Eduardo Pires (*) – 04.08.2020 –
No Brasil, o transporte rodoviário é, em muitos casos, o único meio acessível financeiramente para passageiros realizarem viagens, sejam elas a trabalho ou lazer. Justamente por isso, em meados de março, quando foram sentidos os primeiros impactos econômicos causados pela crise da COVID-19, a ANATRIP (Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros) alertou que o eventual colapso do setor poderia afetar cerca de 80 milhões de clientes.
No entanto, assim como outros setores ligados ao turismo, o transporte rodoviário de passageiros deve retomar aos patamares normais nos próximos meses. A retomada deve ser puxada por viagens interestaduais, já que com a reabertura as pessoas tendem a compensar o período de isolamento com visitas a familiares e amigos, assim como em curtas viagens de lazer. Mas, após a normalização das atividades econômicas, o perfil do cliente será outro e as empresas que não se adequarem às novas tendências estarão mais distantes da tão desejada recuperação.
Um exemplo prático dessa mudança de perfil está na compra de passagens de ônibus online, as quais tiveram aumento de 30% nos últimos meses, segundo dados da Clickbus, plataforma online de venda de passagens. Devido à necessidade de distanciamento social, os clientes que antes priorizavam a aquisição dos bilhetes nos pontos físicos de venda passaram a utilizar meios digitais. E esse movimento de migração para o ambiente digital tende a crescer cada vez mais.
Já está claro que as mudanças provocadas pela pandemia vão além do simples uso de máscaras ou da higienização de áreas comuns. Elas abrangem, também, a operação e gestão dos negócios de forma cada vez mais digital. Por exemplo, como garantir o distanciamento mínimo e intercalar poltronas de forma assertiva, sem superlotar o veículo? A única resposta possível é: tecnologia. A tecnologia estará muito presente nas agendas das empresas que quiserem se adaptar ao novo mercado e sobreviver a ele.
No caso específico das vendas de passagens online, o uso de um software de gestão empresarial (ERP) integrado aos canais de venda permite que as empresas tenham controle em tempo real dos valores arrecadados por agentes terceiros, ajudando a reduzir divergências em cálculos. E, além de auxiliar na gestão interna das companhias, a tecnologia permite identificar tendências e oferecer serviços diferenciados para os clientes, aumentando assim as oportunidades de vendas nesse cenário ainda incerto.
Fato é que a tecnologia pode estar presente em todos os processos do transporte de passageiros, desde a gestão remota dos motoristas até o uso de CRM (Customer Relationship Management) para vender mais e com maior taxa de fidelização dos clientes. As companhias que conseguirem aproveitar esse período para rever os processos e implementarem novas soluções tecnológicas, estarão mais preparadas para aproveitarem as oportunidades de retomada.
Vale refletir sobre o seguinte: por mais que a crise causada pela pandemia de COVID-19 tenha trazido impactos negativos reais ao setor de transporte rodoviário, é preciso aprender a lição e colocar as mudanças necessárias em prática desde já, para que a retomada seja ainda mais efetiva e num período menor do que o esperado.
(*) Eduardo Pires, diretor do segmento de serviços da Totvs.