Estamos preparados para os carros conectados?

Por Ronald Rowlands – 29.08.2016 –

Especialista da SAS aponta desafios que os veículos conectados, que fazem parte do ecossistema de Internet das Coisas (IoT), vão trazer ao país.

Muitos fãs de James Bond devem se lembrar do icônico Aston Martin DB5, um superesportivo que marcou os cinemas no filme 007 – Goldfinger. Além de um assento ejetável e outros artifícios, o carro era dotado de um computador com sistema de navegação a satélite. Cerca de 50 anos se passaram desde a estreia do filme e continuamos não tendo tais assentos, mas certamente, progredimos quando o assunto envolve carros conectados.

Imagine controlar todas as funcionalidades do seu carro pelo smartphone, ter a bordo um computador inteligente que programe todas as suas preferências, sensores embutidos para alertar assistência mecânica e até um sistema capaz de dirigir o carro por você? Tudo isso já existe – e é provável que você tenha um desses em poucos anos. Segundo o Gartner, são esperados 250 milhões de automóveis conectados à Internet das Coisas (IoT) até 2020.

Somente nos EUA, já circulam mais de 40 milhões de automóveis conectados à IoT, o que representa 15% do montante. Diferente do mercado norte-americano, a nossa ‘tímida’ frota de 42 milhões de veículos ainda roda devagar em conectividade, mas representando um mercado promissor para diversas indústrias – e a inteligência analítica está por de trás disso.

Carros conectados poderão gerar dezenas de gigabytes de dados por hora, que podem ser estruturadas em informações valiosas para as empresas, especialmente a respeito do comportamento e dos desejos dos motoristas. Essas necessidades têm aproximado cada vez mais as empresas de TI do setor automotivo e outras ligadas a ele.

Oportunidades com a IoT

Para o mercado de seguros, um dos mais beneficiados, o potencial analítico da IoT permite que diversas informações do veículo e do motorista possam servir para analisar riscos, oferecer precificações personalizadas e até identificar fraudes. E com o monitoramento em tempo real, as seguradoras podem ficar cada vez mais proativas, alertando para problemas mecânicos no veículo, identificando comportamentos de risco e trajetos suspeitos, além de acionar resgate ao detectar acionamento dos airbags.

Da mesma forma, as montadoras estão correndo para agregar as tecnologias Machine-to-Machine (M2M) na linha de produção e coletar dados para oferecer novos serviços aos clientes. Os dados podem ser analisados para identificar avarias, trocas de óleo, agendar revisões e prever a necessidade de recalls antes mesmo dos veículos apontarem problemas, mitigando gastos que podem chegar a centenas de milhões de dólares. E com as informações armazenadas em nuvem, os próprios clientes podem acessá-las e acompanhar trajetos, acionar aplicativos e muito mais.

Além de montadoras, esse movimento da Internet das Coisas também está mudando o modo como fornecedores de peças e serviços do setor automotivo lidam com a informação. No caso da fabricante de pneus Continental, por exemplo, foram desenvolvidos produtos com sistema de sensores embutidos, alertando para os níveis de calibragem e desgaste dos pneus, transmitidos em tempo real para o motorista.

Diversas outras áreas e indústrias estão empenhadas em desenvolver serviços e ações de marketing com os motoristas conectados. Por meio da geolocalização e inteligência analítica, até os postos de gasolina e serviços de drive-thru, por exemplo, podem identificar perfis e oferecer promoções personalizadas.

Para que todas essas conexões ocorram, um dos pilares centrais e mais envolvidos com carros conectados é o setor de telecomunicações. No Brasil, empresas de telecom têm se empenhado em desenvolver soluções para carros conectados. Elas já oferecem dispositivos M2M para monitorar os componentes elétricos e eletrônicos dos veículos, especialmente em modelos mais recentes.

E com a consolidação dessas tecnologias, o próximo passo evolutivo será a adoção em massa de carros autônomos, embarcados com tecnologias Vehicle-to-Vehicle (V2V), capazes de se comunicarem com outros carros, estradas inteligentes e cidades inteiras conectadas. Somente esse mercado deve trazer uma economia de US$ 5,6 trilhões ao reduzir engarrafamentos e acidentes de trânsito.

Desafios enfrentados no Brasil

Certamente o cenário para os próximos anos é promissor, mas ainda temos desafios a serem vencidos. É necessário que alguns investimentos sejam feitos especialmente na infraestrutura de telecom. Em um país como o Brasil, de extensões continentais, é preciso cobrir os ‘pontos cegos’ e corrigir as instabilidades de rede.

E com o crescimento global da IoT para os próximos anos, prevendo até 50 bilhões de dispositivos conectados em 2020, as operadoras também precisam gerenciar demandas exponencialmente maiores, minuto a minuto. O volume de dados transmitidos pelos carros pode se tornar tão grande que apresentaria risco de sobrecarregar o tráfego de dados nas redes, causando panes de conexão e, até, inviabilizando alguns serviços dos veículos nas horas de pico em centros urbanos. Além disso, serão necessárias ferramentas cada vez mais poderosas de análise em tempo real para processar todos esses dados.

Enquanto alguns enxergam obstáculos, outros vislumbram uma gama de oportunidades promissoras para ganhar competitividade com esses investimentos em IoT, que devem chegar a R$ 350 bilhões no Brasil. Em breve, estaremos conectados em todas as nossas atividades do dia a dia, e o modo como lidamos com os nossos automóveis não será diferente. A diferença ficará para quem souber usar esses dados para gerar novos negócios e transformar a indústria.

Ronald Rowlands, consultor de pré-vendas do SAS Brasil.