Da Redação – 14/02/2017 –
A queda dos custos dos veículos elétricos e da geração fotovoltaica pode determinar que, a partir de 2020, a demanda global de carvão e petróleo entre em declínio.
Um estudo produzido em parceria entre o Grantham Institute do Imperial College de Londres e a Carbon Tracker Initiative aponta para um cenário oposto ao traçado pela indústria de energia tradicional, baseada na queima de petróleo, carvão e gás natural. Segundo esse relatório, a queda nos custos de produção dos veículos elétricos pode barrar o crescimento da demanda global de óleo e carvão a partir de 2020. Com isto, a popularização desta tecnologia tem o potencial de fazer com que 2 milhões de barris de petróleo por dia (mbd) deixem de ser consumidos por volta de 2025 – o mesmo volume que causou o colapso do preço do óleo em 2014 e 2015.
Ao contrário das projeções da BP Energy, que avalia que os veículos elétricos representarão apenas 6% do mercado em 2035, os defensores desta nova visão acreditam que eles chegarão a um terço da frota de transporte em 2035, correspondendo à metade de todos os automóveis em circulação no planeta em 2040. Estes últimos alegam que a frota global de veículos elétricos cresce a uma taxa de 60% ao ano e já conta com mais de um milhão de unidades. Além disso, os custos das baterias caíram para US$ 268/kWh nos últimos sete anos e, segundo projeções da fabricante de carros elétricos Tesla, chegarão a US$ 100/kWh até 2020.
Os cenários deste estudo assumem que os veículos elétricos serão mais baratos que os convencionais a partir de 2020. O relatório conclui que eles podem ter um quinto do mercado de transporte rodoviário em 2030 e, com o incremento dos carros movidos a hidrogênio e dos modelos híbridos diesel/elétrico, os veículos convencionais ficariam com menos da metade do mercado. Em 2050, os carros elétricos podem totalizar uma frota de 1,7 bilhão (69% do mercado), enquanto os convencionais modelos de combustão interna responderão por apenas 12% do mercado global.
Ao analisar as perspectivas para a energia fotovoltaica, o estudo avalia que ela pode responder por 23% da geração de energia em 2040, chegando a 29% até 2050. Com isto, a tecnologia baseada na queima de carvão mineral estaria praticamente extinta e o gás natural ficaria com uma participação de mercado de apenas 1%. As projeções vão em direção oposta às da ExxonMobil, que prevê que todas as fontes renováveis fornecerão apenas 11% da geração de energia global em 2040.
O custo da energia solar fotovoltaica caiu 85% nos últimos sete anos e o estudo considera que a tecnologia está se tornando “materialmente mais barata do que as opções alternativas de energia globalmente”, com uma expansão agregada de mais de 5.000 GW de capacidade entre 2030 e 2040. Dessa forma, em um cenário de mudança rápida, é muito provável que os ativos relacionados à produção de combustíveis fósseis percam grande parte de seu valor, diferentemente do que esperam as indústrias de óleo, gás natural e carvão mineral.
Por meio de uma análise de cenários, o relatório constata que grandes empresas de energia estão subestimando os avanços das fontes de baixas emissões de carbono. Diante dos esforços para conter o aquecimento global, essas novas tecnologias estão prestes a atingir massa crítica suficiente para dar escala empresarial à nova ordem. Nesse cenário, a desvalorização dos ativos baseados em combustíveis fósseis é bastante provável à medida que se acelera a transição para uma economia baseada em energias com baixa emissão de carbono.