Como projetar o traçado de uma rodovia

Da Canaris Informação Qualificada – 16.06.2017 –

 

Livro reúne a experiência de professores da Escola de Engenharia de São Carlos (USP) nas boas práticas e tecnologias adotadas em projeto geométrico de rodovias.

Projeto Geométrico de Rodovias
Projeto Geométrico de Rodovias

As apostilas utilizadas pelos alunos da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), foram compiladas em um livro que já se tornou material didático obrigatório não apenas para os formandos daquela instituição, mas também para os de muitas outras faculdades de Engenharia do país. Lançado pela Elsevier, o livro “Projeto Geométrico de Rodovias” é uma coletânea do material didático desenvolvido pelos professores Márcio Oliveira e Carlos Pimenta, que foi organizado e atualizado pelos professores Paulo Segantine e Irineu da Silva.

Este último fala ao InfraROI sobre o conteúdo do livro e sua contribuição para a formação da próxima geração de engenheiros, bem como o atual estágio do país em obras de rodovias. “Devido a nossa realidade, marcada pela carência de infraestrutura, uma parte do conteúdo que adotamos na universidade não recebe a mesma prioridade em países que já contam com uma boa infraestrutura rodoviária”, afirma Irineu da Silva. Mesmo assim, o professor afirma que o Brasil possui bons profissionais e larga experiência nessa área, embora esteja atrasado na adoção de novas tecnologias em obras de rodovias. Veja, a seguir, suas opiniões:

InfraROI: Como o livro “Projeto Geométrico de Rodovias” pode contribuir para a formação dos engenheiros nessa disciplina e na melhor qualidade dos projetos rodoviários no país?

Irineu da Silva: O livro é uma coletânea do material didático utilizado ao longo do tempo pelos professores Márcio Oliveira e Carlos Pimenta, muito respeitados em nosso meio acadêmico nessa disciplina e que têm vasta experiência na modelagem geométrica de rodovias, tanto em órgãos contratantes, quanto em construtoras e depois transmitindo esse conhecimento na universidade. Esse material, que era utilizado pelos alunos, na forma de apostila, foi compilado e atualizado, além de ganhar um capítulo com 100 exercícios práticos para sua melhor formação. Portanto, trata-se de uma obra adequada a nossa realidade e ao que dispomos em termos tecnológicos para que os profissionais e estudantes da área conheçam as opções e o que os espera no futuro.

 

InfraROI: E qual é essa realidade? Como estamos em termos de desenvolvimento no que se refere à modelagem geométrica de rodovias?

Irineu da Silva: O Brasil possui vasta experiência nessa área e nossos projetos são de boa qualidade. O problema está mais relacionado à lentidão com que as novas tecnologias chegam ao país. No livro, por exemplo, incluímos novos capítulos para abordar essa questão, como a modelagem digital do terreno, que realiza o traçado da pista automaticamente e, por meio de modelos matemáticos, informa o diagrama de massas, os volumes de corte e aterro previstos na obra e até mesmo as distâncias economicamente viáveis para a locação dos bota-foras. Essas tecnologias já são utilizadas no país, mas ainda há muito desconhecimento em relação a elas.

 

InfraROI: A impressão que temos é que, com exceção de poucos projetos, em sua maioria localizados no Estado de São Paulo, como as rodovias Imigrantes e Bandeirantes, os demais não estão up-to-date em termos de projeto geométrico. O senhor concorda com esta tese?

Irineu da Silva: Estamos falando de rodovias projetadas a partir da década de 1980, que já adotaram os novos conceitos. Quando se pensa em uma estrada, primeiro analisamos sua viabilidade econômica, o tráfego previsto, para definir seu traçado. Depois partimos para o projeto geométrico, que, com base no relevo do terreno, estabelece os raios de curvatura, inclinação, declividade e outras características que irão definir a classe da rodovia, o nível de conforto que ela vai oferecer ao usuário dentro de uma velocidade de tráfego estabelecida. Minha impressão é que, em muitos casos, o projeto acaba sendo adequado ao orçamento disponível para a obra, mas isto não significa que não temos condições de realizar bons projetos geométricos de rodovias.

 

InfraROI: Isto se aplica também às concessionárias privadas, que assumiram compromissos de executar obras de duplicação em suas concessões? Em caso positivo, há de se ressaltar que a qualidade do projeto deveria ser resguardada pelo órgão concedente, não é mesmo?

Irineu da Silva: Muitas vezes, um projeto pode ter sua qualidade adequada em relação ao orçamento da obra ou à realidade daquela situação. No caso de uma duplicação, por exemplo, o ideal é que a segunda pista fique distanciada da pista existente por meio de um canteiro central devidamente dimensionado, mas nem sempre isto é possível diante da necessidade de desapropriação para a obra e todos os problemas decorrentes desta ação, como custos e questionamentos judiciais. Mas essas questões são típicas de um país que tem toda a sua infraestrutura por fazer, pois elas são estranhas a países industrializados.

 

InfraROI: Como assim?

Irineu da Silva: Conversando com colegas meus, que lecionam em universidades na Suíça, questionei se estes assuntos eram relevantes para a formação acadêmica dos engenheiros naquele país. Sua resposta foi negativa, pois as preocupações deles estão mais voltadas para outras questões, como o gerenciamento de tráfego, por exemplo. Obviamente, não podemos comparar as duas situações, completamente diferentes, pois a Suíça tem uma área equivalente à do Estado do Espírito Santo, uma população de sete milhões de habitantes e uma infraestrutura já consolidada.

 

FICHA TÉCNICA

Livro: “Projeto Geométrico de Rodovias”

Editora Elsevier

344 páginas – brochura

R$ 89,90