Redação com CAF – 30.09.2020 –
Levantamento mostra o potencial de crescimento dessas startups no país e como elas estão colaborando para melhorar os serviços públicos. Falta de fundos de investimento para início dos negócios ainda é o maior gargalo do setor, junto com desafios regulatórios.
O CAF – banco de desenvolvimento da América Latina, em parceria com o BrasilLAB, primeiro hub de inovação Govtech do país, elaborou o relatório As Startups GovTech e o Futuro do Governo no Brasil, lançado no dia 25 de setembro. O levantamento traz uma radiografia do ecossistema GovTech no Brasil, abordando temas como distribuição regional, perfil das empresas, focos de atuação, maturidade, modelos de negócios, bem como desafios e oportunidades para um maior estímulo à adoção de soluções tecnológicas desenvolvidas por startups pelos governos.
Segundo o estudo, existem hoje 80 startups GovTechs consideradas como mais relevantes, ou seja, aquelas que vendem de maneira consistente para governos ou atuam em parcerias com o setor público de forma recorrente. O relatório aponta que esse é ainda um mercado subaproveitado, uma vez que do total das 12 mil startups existentes hoje no Brasil, 1.500 startups teriam perfil para se tornarem Govtechs, atuando no mercado Business to Government (B2G), caso desejassem ofertar suas soluções tecnológicas para governos.
Investimentos
A pesquisa aponta os principais gargalos para o fortalecimento do ecossistema GovTech. Dentre eles, o financiamento ocupa lugar de destaque: não há um único fundo de investimento para apoiar a atuação de GovTechs, seja ele privado ou até mesmo público, a despeito dos investimentos recordes em startups nos últimos anos em outros segmentos. Essa baixa propensão dos investidores traz resultados concretos: 90% das startups que atuam com o setor público iniciaram sua operação com recursos próprios do sócio fundador. Além disso, os valores de investimentos para início da operação podem ser considerados modestos, já que dentre as 135 startups entrevistadas para o estudo, 38% delas começaram com uma verba de R$ 100 a R$ 200 mil.
“Somente o Governo Federal empenhou, ao longo de 2018, mais de R$ 4,4 bilhões em gastos com tecnologia de informação, incluindo equipamentos e serviços. Além disso, há estimativas de que o mercado GovTech possa representar $1 trilhão de dólares até 2025 no mundo todo. Precisamos avançar no entendimento entre empreendedores e também investidores, afinal estamos falando de um mercado de alto potencial de retorno econômico, além do evidente impacto social dessas empresas”, explica Guilherme Dominguez, co-fundador do BrasilLAB e responsável pela elaboração do estudo.
Foco de atuação e modelo de negócios
A maior parte das GovTechs brasileiras têm como foco de atuação três temáticas: gestão (28%), educação (17%) e saúde (11%). Mas a pesquisa também evidencia que o foco de atuação é tão diverso quanto a complexidade dos problemas enfrentados pelo setor público, por exemplo, segurança (correspondendo a 8% do total de startups) mobilidade (7%) meio ambiente (7%), saneamento (2%) e habitação (4%). Outras atuações representam 16%.
Além disso, também foi possível constatar os principais modelos de negócios dessas Govtechs. A maior parte delas está focada na oferta de Softwares como Serviços (SaaS), correspondendo a 53% do total de startups pesquisadas. As focadas em mercado representam 7%, comércio eletrônico e vendas de dados representam 6%, assim como hardware, consumidor e licença que são apenas 2% respectivamente. Outros modelos de negócios correspondem a 22% das startups.
Maturidade
O relatório também traz destaques sobre a maturidade das Govtechs brasileiras. A maturidade corresponde ao nível de desenvolvimento da empresa e, em geral, é dividida em quatro fases progressivas: ideação, quando há a concepção da proposta de valor; operação, correspondendo à implementação; tração, que ocorre quando a empresa experimenta um crescimento e, por fim, escala (ou scale-up), quando o processo de crescimento se dá de maneira sustentada.
A boa notícia é que a maior parte das GovTechs brasileiras se encontra nas duas fases mais avançadas de desenvolvimento do negócio: tração (32%) e operação (27%). Há um número menor de startups nos dois extremos do desenvolvimento, já que 13% estão na etapa de ideação e 11% em escala (scale-up), enquanto 17% não informaram em qual estágio se encontram.
Por fim, a pesquisa também destaca o papel das aceleradoras de startups como atores fundamentais para apoiar o desenvolvimento de soluções GovTechs e também promover a conexão entre o ecossistema empreendedor e o setor público. Nesse quesito, o Brasil também precisa avançar. Embora haja muitas aceleradoras dedicadas a fortalecer iniciativas de impacto social, o BrazilLAB é a única organização do país dedicada à agenda GovTech.
“A atuação com o setor público tem muitos desafios e oportunidades. É fundamental que exista um ator externo mediando a relação entre esses empreendedores e governos, reduzindo fricções, incentivando a inovação e, sobretudo, disseminando os resultados positivos que reforçam o quanto a parceria público-privada pode trazer resultados efetivos para o setor público”, afirma Carlos Santiso, do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).