Brasil está à venda na área de infraestrutura

Por Fernando Pinho – 28.09.2017 –

Ativos incluem desde a Eletrobras até participações da Infraero em aeroportos de destaque, passando por terminais portuários. Economista explica de onde poderá vir o dinheiro da compra

Fernando Pinho

Pressionada por um déficit fiscal sem precedentes, onde já se gasta toda a Receita Líquida para quitar despesas obrigatórias, uma Dívida Pública explosivamente crescente (79,4% do PIB) e um descalabro moral que nos coloca como o país mais corrupto do mundo, a equipe econômica tenta sanear o que sobrou das Finanças Públicas, o pós-Dilma. Toda essa devastação, que continua causando um clima de desesperança em grande parte dos brasileiros, está também criando as bases para um novo tempo, com mais alento.

Já é perceptível, ainda que tênue, a melhora em alguns indicadores socioeconômicos, como o nível de emprego na construção civil e no setor automobilístico, dois vetores importantes para a alavancagem do consumo e da arrecadação tributária. Há um número grande de operações de compra, venda e fusões/aquisições entre empresas privadas, notadamente pelo capital chinês, que em 2016 esteve presente em 35% dos negócios efetuados. Atualmente o capital privado chinês negocia a compra de uma seguradora brasileira e uma importante corretora de valores. A Eldorado Celulose (do grupo JBS), está sendo vendida para uma gigante de capital indonésio.
Em recente viagem ao exterior, Temer aproveitou para divulgar um amplo projeto de concessões e privatizações, que não poderiam ser absorvidas pelo capital nacional, em função da fragilidade financeira dessas empresas. Existe um dado altamente propício ao Brasil, que poderia dinamizar a retomada da Economia Brasileira.

Segundo dados oficiais recentemente publicados, há no mundo, atualmente, algo como US$ 40 trilhões investidos em títulos públicos de diversos países, onde 25% (US$ 10 trilhões) está sendo remunerado a taxas de juros próximas de zero. Levando-se em consideração que há 159 estatais federais no Brasil, muitas delas com sérios problemas de gestão, já traria um grande alívio às Finanças  Públicas, sem contar um número incalculável de estatais mal administradas no âmbito dos municípios. Esse processo seria também um forte alavancador do crédito, já que as taxas de juros estão declinando.

Há ativos estatais apetitosos em estágio de alienação: em junho passado, a Eletrosul e a Shangai Eletric Power assinaram acordo preliminar para a transferência de projetos de energia no Rio Grande do Sul (R$ 3,27 bilhões); em agosto passado, a Cemig abriu o período de informação para os interessados na compra de participação da estatal mineira na Light; está em curso pelo governo de São Paulo o processo de venda de 40,6% no capital da Cesp, onde abrirá mão do controle. Outros negócios estatais também são alvo de interesse pelo capital estrangeiro: Aeroporto de Congonhas e outros 13 terminais, Companhia Docas do Espírito Santo, Lotex, 49% de participação na Infraero (Guarulhos, Brasília, Galeão e Confins), 14 terminais portuários, Casa da Moeda, Usina Hidroelétrica de Jaguara, diversos blocos de exploração de petróleo e gás, Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais, Ceasa Minas, BR Distribuidora, Sabesp, Banco do Brasil, Banrisul, CEF, Eletrobras, etc.

Pelo que se percebe, pelo menos em relação aos ativos do setor elétrico, a potencial compradora poderá ser a China Shenhua Group, classificada como a maior empresa de energia elétrica do mundo, avaliada em US$ 278 bilhões e possuidora de uma reserva de caixa monumental. Numa tentativa de aumentar a relevância do Yuan como moeda de reserva global (conversível) e devido a uma crescente demanda no Brasil por operações com a respectiva divisa, o governo  chinês solicitou às autoridades brasileiras o início de estudos em parceria, objetivando criar uma Câmara de Compensação (Clearing House) para operar livremente a moeda chinesa no país, abrindo um amplo espaço para facilitar a compra de empresas brasileiras e ir diminuindo a dependência do uso do Dólar e Euro, nessas transações.
Crise para uns, oportunidade para outros. Um  permanente e triste aprendizado, para uma Nação que insiste em não aprender com os próprios erros.

* Fernando Pinho é economista, palestrante e consultor financeiro da Prospering Consultoria.