Da Redação – 12.03.2018 –
Interligação das bacias hidrográficas Jaguari-Atibainha custou R$ 555 milhões e deve abastecer 39 milhões de pessoas
A Sabesp oficializou a entrega do que é conhecida como a transposição do Sistema Cantareira, nome forte no imaginário paulista depois da crise hídrica iniciada em 2014. Na prática, a obra interliga as bacias hidrográficas do Cantareira e do Paraíba do Sul, o que significa que é possível transferir água nos dois sentidos, fortalecendo a segurança hídrica da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e do Vale do Paraíba. Com o empreendimento, a da represa Jaguari, que pertence ao Paraíba do Sul, poderá enviar até 8,5 m3/s para a Atibainha (Sistema Cantareira). A vazão máxima, no sentido contrário, será de 12,2 m3/s.
De acordo com a Sabesp, a obra aumenta a disponibilidade de água para cerca de 39 milhões de pessoas para as Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas, cidades da região do Vale do Paraíba e Rio de Janeiro. “Vamos praticamente dobrar a capacidade de reservação de água, de um bilhão para dois bilhões de metros cúbicos. É a terceira maior estação elevatória da Sabesp no estado de São Paulo”, disse o governador Geraldo Alckmin durante a visita ao local.
No serviço que começa a operar agora, a água bruta captada da represa Jaguari, em Igaratá (Vale do Paraíba), percorre um corredor de quase 20 km de adutoras e túnel até chegar à represa de Atibainha, em Nazaré Paulista. Seis bombas de 5.000 CV vão empurrar a água morro acima, fazendo com que ela possa superar a montanha que separa as duas represas, em um desnível de 200 M.C.A.
Obra inclui túnel, adutoras, estações elevatórias e subestação de energia
A escavação foi uma das etapas mais complexas da interligação das bacias hidrográficas do Cantareira e do Paraíba do Sul, principalmente por conta das dimensões do túnel: são 6,4 quilômetros de extensão, cinco metros de altura e quatro metros de largura, totalizando uma seção de 20 metros quadrados, o que permitirá transportar o equivalente ao volume de água de uma piscina olímpica em apenas cinco minutos.
A construção do túnel envolveu dez equipes de trabalho com cerca de 30 homens cada, divididas em três turnos. As equipes tinham que garantir a aplicação dos sistemas de suporte, perfuração, carregamento, detonação, ventilação, limpeza e bate-choco – esta última foi uma etapa de limpeza mais refinada, em que o profissional certifica-se de que as arestas do túnel foram aparadas e a área está segura e pronta para um novo ciclo de detonação.
Diferente das obras do metrô, por exemplo, onde é usado o shield, conhecido como “tatuzão”, as escavações nessa interligação usaram o novo método austríaco de tunelamento (NATM, na sigla em inglês), que emprega sistemas de suporte com concreto projetado associado a outros tipos de apoio, como cambotas metálicas e fibras de polipropileno no concreto, entre outras, realizando uma escavação sequencial, de acordo com a capacidade de cada tipo de maciço, e quatro equipamentos de perfuração de rocha sã, denominados “jumbos”, foram mobilizados.
O processo de escavação do túnel contou com mais de 160 profissionais, entre engenheiros, geólogos, marteleteiros, encarregados de frente, motoristas, eletricistas, técnicos de meio ambiente, de qualidade e de segurança. São três turnos de trabalho de oito horas cada, abrangendo 24 horas de serviço. Ao todo, a interligação Jaguari-Atibainha empregou 5,3 mil profissionais diretos e indiretos. Além do túnel, houve o assentamento de 13,2 quilômetros de adutoras, a construção de uma estação elevatória de água bruta e uma subestação de energia elétrica.
Na estação elevatória de água bruta, de forma inédita, foram realizadas fundações em tubulões de aço com 4,2 m de diâmetro, em profundidades de 40 metros, com guindastes de 220 toneladas de capacidade sob balsas de aço.
Túnel auxiliar acelerou a obra e permitiu avanço nos dois sentidos
Os recursos de engenharia foram fundamentais para o consórcio construtor BCP, formado pela Engeform, Serveng/Civilsan e PB Construções. O melhor exemplo disso foi a construção de um túnel auxiliar, chamado de “túnel janela”, na metade do percurso a ser vencido para construir a tubulação com quatro frentes de trabalho, em vez de duas. Assim, cada metade do túnel começou a ser construída pelas pontas e pelo meio, simultaneamente, desde 2016, quando o projeto foi iniciado.
Para Reynaldo Abucham, engenheiro e um dos sócios fundadores da Engeform, a interligação Jaguari-Atibainha demonstra o alto grau de profissionalismo e experiência das equipes envolvidas. “Este é mais um grande exemplo da excelência naquilo que fazemos ao longo de mais de 40 anos de atuação no mercado, vencendo obstáculos aparentemente intransponíveis com muita tecnologia e inovação. Uma representação clara do nosso propósito: tudo que merece ser feito, merece ser bem feito”, ressalta.