Brasil pode, literalmente, entrar nos trilhos

Por Rodrigo Conceição Santos (com informações da Abifer) – 05.11.2014 –

É o que defendem representantes do setor metroferroviário, reunidos até amanhã em evento em São Paulo e cujos quais temos margem para ampliar a utilização desse modal de transporte.

trilhosO InfraROI publicou ontem (veja) que 61% do transporte de cargas realizado no Brasil ocorre por rodovias. Para representantes dos setores de trens e metrôs, reunidos nesta semana durante a NTExpo 2015, em São Paulo, há margem para reduzir essa proporção e também para ampliar a quantidade de quilos – e de pessoas – transportados pelo país diariamente. Isso, segundo eles, impactaria positivamente em diversos indicadores, inclusive no Custo Brasil.

A indústria ferroviária, diferente da maioria dos setores de infraestrutura, está bem e deverá faturar entre 5% e 10% mais neste ano, segundo a Abifer (associação que representa essa indústria). Ainda de acordo com a entidade, o setor espera arrecadar no ano mais de R$ 6 bilhões em investimentos, resultado da produção estimada de cerca de 4 mil novos vagões e 90 locomotivas.

Short Lines
Para Vicente Abate, presidente da Abifer, o resultado pode ser ainda melhor nos próximos anos se o poder público apostar no que o setor chama de short lines, que nada mais são do que pequenos ramais ferroviários e cujo exemplo bem-sucedido das linhas norte-americanas tem feito a cabeça dos profissionais dessa área no Brasil. “Esse é o assunto do futuro nas ferrovias brasileiras. O governo precisa estar atento a esse aspecto das short lines na renovação das concessões, para termos os investimentos necessários”, disse Abate.

Jean Pejo, representante no Brasil da Alaf (Asociación Latinoamericana de Ferrocarriles), traz a comparação de que nos Estados Unidos há 550 Short Lines que ocupam cerca de 50 mil milhas de malha, envolvendo 17 mil empregados e movimentando a carga de 10 mil clientes. Para ele, as short lines representam o caminho mais curto para o crescimento da participação das ferrovias na matriz modal brasileira. “Há muitos trechos inutilizados no país, pois, atualmente, se privilegia os grandes corredores”, diz. “Estatísticas mostram que a ocupação efetiva das vias ferroviárias é de apenas 30% da rede que está sob concessão atualmente”, completa.

Mais da metade das rodovias brasileiras continua com problemas, segundo CNT

José Luiz de Oliveira, coordenador-geral de Patrimônio Ferroviário do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) considera que a implantação de short lines no Brasil deve envolver governo e iniciativa privada. “É um caminho que devemos trilhar juntos. É um modelo que atende concessionárias, dispostas a abrir mão de trechos não-econômicos (que não são rentáveis), governo, que não quer receber esses trechos de volta, e mercado, que precisa transportar a carga. Precisamos de um modelo e uma alternativa é a PPP (Parceria Público-Privada)”, diz.

Carlos Nascimento, diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), sugere dois modelos possíveis: primeiro um acordo com a concessionária para explorar um trecho não rentável. Segundo a autorização para o transporte ferroviário desvinculado da infraestrutura ferroviária. “Estamos dispostos a apoiar as short lines, pois fizemos um estudo com o apoio da Universidade de Santa Catarina que mostrou que temos 6 mil quilômetros de malha com menos de um trem por dia circulando no país”, conclui.