A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revisou de 1,3% para 2,3% a sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do setor da construção para 2024, índice acima das previsões para o PIB brasileiro. O otimismo tem como motivações principais as boas perspectivas de compras e lançamentos, além da projeção da melhoria da economia brasileira. Mas a escassez de mão de obra no setor pode se tornar um entrave para o crescimento da construção civil.
Apesar de a área responder por 6,24% do total de trabalhadores com carteira assinada no País, foi responsável por 14,62% do total dos novos empregos formais gerados nos primeiros cinco meses deste ano, conforme apontam dados do Novo Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Entretanto, as sondagens empresariais realizadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontaram que menções a escassez de mão de obra qualificada como limitante aos negócios passaram de 25,4% em maio para 28,7% em junho, assumindo o primeiro lugar entre os entraves citados. É também o maior valor para junho desde 2014 (31,6%).
O problema tem sido cada vez mais observado pelos empresários da construção civil, diz Luis Claudio Monteiro, COO da empresa brasileira de engenharia SH, uma vez que com as altas expectativas de melhorias e ganhos esperados, estima-se que as construtoras não tenham trabalhadores suficientes para concluir os projetos.
Razões para a escassez de mão de obra
Um dos principais fatores que contribuem para a questão é o já citado envelhecimento da população que atua neste setor. Muitos colaboradores possuem idade avançada e se aproximam da aposentadoria, enquanto a juventude se vê atraída por outras áreas que oferecem melhores condições laborais e financeiras. Além disso, a carência de programas de formação técnica e profissional que englobem as especificidades da construção civil perpetua essa lacuna, tornando difícil a inserção de novos trabalhadores qualificados.
O risco de acidentes também pode ser considerado um fator que afasta os mais jovens de se interessarem pelo setor. O baixo índice de inovação é outro ponto de atenção, que reafirma também a necessidade da industrialização da construção civil, facilitando processos e tornando-os mais escaláveis.
Uma outra causa é a desvalorização da mão de obra existente, que muitas vezes não possui incentivos salariais e reconhecimento de habilidades que podem motivar os trabalhadores que já atuam na área a permanecer e aprimorar suas competências.
Soluções a curto e médio prazo
Monteiro diz que um bom ambiente de trabalho faz diferença em qualquer setor e destaca a importância de acompanhar de perto os profissionais e entender suas demandas e necessidades. “A criação de campanhas de incentivo pode ser uma boa forma de começar. Colaboradores felizes se tornam promotores da marca, que podem inclusive recomendar vagas para conhecidos”, destaca o executivo.
Enquanto não se acha profissionais para contratar, empresas vão apostando na inovação. A SH criou o Lumiform SH, solução que oferece uma redução significativa no tempo de execução de projetos e permite um aumento de produtividade de 40% em média, diminuindo a dependência por profissionais para entregar a obra a tempo. O produto é composto por painéis de aço e alumínio, duráveis e leves, e tem foco nas paredes de concreto.
Formação de novos profissionais
A promoção de cursos técnicos voltados para a construção civil, com parcerias entre instituições de ensino e empresas do setor, pode contribuir para a formação de uma nova geração de trabalhadores. Além disso, ações que melhorem as condições de trabalho, como a adoção de jornadas flexíveis e benefícios adicionais, podem tornar a profissão mais atrativa.
Considerando o cenário atual, a escassez de mão de obra na construção civil é um problema que exige atenção imediata, como destaca o COO da SH. Monteiro diz que a implementação de políticas públicas e privadas que promovam a formação e a valorização dos colaboradores poderá contribuir de forma significativa para a resolução dessa questão. Planos futuros devem priorizar a criação de um ambiente de trabalho mais inclusivo e atrativo, o que pode, a longo prazo, resultar em uma recuperação e crescimento do setor.
Para que esse futuro desejado se concretize, é necessário o comprometimento de todos os envolvidos como governos, instituições educacionais e empresas, na busca de soluções estruturais para um problema que afeta não apenas a construção civil, mas o desenvolvimento socioeconômico de todo o país.