Por Ricardo Bonora (*) – 27.08.2018 –
Áreas como transporte público e saúde também serão diretamente impactados pelos benefícios por também contarem com uma infinidade de dispositivos interconectados
As discussões sobre o avanço das redes de telecomunicações rumo ao chamado “5G” têm levantado discussões em diversos locais pelo mundo – inclusive no Brasil. Recentemente, a Aneel aprovou o lançamento de uma consulta pública sobre o assunto, com o objetivo de preparar a chegada do serviço no País.
Mesmo sendo um assunto com presença constante no noticiário, poucos entendem, de fato, quais são as reais consequências do avanço da rede 5G em todo o mundo. A implantação dessa tecnologia vai trazer resultados muito mais expressivos do que os observados em etapas anteriores, possibilitando a geração de novos modelos de negócio e, em último grau, vai mudar totalmente a relação com a vida em sociedade.
Mas, até chegar nesse estágio, é fundamental entender o que é o 5G e por que seu avanço é tão importante. Para assimilar isso, é preciso voltar no tempo e lembrar como o 2G, 3G e o 4G representaram enquanto avanços tecnológicos de grande impacto, principalmente relacionados aos smartphones. A segunda geração de celulares trouxe como grande diferencial o uso de SMS e envio de e-mails sem precisar usar um computador.
Com o 3G, foi possível pela primeira vez enviar fotos e vídeos para outros aparelhos – saindo da era do texto como única forma de se comunicar entre celulares. Em seguida, o 4G (que chegou por volta de 2010 e se mantém até hoje) possibilitou um ganho substancial em velocidade, permitindo baixar conteúdo, realizar transmissões online e fazer grande parte das tarefas com as quais estamos acostumados – como ouvir música, assistir séries etc.
Transporte público, saúde e segurança estão entre os setores também beneficiados
Nesse sentido, o 5G, cuja chegada está prevista para 2020, vai trazer um ganho substancial de velocidade. Em números, essa nova forma de conexão será cerca de 20 vezes mais rápida do que o 4G. Com isso será possível agilizar muitas tarefas de nosso cotidiano – bastarão segundos para baixar filmes, por exemplo.
Mesmo oferecendo tantas facilidades ao dia a dia, vale ressaltar que a principal vantagem que o 5G trará ao mercado estará na possibilidade de criar novos segmentos de negócios e fomentar uma sociedade cada vez mais conectada. Essa nova geração vai abraçar uma rede cada vez mais ampla de conexões e, por isso, ela já fomenta o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, como carros autônomos, drones usados para serviços de entrega e o uso de realidade virtual.
Áreas não estritamente relacionadas com o mundo da telefonia ou de alta tecnologia, como transporte público e saúde, também serão diretamente impactados pelos benefícios do 5G, por também contarem com uma infinidade de dispositivos interconectados.
E afinal, como isso será possível? Falando de maneira técnica, a ITU (International Telecommunication Union, agência da ONU para as telecomunicações), indica como especificações mínimas o download de 20 Gigabits por segundo e o upload de 10 Gigabits. A banda será então dividida entre todos os usuários conectados no momento: a meta de download por usuário em áreas urbanas densamente povoadas é de 100 Mbps em download e 50 em upload. Em um contexto urbano, a velocidade real do 4G não chega nem perto, com uma média de 5-12 Mbps no download e 2-5 Mbps no upload.
Implantação técnica da rede exige inovações e integrações com infraestrutura atual
Na prática, as redes 5G foram projetadas para usar ondas de alta frequência (no espectro entre 30 e 300 GHz, conhecidas como espectro de “ondas milimétricas”), e podem ser capazes de transportar grandes quantidades de dados em altas velocidades. No entanto, elas não viajarão para tão longe como as ondas de baixa frequência usadas com o 4G, e terão dificuldade em contornar obstáculos como paredes, edifícios etc. Por esta razão, as operadoras precisarão instalar uma quantidade maior de mini antenas para obter a mesma cobertura que o 4G. Em muitos casos, o 5G substituirá as redes domésticas de Wi-Fi, oferecendo velocidades mais altas e uma melhor cobertura.
Graças às suas características técnicas, o 5G será aplicável aos campos mais distintos, indo além das funções de chamada, navegação na web ou realidade virtual; será relacionado ao mundo da IoT e, consequentemente, atraindo o interesse de muitas empresas. Será um impacto não apenas tecnológico, mas também e sobretudo econômico, tanto que se espera, segundo um estudo da Ericsson no Mobile World Congress 2017, criar um mercado de, pelo menos, 1200 bilhões de dólares nos próximos dez anos.
Com isso, consequentemente teremos redes mais densas. Espera-se que as redes também possam garantir até um milhão de dispositivos conectados por quilômetro quadrado. As novas tecnologias poderão criar até 3 milhões de novos empregos apenas nos Estados Unidos, contribuindo com até US$ 500 bilhões no PIB dos EUA entre investimentos diretos e induzidos.
Analisando essa inovação sob um espectro de longo prazo, será possível formar uma sociedade cada vez mais empática e criativa, na qual a tecnologia será mais um importante instrumento para a democratização do acesso à educação e saúde de qualidade. Com conexões mais rápidas, confiáveis e seguras, o 5G dará mais agilidade à prestação de serviços e poderá contornar dificuldades relacionadas a processos burocráticos ou morosos, que muitas vezes encarecem e podem diminuir a qualidade do serviço final oferecido.
Ao facilitar a conexão entre as mais diversas informações, o dia a dia das empresas ganhará ainda mais agilidade, em um ritmo que poderá ser reproduzido de maneira eficiente para os demais segmentos da sociedade. O setor de saúde, por exemplo, poderá se beneficiar de maneira mais rápida na troca de informações sobre seus pacientes – o que será fundamental para atender casos de urgência, por exemplo. O consumidor também poderá ser beneficiado, em especial se sua rede varejista puder disponibilizar produtos de ponta e de qualidade na renovação de seus estoques.
Por fim, a agilidade do 5G vai representar uma alternativa muito importante em um mundo cada vez mais conectado, gerando mudanças em cadeia e que darão suporte aos avanços já obtidos, além de abrir caminho para a implementação de avanços em pesquisa e desenvolvimento.
Ricardo Bonora é head de Telecom e Mídia da Indra no Brasil