da Internet das Coisas, e também a internet industrial e suas usinas de energia e fábricas conectadas, e nos fazer perceber que o potencial do nosso novo mundo conectado nos obrigará a tomar novas abordagens de segurança.
Segurança para empoderar a Sociedade Ágil
Com a expansão da área de superfície tecnológica no nosso mundo, agora é a hora de dar uma olhada nas ciberfronteiras em construção e testá-las ao extremo para além do Estado-Nação, para um mundo em mudança. Se há uma coisa que as vulnerabilidades como a Heartbleed, os malware como o Conficker e violações como a da Sony Entertainment nos ensinaram, é que os hackers não reconhecem fronteiras e, portanto, a segurança não pode ser uma reflexão tardia. Assim como o software pilota cada vez mais nossos aviões, dirige nossos carros, controla nossa economia e a segurança digital possibilita maior proteção física e de dados, a tecnologia também melhora nossas vidas e impulsiona o crescimento global.
Já que os hackers tem explorado cada vez mais vulnerabilidades nas tecnologias que nos cercam, temos que encarar segurança como um desafio global que exige um novo paradigma. Para o potencial da era digital ser plenamente realizado, precisamos garantir que as fronteiras do mundo estejam abertas e, ao mesmo tempo, protejam indivíduos e instituições dos ataques. Essa proteção será cada vez mais baseada na identidade e no contexto.
Um exemplo emergente é como os bancos estão protegendo seus clientes contra fraudes de cartão. A criação de múltiplas barreiras torna um aplicativo ou serviço pesado para o uso. Em vez disso, o acesso pode ser simplificado e ficar livre de atritos usando gerenciamento de identidade e acesso, autenticação e tecnologias analíticas que automatizam processos de segurança em segundo plano.
À medida que avançamos, precisamos nos conscientizar de que estamos construindo um novo tipo de infraestrutura global em tempo real. Começar com algumas verdades simples pode ajudar. Em primeiro lugar, como uma Sociedade Ágil, temos de começar a enxergar o mundo como um sistema, não como uma coleção de entidades digitais discretas, o que significa que organizações normativas e governos precisam trabalhar juntos.
Em segundo lugar, temos de aceitar que o mundo digital altamente orgânico não pode ser previsto e controlado com precisão, mas deve ser compreendido e obter respostas. Esse mundo é vivo e se movimenta muito rapidamente, o que requer inovação tecnológica inerente em sensores, aprendizagem de máquinas e análise de dados.
Em terceiro lugar, precisamos promover a agilidade em forma de inovação aberta e acreditar que, assim como o desenvolvimento de software, interação é a única maneira de acompanhar o ritmo de mudanças e de evitar falhas catastróficas e em grande escala em sistemas que pensávamos que eram “perfeitos”.
Por trás dos ataques que vem acontecendo aos valores democráticos, a influência democratizante da internet e da Quarta Revolução Industrial marcham livre e corajosamente à frente. Enquanto as fronteiras explícitas dos Estados-Nação estão sendo desafiadas e, em alguns casos, dizimadas ou reduzidas, as fronteiras implícitas do mundo digital estão apenas começando a tomar forma. Temos agora a oportunidade de fazer direito e precisamos do mundo para fazer dar certo.
* Ayman Sayed é diretor da área de Tecnologia de Produtos da CA Technologies.