Governo e telecom são chave para avanço das smart cities 2.0

Por Rodrigo Conceição Santos – 16.06.2016 – Infraestrutura de telecomunicações e abertura de dados pelos governos impulsionam a criação de tecnologias de mobilidade e internet das coisas, que passam a ter papel essencial no cotidiano das cidades. Há um grande range de definições para smart cities, e todas elas passam por infraestrutura tradicional (transporte, saneamento […]

Por Redação

em 16 de Junho de 2016

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Por Rodrigo Conceição Santos – 16.06.2016 –

Infraestrutura de telecomunicações e abertura de dados pelos governos impulsionam a criação de tecnologias de mobilidade e internet das coisas, que passam a ter papel essencial no cotidiano das cidades.

Há um grande range de definições para smart cities, e todas elas passam por infraestrutura tradicional (transporte, saneamento básico, energia, etc.) combinada à TIC (Tecnologia da Informação e Comunicações). Hoje, contudo, se a discussão é modernizar essas duas pontas, a classificação feita por Diego Canales, colaborador em inovação de dados e ferramentas da WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis, é simples: “trata-se da primeira fase de uma cidade inteligente (Smart Cities 1.0)”. Para um próximo passo, como ele avaliou durante palestra na Construction Summit 2016 – realizada em São Paulo e com apoio do InfraROI – é preciso adicionar componentes, numa corrida rumo ao que já se denomina como smart cities 2.0.

“O gerenciamento de dados é o coração desse avanço e isso envolve o uso de dados abertos, padronização de protocolos e uso de softwares abertos para qualquer possibilidade”, diz ele. Nesse aspecto, as pessoas (população) estão no centro do processo e a primeira ação é receber feedbacks delas para começar a criar um ecossistema de uma smart city.

O governo tem a maior responsabilidade nisso, com a função de viabilizar a aplicação de soluções tecnológicas e os investimentos em infraestrutura básica. “O governo também tem a função de gerenciar melhor as tecnologias nas cidades, principalmente no que tange acessos a novas ferramentas de dados, sempre em plataforma aberta”, completa.

Ecossistema das cidades inteligentes
Para Canales, a distribuição de dados por sensores, em tempo real, é o que viabiliza o ecossistema das cidades digitais. Isso, naturalmente, envolve tecnologias de GPS e a infraestrutura de telecomunicações, para propiciar telefonia celular e Wi-Fi. “Implantar fibra óptica é caro e por isso a infraestrutura de telecomunicações tem de ser avaliada caso a caso”, diz ele.

Como exemplo, ele cita um projeto em Kansas, nos EUA, onde o Google se encarregou de instalar redes de fibra óptica por toda a cidade, viabilizando a internet em alta velocidade e o avanço das mais diversas aplicações de internet das coisas (IoT). “Esse é um teste, que até pode se replicar, mas certamente não será regra para todas as cidades do mundo”, diz Canales.

Foto do G1 mostra totem com Wi-Fi em Nova Iorque

Foto do G1 mostra totem com Wi-Fi em Nova Iorque

Em Nova Iorque, outro exemplo dele, estão substituindo telefones públicos (orelhões) por totens equipados com Wi-Fi. “Tudo para possibilitar acesso ilimitado à internet, facilitando que as pessoas utilizem tecnologias de mobilidade”, diz ele.

Canales lembra ainda de um projeto em Portugal, onde os ônibus urbanos foram equipados com Wi-Fi gratuito. A ideia dos gestores públicos é que eles fechem um perímetro de cobertura, funcionando como small cels (pequenas antenas de celular) móveis. “Em países desenvolvidos, essas soluções despontam mais rapidamente porque as redes de telecomunicações estão mais maduras”, diz ele. “Já em países em desenvolvimento, é preciso pensar em soluções mais criativas”, completa.

Essas dificuldades, contudo, não eximem o fato de que até 2050, 70% da população mundial estará concentrada em grandes cidades, e é preciso criar formas inteligentes para o seu cotidiano. “Hoje, 2,5 bilhões de gigabytes de dados são gerados diariamente e 75% disso não está estruturado, o que mostra o universo que pode ser otimizado”, diz.

Mariana Nascimento Collin, coordenadora da plataforma Uraia na UM-Habitat e representante da FMDV no Brasil, complementa que os governos podem tirar proveito dessa administração de dados na gestão de ativos públicos. Ela traz como exemplo o projeto de Valência, na Espanha, que demorou mais de quatro anos para digitalizar todo o sistema burocrático, permitindo que o cidadão resolva as questões relativas à administração pública pela internet. “Só em 2015 a prefeitura economizou cerca de R$ 170 milhões graças a esse projeto de e- government”, diz.

Um exemplo brasileiro, como reportou o InfraROI em março deste ano, é Curitiba. A cidade tem diversas iniciativas de mobilidade urbana e iniciou a operação do primeiro ônibus articulado de propulsão mista (diesel/elétrico) para transporte circular de passageiros. “Por tudo que temos visto nos últimos dias (em relação à operação Lava Jato) e por esses anúncios realizados hoje (na sexta-feira), Curitiba é mesmo uma República”, disse o prefeito Gustavo Fruet (PDT). A ironia, ou a convicção (entenda como quiser) na fala do prefeito, é uma alusão a um dos grampos envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e a presidente afastada Dilma Rousseff, no qual ele diz estar espantado com a “República de Curitiba”.

O ônibus, fornecido pela Volvo Bus, integra um projeto maior de sustentabilidade, firmado entre Curitiba e instituições governamentais da Suécia para um trabalho conjunto na intenção de reduzir a emissão de gases poluentes nos próximos dois anos. O veículo vem com Wi-Fi, numa banda 4G de telefonia celular dedicada, além de ar-condicionado e integração total ao Centro de Controle Operacional da Urbanização de Curitiba (Urbs). De acordo com o prefeito, ele será usado em caráter de teste por seis meses e a operação será em uma linha circular de 41 km de extensão, que transporta 33 mil passageiros diariamente (veja reportagem completa sobre o projeto de Curitiba).