Brasil precisa muito mais do que a reforma da previdência

Daniel Toledo (*) – 17.09.2019 – 

Recebo diariamente inúmeras perguntas relacionadas a reforma da previdência, principalmente se vai mudar algo e como se dará essas alterações. Já passou pela primeira votação, mas ainda há vários pontos para serem revistos ainda. Mas se eu acho que isso vai ser a solução para o Brasil? Não. Entretanto, acredito que algumas coisas vão melhorar a partir disso, mas a conta ainda é muito grande, então temos que tomar um pouco de cuidado com as expectativas.

Com toda a certeza, trata-se de algo que precisava ser feito. Sou contra a política de sustento e sempre me declarei dessa forma. Acredito que para educar uma nação é preciso criar oportunidades, então dar dinheiro simplesmente e acabar com a verba para investir em educação, não vai tirar as pessoas na condição de vulnerabilidade.

Voltando para o cenário coorporativo. Imagine um empresário que responde por quase 40 colaboradores, que precisa pagar os inúmeros encargos, salários e benefícios, e ainda fazer substituições em caso de afastamento, por qualquer motivo que seja, sem contar com a inadimplência e uma série de outros fatores. E se essa empresa não conseguir vender seus produtos? Ou pagar empréstimos? Em um determinado momento, esse equilíbrio acaba e as coisas começam a ficar negativas.

Muitas empresas brasileiras vivem exatamente essa situação hoje. Estão com suas contas negativas por não conseguir vender mais. Não há dinheiro circulando, porque as pessoas perderam liquidez. Logo, as empresas deixam de receber e começam a trabalhar com um dinheiro virtual, notas promissórias, cheques pré-datados, promessas de pagamento e tantas outras coisas para tentar diminuir o problema. Mas essa “quantia virtual” não está realmente nas mãos desses empresários, que já estão trabalhando com o risco daquele crédito. Se esses valores não entrarem, terá que pagar os fornecedores do mesmo jeito ou não vai ter mais onde comprar.

O Brasil não tem mais como pagar R$ 250 bilhões. Para se ter uma ideia, a previsão de economia nessa questão da previdência é de R$ 110 bilhões em dez anos. Ou seja, nós precisamos pagar R$ 250 bilhões hoje, e a reforma da previdência vai atingir a economia de R$ 110 bilhões somente daqui uma década. Dá para ter uma ideia do tamanho do problema que temos atualmente? Não tem como fazer essa reforma gigantesca que fará o país crescer.

Não vamos ver os resultados de liquidez, dinheiro no mercado, de contas colocadas em dia enquanto não houver uma série de outras situações, como por exemplo, uma reforma tributária que hoje impede que as empresas cresçam. Muitas coisas também precisam melhorar na reforma trabalhista, apesar das mudanças recentes. Não é sobre tirar todos os direitos de uns e dar todas as garantias a outros. Então, é necessário ter cuidado e a consciência de que cada um de nós tem a responsabilidade para fazer a coisa acontecer, do contrário, a grande empresa Brasil quebra e aí todos os brasileiros que moram no país, ou não, irão sentir esse impacto.

Acredito que dificilmente haverá grandes mudanças nesse cenário nos próximos dois anos. Existe a possibilidade de melhora, é claro, mas há também uma força que vai sempre lutar contra esse avanço, e não estou falando de partidos políticos, e sim de algumas pessoas que não aceitam de forma alguma sair de um pedestal, onde todos os holofotes estão neles.

*Daniel Toledo é Advogado da Toledo e Advogados Associados especializado em direito internacional e consultor de negócios, sócio fundador da Loyalty Miami.