Chineses vão investir US$ 20 bilhões no Brasil

Por Haroldo Aguiar – 24.03.2017 –

Este valor, previsto apenas para 2017, será destinado à aquisição de ativos em infraestrutura e agronegócios, com ênfase na compra de construtoras, ferrovias e empresas de energia.

Os investidores chineses planejam aportar este ano nada menos que 20 bilhões de dólares na aquisição de ativos brasileiros, principalmente nos setores de infraestrutura e agronegócio. A projeção é da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), que está assessorando muitas dessas empresas nessa empreitada e projeta um crescimento de 68% em relação aos 11,9 bilhões que a China investiu no Brasil em 2016. “Dezenas de companhias chinesas passaram a olhar o mercado brasileiro como uma oportunidade e estão prospectando negócios no país”, diz ele.

Segundo Tang, os interesses são muito variados, abrangendo desde os setores de geração e transmissão de energia, até o de transportes – com ênfase em ferrovias de cargas – e a produção de grãos. “Temos dois perfis diferentes de investidores, sendo que as empresas privadas demonstram mais interesse no agronegócio e as de capital estatal têm mais vocação para a construção pesada e infraestrutura.” Ele destaca que essa movimentação já transformou o Brasil no segundo principal destino dos investimentos chineses em infraestrutura no mundo, superado apenas pelos Estados Unidos.

Entre os que já se posicionaram nessa corrida às oportunidades do mercado estão a State Grid, que liderou os investimentos no ano passado com a compra da CPFL, e a China Three Gorges, que adquiriu ativos da Duke Energy e arrematou hidrelétricas antes pertencentes à estatal Cesp. Além disso, a Pengxin comprou participação nas empresas agrícolas Fiagril e Belagrícola e a China Communications Construction Company (CCCC) adquiriu a construtora Concremat. Esta última, aliás, continua demonstrando apetite para novas aquisições, principalmente envolvendo empresas de construção pesada e ferrovias.

Na lista de candidatos a ingressar nesse clube, por sua vez, aparecem a SPIC, que está interessada na aquisição da hidrelétrica Santo Antônio, e a Shanghai Electric, que negocia projetos de transmissão de energia da Eletrosul. Para a advogada Rosane Menezes Lohbauer, sócia do escritório Madrona Advogados, especializado em concessões e privatizações, o mercado precisa ficar atento à qualidade dos investimentos anunciados e não apenas à quantidade. “O que interessa, do ponto de vista do crescimento econômico, são recursos para projetos novos, pois a mera troca de controle acionário, que é o caso da venda da CPFL ou de uma hidrelétrica pronta, não altera o cenário”, diz ela.

Analistas apontam também a pouca experiência das empresas chinesas no mercado externo, inclusive com um histórico de fracasso em algumas investidas no exterior. Um exemplo familiar aos brasileiros foi o desembarque no país, alguns anos atrás, de dezenas de fabricantes de automóveis, caminhões e máquinas pesadas, muitos deles com projeto de instalação de uma unidade industrial. Mal assessorados e sem conhecimento do mercado local, a maioria deles viu seu projeto sucumbir. Dessas empresas, algumas ainda tentam se desfazer dos ativos e outras precisaram rever os prazos de retorno ao investimento.

Apesar desse histórico, há de se ressaltar que as companhias envolvidas são de grande porte, o que revela sua capacidade de investimento. Com a desvalorização dos ativos brasileiros frente aos investidores internacionais – tanto em função do câmbio quanto do desmonte que algumas construtoras deverão promover após a Operação Lava Jato – elas encontram ótimas oportunidades para seus respectivos projetos de internacionalização. E nesse ponto o Brasil surge como uma ponte ideal para que esses investidores assumam posições em um mercado ainda maior, que é a América Latina.