Por que infraestrutura não se comunica bem?

Nelson Valêncio – 03.12.2019 – Na semana passada, durante o lançamento do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos, um dos destaques foi a apresentação do Secretário de Fomento e Apoio a Parcerias de Entes Federativos do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). Não apenas pelas informações que sinalizam o status atual dos projetos de […]

Por Redação

em 3 de Dezembro de 2019

Nelson Valêncio – 03.12.2019 – Na semana passada, durante o lançamento do Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos, um dos destaques foi a apresentação do Secretário de Fomento e Apoio a Parcerias de Entes Federativos do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). Não apenas pelas informações que sinalizam o status atual dos projetos de concessão e privatizações, mas também pelo qualidade de comunicador de Wesley Callegari Cardia. Era a última apresentação da noite e o público de cerca de 400 pessoas estava visivelmente cansado.

Mesmo com boas informações na manga, Cardia poderia ter sido mais um, porém a forma que apresentou os dados – sem se ater a detalhes, mas passando um quadro geral de como o PPI tem avançado – fez a diferença. Daí fiquei pensando na importância de comunicar bem o que está sendo feito. Não estou falando de marketing e sim de comunicação, de saber editar os dados, empacotar a informação de forma clara e rápida. O detalhamento pode acontece, mas é uma segunda etapa. A  questão principal é mostrar o bosque.

Não é o que acontece na obra que vivencio quase que diariamente em Campinas, a implantação do corredor de ônibus no modelo BRT. Trata-se de um empreendimento importante, cuja liberação foi amarrada ainda no governo Dilma. São mais de 400 milhões em investimentos e, sem dúvida, uma obra que vai impactar a mobilidade urbana da cidade. Já vi reportagens regionais, mas não vi nada de ação de comunicação no entorno dos canteiros. Nada significativo além das sinalizações obrigatórias das empreiteiras avisando dos desvios e coisas similares.

Lembrei de uma entrevista do passado quando conversei com um especialista em bilhetagem de telecomunicações. O que ficou da conversa de mais de 15 anos é que a conta que recebemos todo mês – seja da operadora ou da concessionária de energia – é tremendamente mal usada. O que seria um excelente meio de comunicação, detalhando ações, evangelizando o público, nada mais é do que um pesadelo. Temos medo das contas impressas ou eletrônicas. Ela não nos informa. E poderia fazê-lo, explicando, por exemplo, nosso padrão de consumo de energia e como podemos usa-lo a nosso favor.

Em Campinas, na obra do BRT, não há o engajamento da população. Tudo é ruído, não se sabe exatamente o que é a obra, por que é importante, quando vai acabar etc. Na apresentação do secretário do PPI em São Paulo houve uma comunicação fantástica ao considerar o volume de empreendimentos que ele abordou em 30 e poucos minutos. E como deu o recado. Quando falta a comunicação, a sensação que tenho é a mesma de usar o trem da CPTM que faz a interligação entre o aeroporto de Guarulhos e a capital paulista: falta um pedaço.

Explico: a estação do aeroporto não termina efetivamente no aeroporto. É preciso pegar um ônibus para sair dos terminais e pegar o trem. Uma coisa impensável quando se compara com Londres, Nova York ou Lisboa para ficar em três exemplos de integração inteligente. Falta o tramo final, falta comunicação. Falta um porquê. E, nessa ausência, de explicação, fica patente como a comunicação é um negócio importante, inclusive em infraestrutura.