BP subestima energias renováveis, segundo especialistas

Da Redação – 16.02.2016 – 

Eles contestam os números do mais recente Energy Outlook publicado pela gigante petroleira, o qual estima um crescimento anual de 6,6% na produção de fontes renováveis até 2035.

Apesar da pressão sobre os combustíveis fósseis, as energias renováveis não teriam uma participação ativa na matriz mundial de eletricidade. Pelo menos essa é a visão da gigante petroleira inglesa BP. Segundo o recém-lançado relatório anual da companhia, as fontes renováveis devem crescer a uma taxa anual de 6,6% até 2035. Outra estimativa da empresa é que a geração renovável represente 15% da produção de eletricidade daqui a 14 anos. As previsões, no entanto, estão sendo severamente criticadas.

“Esta é uma história de como uma empresa de petróleo e gás prevê perspectivas otimistas para empresas de petróleo e gás. A BP gostaria que nós acreditássemos que a ação dos governos sobre o clima irá falhar, que as tecnologias limpas irão fracassar e que o futuro da energia continuará a ser baseado nos combustíveis de carbono do passado”, explica Greg Muttitt, da Oil Change International.

Segundo ele, todos os anos, a BP prevê que o crescimento das energias renováveis ​​vai abrandar, e toda vez ela erra. “Este ano, mais uma vez, minimiza maciçamente as energias renováveis, estimando-se que irão fornecer apenas 15% da eletricidade mundial em 2030 – apesar da energia eólica e solar alcançarem a paridade no grid energético na maior parte do mundo”, argumenta. De acordo com Muttitt, a perspectiva da BP é, na verdade, “um exercício de relações públicas projetado para impulsionar os combustíveis fósseis e para minar a confiança pública em alternativas limpas. Esta não é uma visão crível do futuro da energia”.

Tom Burke, presidente do E3G, disse: “Ou eles não sabem como estão enganando a si mesmos ou eles sabem – em qualquer dos casos, isso não é muito tranquilizador.” Em um artigo publicado no início do mês, Tom Burke escreveu: “A quantidade real de serviços de energia que as energias renováveis ​​precisam entregar para eliminar os combustíveis fósseis é o equivalente de algumas 5,2 bton – menos da metade do que a indústria de fósseis nos querem fazer crer.”

Ainda de acordo com o relatório da BP, o crescimento mais lento da demanda por energia na China “pesa” na utilização mundial de carvão, com esse combustível fóssil crescendo a menos de um quinto da sua taxa nos últimos 20 anos – apenas 0,5% ao ano até 2035, um percentual de crescimento que foi revisto para baixo em relação à previsão de 0,8% ao ano  contida no estudo do ano passado. A demanda por carvão em 2035 foi revista para baixo 6% em relação à previsão do ano passado, devido a um abrandamento do crescimento econômico da China e “políticas ambientais e climáticas que encorajam uma mudança mais rápida para combustíveis de baixo carbono.”

Para Luke Sussams, analista sênior da Carbon Tracker, “As perspectivas energéticas para 2035 da BP mudaram pouco ao longo do último ano. Elas parecem afirmar o acordo internacional sobre mudanças climáticas, firmado na COP21, terá pouco impacto na supressão da demanda futura por combustíveis fósseis, que continuaria a atender mais de 80% da necessidade global de energia”, avalia.

Para Sussams, a perspectiva da BP destaca incertezas fundamentais, como um menor crescimento econômico ou uma mudança mais rápida para uma economia de baixo carbono. Mas ele contesta a avaliação. “A BP prevê que a demanda global de energia vai aumentar rapidamente no esteio das economias de países emergentes da Ásia. Mas a economia da China está se desacelerando mais rapidamente do que se pensava, diminuindo o crescimento da demanda por energia”, analisa.

A BP prevê que a demanda por gás vai crescer 1,8% ao ano até 2035, uma revisão ligeiramente para baixo em relação ao 1,9% ao ano na perspectiva do ano passado. Já a produção de gás de xisto deve crescer fortemente (5,6% ao ano), diz o relatório. O petróleo, por sua vez, cresce de forma constante (0,9% ao ano), embora a tendência de redução da sua participação continue. Na matriz energética dos transportes, o “ouro negro” continua esmagadoramente dominante em 2035 com 88% da demanda, uma previsão que permanece essencialmente inalterada desde o ano passado.