Cinco ganhos das redes elétricas inteligentes para quem paga a conta

Por Marcos Ablas – 04.07.2018 –

O crescimento das redes elétricas inteligentes – que usam tecnologia para automatizar processos e transmitir informações em tempo real – garante inúmeros benefícios para as concessionárias de energia que, a partir de dados mais assertivos, conseguem antecipar problemas, resolver falhas mais rapidamente, reduzir perdas e otimizar a operação. Pouco se fala sobre o tema, mas essas mudanças impactam diretamente no atendimento prestado aos clientes. Por isso, o meu objetivo neste texto é esclarecer os benefícios para os consumidores de energia.

  1. Detecção mais veloz de problemas: Com a adoção de medidores inteligentes na entrada de prédios e casas é possível identificar exatamente o local sem energia, e se a falha é apenas em uma residência ou todo o quarteirão ou o bairro. Saber a localização exata do problema com agilidade e precisão evita que equipes de manutenção percam tempo procurando o local. Além disso, com essas informações, as concessionárias podem avisar aos clientes a previsão de retorno de energia com maior precisão. Isso ajudaria a estabelecer um relacionamento de confiança e transparência com os consumidores, que conseguiriam programar melhor sua rotina nesses dias.
  2. Reestabelecimento da energia rapidamente: É possível reestabelecer a energia, ou parte dela, por meio de atuadores automatizados que permitem o self-healing, tais como chaves-religadoras e outros dispositivos que tomam decisões por meio da comunicação local ou com centros de operação. Isso simplifica a resolução de muitos problemas intermitentes, como quando um galho encosta em um cabo rapidamente. Nesse momento, as chaves-religadoras tentam – automaticamente – reestabelecer o circuito ou, ao menos, reduzir o número de consumidores afetados durante o processo de recuperação, ao modificar o caminho da energia na rede elétrica.
  3. Custos menores: Talvez você não saiba, mas parte do custo da energia desviada ou roubada é dividido entre todos os usuários da área de concessão. Portanto, quanto maior a precisão e a frequência das medições de energia em áreas agregadas, como um quarteirão, por exemplo, fica mais fácil analisar os dados e detectar perdas “não técnicas”. No futuro, com base nesse histórico e na redução de roubos, determinadas regiões poderão até ter valores mais adequados de energia.
  4. Melhor relacionamento com consumidores: O relacionamento entre os consumidores e as empresas do setor é baixo. As pessoas, na maioria das vezes, só entram em contato para solicitar mudança de endereço, acertos de contas ou reclamar de falta de energia – e a maior parte dessa comunicação ainda é feita via call center. Com redes mais inteligentes, as concessionárias poderiam oferecer a eles, por exemplo através de aplicativos, informações detalhadas sobre o consumo residencial, como os períodos, horários e equipamentos que mais gastam. Essa transparência permitiria mudanças no comportamento e no uso da energia elétrica, visando a um melhor consumo e à economia consciente.
  5. Planejamento da rede e manutenções mais programadas: Regiões onde acontecem grandes eventos e cidades turísticas são bastante complexas para os distribuidores. Com a evolução das redes e o uso de tecnologias como “big data” será possível planejar melhor a demanda com base em históricos e priorizar o fornecimento para um determinado local, bem como programar a manutenção e as trocas de transformadores e sensores de forma a reduzir falhas.

Para que tudo isso seja possível no Brasil, o setor elétrico precisa maior maturidade na digitalização assim como acontece nos EUA, em que 50% dos medidores já são inteligentes, ou na China, onde esse número chega a 70%. Além disso, é necessário um nível de confiabilidade altíssimo nas redes de telecomunicações para garantir a conectividade entre os dispositivos e as demais tecnologias, viabilizando a coleta de dados e a tomada de decisões em tempo real.

A evolução das infraestruturas de telecomunicações que estamos vivendo no Brasil é apenas o primeiro passo para redes elétricas mais inteligentes, mas é necessária uma atualização da regulamentação no setor de energia para que esses benefícios possam se materializar a todos os brasileiros.

(*) Marcos Ablas é consultor de Utilities da Logicalis