Aurélie dos Santos* – 16.12.2021 – Mobilidade urbana e sustentabilidade andam juntas e cidades precisam entender isso
Em novembro, mais de 200 países se reuniram em Glasgow para um dos eventos sobre sustentabilidade mais importantes do mundo, a COP26. Juntos, discutiram planos de reduzir os impactos das mudanças climáticas, com destaque para o corte de emissões, até 2030. A agenda da COP se propôs a limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2100 e evitar uma catástrofe climática. A mobilidade urbana terá um papel importante neste contexto.
De acordo com estudo divulgado pelo consórcio internacional de cientistas Global Carbon Project durante o evento, a retomada econômica voltou a se basear nos combustíveis fósseis. As emissões provocadas pelo uso do petróleo devem aumentar 4,4% em 2021.
No entanto, todo este processo precisa ter o seu ritmo desacelerado, como se confirmou nos compromissos assumidos pelas nações ao final da cúpula global do clima: Tomar as medidas alinhadas ao teto de aquecimento global, o que implica reduzir as emissões de gases em 45% até 2030.
Voltando os olhares para os estados e cidades, constatamos que, para atingir a meta almejada, é necessário aderir às iniciativas que possam, em seu todo, contribuir para o compromisso mundial de preservação do meio ambiente. A discussão do uso de combustíveis limpos e renováveis no transporte, tanto coletivo quanto particular, para a descarbonização do sistema, é um ponto central nesta agenda. Desta forma, tecnologias inteligentes ajudam a iniciar esta transformação.
Nas últimas décadas, muitas iniciativas têm surgido com o propósito de impactar positivamente a mobilidade urbana, relacionando os benefícios da qualidade de vida dos cidadãos à preservação do meio ambiente. Entre elas, estão as de startups que nasceram com o ideal de conectar pessoas e promover o deslocamento urbano de maneira coletiva e a baixo custo, em vez de priorizar o transporte individual.
Além de ajudar a descongestionar as vias em horários de pico, favorecendo a mobilidade, elas contribuem para tornar o ar menos poluído pela quantidade de carros que deixam de circular nas cidades.
Isso é possível graças à tecnologia fornecedora de dados cruciais para o planejamento urbano no aspecto de intermodalidade. Um bom exemplo é a integração entre metrô e bicicleta compartilhada. Aplicativos como a Quicko ajuda os usuários a trocar os modais de forma prática e eficiente.
Essas tecnologias, por meio dos algoritmos, dados em tempo real e históricos, informam ao usuário qual é o trajeto mais rápido ou mais barato. Tais plataformas permitem antecipar o trajeto com parâmetros diversos de escolha, como rapidez e conforto.
Cidades de 15 minutos
Outra visão inovadora no sentido de trazer mais sustentabilidade urbana por meio da mobilidade é o conceito de “cidades de 15 minutos”, criado pelo urbanista Carlos Moreno, professor da Universidade de Sorbonne, na França.
A ideia é garantir que as pessoas dentro de um perímetro tenham acesso a todos os equipamentos, serviços e necessidades – ou até mesmo ao local de trabalho – , deslocando-se a pé em até um quarto de hora.
A ideia foi abraçada pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo. A espinha dorsal do plano de Anne é a implantação em larga escala de ciclovias em todas as ruas de Paris, algo que já vem sendo feito durante o seu mandato. Além das ruas 100% amigáveis à bicicleta, o plano também prevê a remoção de espaços para carros, como vagas na rua e faixas de rodagem, para a ampliação de calçadas para pedestres.
A proposta também inclui tornar as principais vias da capital da França inacessíveis aos carros, transformando avenidas e rotatórias em praças para pedestres, como foi feito com a região da Times Square, em Nova York. Quem sabe este modelo poderia ser adotado em cidades brasileiras, a partir de um planejamento baseado na melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida?
Apesar das dificuldades das nações para encontrar um equilíbrio entre crescimento econômico e preservação ambiental, temos uma boa sinalização: na década de 2010, as economias de 23 países cresceram, mas suas emissões diminuíram. A maioria desses países eram desenvolvidos, o que significa que as iniciativas influenciaram a queda da geração de gases de efeito estufa.
Vale ressaltar que, ao final da COP26, China, Índia, EUA e União Europeia se comprometeram a eliminar progressivamente os combustíveis fósseis, o que abre espaço para uma mobilidade urbana mais sustentável, em prol das futuras gerações.
Agora resta a cada um de nós, como cidadãos e empresas de tecnologia, estar lado a lado em prol do meio ambiente e acompanhar cada etapa para que nosso compromisso traçado aqui, se cumpra até 2030. É cada um fazendo sua parte!
*Aurélie dos Santos é gerente de Smart Cities da green4T.