Aegea mostra porque sua engenharia financeira é bem sucedida

Por Nelson Valêncio – 01.12.2017 –

Flávio Crivellari, diretor Financeiro e de Relações com Investidores, participou do II Fórum Concessões em Saneamento em São Paulo nessa terça

Focado em investimentos, nova modelagem e riscos, o segundo fórum de saneamento promovido pela Conceito Seminários Corporativos, trouxe pesos pesados envolvidos com o setor. E principalmente já alinhados com novos formatos de financiamento, incluindo a emissão de debêntures de infraestrutura e bonds. No caso da Aegea, o processo está avançado, como mostrou Flávio Crivellari, diretor Financeiro e de Relações com Investidores da concessionária. “Traduzimos a regulamentação brasileira para o investidor”, explicou o executivo. Segundo ele, por mais que precise de aperfeiçoamento, o setor é um negócio seguro em função da macrorregulação atual.

As fontes de financiamento incluem desde instituições multilaterais como o IFC, do Banco Mundial, até o mercado de capitais nacional (debêntures) e internacionais (bonds), passando pelo caixa tradicional do BNDES e da Caixa e Fundo de investimento do FGTS. O crédito bancário, para empréstimos pontes e financiamento de aquisições, também faz parte das opções. “Com esta diversificação, conseguimos ter uma capacidade de agilidade e rentabilidade, independentemente do tamanho do município onde atuamos”, resume Crivellari. Segundo ele, o escopo inclui desde a Águas de União do Sul, na cidade de mesmo nome no Mato Grosso, com 3,5 mil habitantes, até a gigante Águas de Guariroba, que atende 854 mil habitantes na capital do Mato Grosso do Sul.

Estrutura do Grupo Aegea, com controladores e concessionárias por estado: clientes somam cerca de 5,4 milhões em seis regionais

Crivellari destaca que o grupo tem mantido um crescimento sustentável baseado na “preservação de liquidez, previsibilidade de receitas, geração de caixa crescente, estrutura de capital consistente e estratégia de crescimento definida e robusta”. Traduzindo em números: uma estrutura de capital de R$ 2,6 bilhões no quarto trimestre desse ano, sendo 57,5% de dívida líquida e 42,5% em patrimônio líquido. No mesmo período do ano passado, o grupo detinha uma estrutura de R$ 2,1 bilhões, com 54,8% de dívida liquida e 45,2% de patrimônio líquido. E um faturamento anual na casa de R$ 1,5 bilhão, dos quais R$ 400 milhões em investimentos nas concessionárias do grupo.

Citada como um dos componentes de sua estabilidade financeira, a tarifa de fornecimento de água cobrada pela Aegea é de R$ 2,47/m3, um valor abaixo da média das 20 melhores concessionárias do país (R$ 2,51/m3) e 21,3% menor do que a média das 20 piores. Entre janeiro de 2013 e janeiro de 2016, a empresa gastou em média 35% com investimentos nas concessionárias, 12% com pagamento de pessoal e 10% com pagamento de juros, entre os maiores aportes. Outros 18% foram gastos com impostos e 7% com custos de energia.

A parceria público privada (PPP) com a Semae, empresa municipal de Piracicaba, foi citada por Crivellari como um dos exemplos da estratégia da Aegea e colocou a cidade paulista como uma das primeiras a ter a coleta e o tratamento total do esgoto no Brasil. A cidade, aliás, foi a que mais evoluiu no país, passando do índice de 36% de tratamento para 100%, em dois anos. A PPP foi iniciada em julho de 2012 e a Semae atingiu o patamar de 100% em dezembro do ano seguinte. A receita bruta da PPP passou de R$ 76,6 milhões, em 2013, sendo R$ 22,1 milhões para a Aegea, para o total de R$ 151,8 milhões (R$ 56,6 milhões para a Aegea).

Na PPP de Vila Velha, assinado com a Cesan, o escopo envolve a ampliação, manutenção e operação do sistema de esgotamento sanitário, assim como a prestação de serviços de apoio à gestão comercial da concessionária capixaba. A meta da parceria é implementar a infraestrutura em 95% da área de cobertura, o que vai envolver 370 km de rede de esgoto e 24 estações elevatórias, entre outras iniciativas.

Águas de Guariroba atende Campo Grande (MS)

A eficiência operacional das concessões conta a favor do grupo nas negociações de financiamento. É o caso da Águas de Guariroba, que reduziu os índices de perdas de 60% (2000) para 19% (primeiro trimestre de 2016). A empresa também aumentou seu faturamento e reduziu os gastos com energia elétrica: fechou 2010 com um faturamento de R$ 44 milhões, consumindo 335 kWh/mês, números modificados para um faturamento de R$ 55,3 milhões e um gasto mensal de 239 kWh no primeiro trimestre de 2016.

Com 23% de participação no mercado privado de saneamento, a Aegea atende cerca de 5,4 milhões de pessoas, com contratos de concessão ou subconcessão e ainda com projetos de parceria privada (PPP).

O InfraROI vai publicar outras matérias do II Fórum Concessões em Saneamento – Investimentos, Nova Modelagem e Riscos, ao longo da próxima semana. O evento foi promovido pela Conceito Seminários Corporativos.