Por Nelson Valêncio (*) – 01.11.2018 –
Evento nos Estados Unidos mapeia os desafios que os provedores de serviços de telecomunicações já enfrentam com a ativação da Internet das Coisas, que ganha força com a chegada do 5G
A esperada quinta geração (5G) de telefonia móvel pode ser medida a partir de oito parâmetros de desempenho segundo avaliação da fabricante sueca Ericsson. Vamos pegar três como referência: a disponibilidade e confiabilidade serão de 99,999%, ou seja, a rede sempre vai estar operacional para uso, a latência será de 1 milissegundo, o que reduz consideravelmente o conceito de atrasos, e as baterias de alguns dispositivos de Internet das Coisas (IoT) deverão durar pelo menos uma década. Com uma infraestrutura física tão precisa, é claro que projetos como o de carro autônomo ficam muito mais viáveis, pois é o veículo que vai pisar no freio por nós no tempo de resposta de milissegundos.
Bom, nem é preciso dizer o quanto as redes de 5G devem impulsionar os negócios – embora o custo delas seja uma preocupação considerável para as operadoras. Segundo a mesma Ericsson, 90% das operadoras estão focando sua rede 5G em aplicações para consumidores finais e 46% também miram nos corporativos. Somente nos Estados Unidos, os investimentos no 5G devem somar US$ 1,2 trilhão em 2035. Na mesma data, a cadeia de valor vai gerar US$ 3,5 trilhões. Parte desse esforço virá da IoT, que vão de aplicações de monitoramento e controle remotos de usinas eólicas, na área de energia, a internet de acesso rápido em transporte publico. Ou seja, milhares e milhares de dispositivos ligados na rede. E com baterias que não precisam ser trocadas durante um longo tempo.
Imagine que cada dispositivo desse pode ser uma porta de entrada para fraudes. Agora, sim, você sabe o medo que permeia os especialistas em gestão de risco das operadoras. Na semana passada, estivemos no WeDo Technologies User Group Americas, nos Estados Unidos, ouvindo as dores e as soluções de alguns desses profissionais. E todos eles cravaram a IoT como uma ameaça de fato. Eles já enfrentam o problema no dia a dia com as assinaturas comuns de serviços de voz e dados e estamos falando em pessoas como nós. A nova fronteira é ainda mais volumosa e tem fraturas que podem levar a novos tipos de fraudes.
Perdas de receitas com fraudes e erros oscila entre 3% e 5% da receita
O crescimento da IoT e de outras soluções de comunicação máquina a máquina (M2M) poderá mudar o cenário de perdas anuais das operadoras com a mistura de fraudes e imprecisões e erros. Hoje, a média mundial oscila entre 3% e 5% da receita anual. Não é de se espantar que as empresas de telecomunicações mais maduras tenham criado áreas de business assurance ou garantia de negócios. O termo se refere à combinação do combate às perdas de receita, por erros e imprecisões do sistema, e por fraudes, que são intencionais e vão crescer muito com a ativação acelerada da IoT.
Vamos de novo ao cenário das operadoras norte-americanas, usando ainda os dados de Hani Beshara, especialista da Ericsson, que participou da conferência. Segundo ele, no segundo trimestre desse ano a AT&T, que tem 174 milhões de assinantes, computava 45 milhões de dispositivos de IoT conectados à sua infraestrutura. E um crescimento médio anual de 29% nos serviços de M2M. A Verizon, por sua vez, tinha 30 milhões de dispositivos ativados, com um crescimento anual de M2M na casa dos 20% (ela tem ainda 150 milhões de assinantes).
Ecossistema de IoT é grande, mas operadoras é que correm o risco de comprometer a marca
A T-Mobile, mais desacelerada, mostra um incremento anual de 1% no M2M, tem 8 milhões de dispositivos conectados e 76 milhões de assinantes. A Sprint fecha o grupo das quatro grandes, com 54 milhões de assinantes e 14 milhões de dispositivos ativados e não fala em crescimento de M2M, pois seu modelo é de venda como soluções de negócios. O que se deduz disso? Que o IoT já é uma realidade mesmo antes da entrada oficial da 5G, que vai funcionar como uma highway para inúmeras aplicações M2M. Lembra-se dos números acima?
Do lado de quem acompanha o processo atenta, a WeDo desfruta da experiência de estar em 220 clientes em 110 países. Só em gerenciamento de fraudes, ela aumentou sua base em mais de 13% de outubro de 2017 até agora, com um incremento de 139% no número de pedidos. Na América do Norte, de acordo com a companhia, o crescimento é de dois dígitos, incluindo a expansão para operadoras de TV por assinatura, além do mercado tradicional de telcos. Tecnologias disruptivas, caso do IoT, devem ser os desafios para o setor, de acordo com a empresa portuguesa.
Carlos Marques, chefe de Markerting de Produtos da WeDo, ressalta que, apesar de a cadeia de valor da IoT envolver vários participantes, o que está em risco é a marca dos provedores de serviços de telecomunicações (CSP). Para enfrentar o novo cenário, ele lembra que a empresa tem parceiros estratégicos como a já citada Ericsson e a Amazon Web Services (AWS), plataforma de serviços na nuvem da gigante da internet. “A Ericsson incorporou nossa experiência de gerenciamento automático de riscos às suas plataformas, enquanto a WAS reforça a parceria ganha-ganha para a IoT, que é uma cadeia de parceiros fragmentada”, explica.
Marques adianta que o papel da WeDo é desenvolver garantias personalizadas para cobrir a cadeira de IoT, de operadoras a parceiros da AWS. Embora o 5G ainda não tenha uma consolidação para aplicação de machine learning, o que vai facilitar o combate às fraudes e perdas de receita, o aprendizado de 4G vai ajudar na transição para o novo cenário, pois existem regras para prevenir e identificar ameaças. “Prevenir e detectar ficam mais complicados com o 5G, mas não estamos partindo do zero”, finaliza.
(*) Nelson Valêncio, editor do InfraROI, viajou aos Estados Unidos a convite da WeDo Technologies.