“IA chegou para que não sejamos robôs, e não o contrário”

Em entrevista durante o Construsummit 2024, executivo do CVCRM - do sistema Sienge - avaliou o avanço da inteligência artificial na construção civil

Por Rodrigo Conceição Santos

em 5 de Setembro de 2024

Em realização nesta semana em Florianópolis, a Construsummit 2024 reúne cerca de 2 mil pessoas para discutir o cenário, gestão e tecnologias da construção imobiliária no Brasil. A realização é da incorporadora Softplan – que organizou o sistema Sienge, reunindo uma série de negócios próprios buscando abarcar todas as etapas da construção imobiliária.

Fábio Garcez, diretor executivo, comanda uma das frentes do sistema Sienge, o CV CRM, plataforma que fundou e que hoje responde pelas fases de vendas do grupo.  “Somos uma plataforma software as a service (SaaS), que cobre toda a jornada da venda imobiliária, desde a pré-venda até o pós-venda”, detalhou. 

Nesta entrevista, ele conta como a digitalização – e mais especificamente a inteligência artificial – tem apoiado as operações do CV CRM, que ultrapassam a casa dos R$ 5 bilhões mensais. Acompanhe.

A digitalização da construção civil é um processo que já vem acontecendo há algum tempo. Na última década, o BIM foi o destaque. Na anterior, foi o palmtop e o push-to-talk, além do início dos smartphones. E agora: a inteligência artificial vai  tomar a dianteira?

De fato, o BIM marcou uma era na construção civil, mas agora a inteligência artificial está ganhando força, principalmente após o surgimento da OpenAI, que popularizou o uso da IA de forma acessível com o GPT. A inteligência artificial tem o potencial de aumentar nossa produtividade, ajudando a interpretar grandes volumes de dados e automatizar tarefas repetitivas. Ela não substitui as pessoas, mas complementa o trabalho humano, permitindo que sejamos mais produtivos. Em outras palavras, a IA não veio para que os robôs nos substituam. Ela veio para que a gente não se transforme em robôs. 

E como está o uso de IA na construção civil?

A IA está transformando o mundo ao nos tornar mais produtivos. Ela não substitui as pessoas, mas nos ajuda a evitar tarefas repetitivas. A quantidade de investimentos em IA é enorme, trilhões de dólares, e os resultados ainda estão surgindo. No setor da construção civil, como empresa de software e tecnologia, temos que liderar essa transformação para nossos clientes. Um exemplo é o CVMagic, que lançamos recentemente. Ele permite que gestores imobiliários obtenham dados e sugestões de melhorias de forma automatizada, utilizando IA por trás, incluindo o ChatGPT.

Recentemente, o Chris Anderson, autor de “A Cauda Longa”, mencionou o uso avançado de IA na construção de aviões com impressoras 3D. Ele ainda disse que esse movimento se repetirá em muitos setores, inclusive a construção de casas, citada nominalmente por ele. Você acredita, já vê algo similar acontecendo?

Sem dúvida e antes de falar da inteligência artificial vou contextualizar com o cenário da falta de mão de obra. Isso, versus o déficit habitacional de países como o Brasil, que não para de crescer, leva a buscar formas de ganhar produtividade. E isso se faz com novos processos construtivos, onde a inteligência artificial vem fortemente. E não só para ajudar a impressão 3D no nível de se fazer uma casa toda pré-modelada em 3D, mas também no apoio à automatização. A IA permite acelerar as aplicações de robôs e com os robôs otimizamos a construção civil. 

Agora, voltando para o avanço da impressão 3D, eu respondo que sim, é possível, pois já existem muitas ferramentas, como para aplicação de concreto, por exemplo. Pensando em construções  modulares, como projetos do Minha Casa Minha Vida, vejo bastante possível termos esse cenário adiantado pelo Chris Anderson.

Internacionalmente, vocês têm visto isso?

Já temos exemplos, mas ainda são protótipos. Na prática, a construção civil ainda não adotou a impressão 3D em larga escala, por culpa da fragmentação do setor e das dificuldades logísticas. No entanto, a evolução está em curso, e em eventos como o Web Summit em Portugal, vamos discutir justamente essas tendências.

Com essa geração de dados e a necessidade de interpretá-los e endereçá-los, o software fica com uma função central, meio “Intel Inside”…

O CVCRM é exatamente isso. Só se junta dado se tiver um software e a tecnologia por dentro, e estou falando desde uma câmera capturando imagens e entendendo quantas vezes a pessoa vai ao canteiro de obras. Como atuamos em toda a etapa da incorporação de imóveis, temos dados gerados na etapa de pré-venda, venda e pós venda imobiliário, desde o lead entrando na aquisição do imovel, o corretor gerando a proposta e contrato, recebendo o financiamento do banco e no final recebendo a chave, assistência técnica e realizando o sonho da casa própria.

Isso tudo gera muito dado. Mas, antes de gerar dados – e sabendo que a inteligência artificial vai ajudar a interpretá-los – é preciso criar a cultura data driven, para entender e fazer uso desse dado. Aqui no Construssumit viemos muito com esse enfoque. 

Qual é o volume de transações do CVCRM hoje?

Nós geramos cerca de R$ 5 a 6 bilhões de transações de vendas todos os meses. Isso dá de 16 a 18  mil vendas imobiliárias.

Você pode dar mais detalhes do negócio de vocês?

Construtor de Vendas – CRM, nasceu há 13 anos com objetivo de ajudar a vender o imóvel. Somos focados no B2B (business to business), incorporadoras e construtoras. O CVCRM é uma plataforma software as a service (SaaS), que cobre toda a jornada da venda imobiliária, desde a pré-venda até o pós-venda. Chamamos isso de CRM 5.0 (que inclui gestão e interação com outros softwares do mercado). Compomos o ecossistema do Sienge, que faz a parte pré-obra, obra e pós-obra. Ou seja, o Sienge atua da porta para dentro da incorporação e o CVCRM da porta para fora, compondo todo o elo de vendas, como disse anteriormente.