Bom momento do mercado imobiliário ainda exige juros menores e mais funding

Diretor da Abrainc destaca pontos que estimulam mercado imobiliário, como índice de emprego e intenção de compra, mas expôs dificuldades

Por João Monteiro

em 10 de Junho de 2025

Durante o Construsummit 2025, evento realizado semana passada em Florianópolis (SC), foi possível perceber que o setor imobiliário está animado com a perspectivas futuras. Renato Lomonaco, diretor de Assuntos Econômicos da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), trouxe diferentes dados que impulsionam este otimismo no mercado imobiliário, mas também apontou que a falta de funding e os juros altos podem impedir que o setor decole de vez.

Lomonaco destacou que o aumento sucessivo do preço do aluguel – que cresce mais que o dobro da inflação – impulsiona o interesse pela compra da casa própria. Ao mesmo tempo, investidores olham para imóveis como uma forma de obter renda por meio de aluguel. Com isso, a intenção de compra segue acima de 40% há cinco trimestres.

Esse é um cenário que não deve se alterar no médio prazo, já que o bônus demográfico é muito favorável. “Vai ter cada vez mais pessoas que vão precisar de moradia e elas vão precisar alugar e só depois vão pensar em comprar”, destacou. Hoje, o déficit habitacional é de 7 milhões, segundo o diretor. “E a faixa que mais cresce é a de 30 a 40 anos, ou seja, esse crescimento  deve alimentar a equação para alguns anos.”

Outro ponto importante são os dados econômicos que influenciam o setor. A baixa taxa de desemprego, que foi de 7% no primeiro trimestre deste ano, e o crescimento da renda dos brasileiros em 4%, fatores importantes para incentivar a compra de imóveis por pessoas físicas. Além disso, o PIB da construção civil cresceu 21,8% nos últimos cinco anos, o dobro do indicador nacional no período, segundo Lomonaco.

Falta de funding preocupa

O primeiro desafio do setor é a falta de funding. Segundo ele, a demanda por imóveis é muito grande o Brasil tem só 10% de crédito imobiliário sobre o PIB. Em países mais desenvolvidos, o índice chega a 50%.

Com dificuldades para acessar o crédito, o interesse do consumidor pela compra de imóveis pode não ser o suficiente. Neste caso, é muito bem-vindo o aumento do funding para o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que subiu de R$ 73,8 milhões em 2022 para R$ 136,9 milhões em 2024.

Lomonaco também pontuou que o orçamento do programa para este ano é de R$ 135,5 milhões, com o adicional da nova Faixa 4, voltada à classe média. “O ideal é que a Faixa 4 fosse institucionalizada no programa, mas isso precisa que o fundo seja disponibilizado ano a ano, que é uma decisão que o governo vai ter que fazer”, destaca o diretor da Abrainc.

Atualmente, a Faixa 4 terá R$ 30 bilhões em recursos, que virão do FGTS, da caderneta de poupança, das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Fundo Social do Pré-Sal. “Nossa expectativa é de que isso aconteça (a institucionalização da Faixa 4) porque faz muito sentido ter uma categoria para a classe média e para o setor.”

Taxa de juros é outro problema para mercado imobiliário

A taxa de juros também é um problema para o mercado imobiliário, visto que limita o acesso ao crédito e encarece não só a aquisição como também a construção. Medidas para contornar esse problema incluem o próprio MCMV, que ajuda famílias – incluindo agora a classe média – a conquistar a casa própria sem recorrer ao mercado tradicional.

Além disso, mesmo com a taxa Selic crescente, as vendas do mercado de imóveis de médio e alto padrão (MAP) continuam aumentando. Lomonaco mostrou que em 2022 foram R$ 15 bilhões em vendas, passando para R$ 20,2 bilhões em 2023 e R$ 24,4 bilhões em 2024. Os lançamentos do MAP (em valor) subiram 42% em cinco anos, acima do volume do MCMV (25% no período).

A mensagem de otimismo, no entanto, vem com cautela. “As empresas precisam de um bom gerenciamento de fluxo de caixa e saber adequar os produtos à necessidade de funding, calibrando os lançamentos. O MCMV está funcionando bem e isso ajuda o setor a caminhar bem. O que está faltando é a queda de taxa de juros e mais funding”, concluiu o diretor.