Conheça a infraestrutura que vai tirar Mauá da obscuridade sanitária

Por Nelson Valêncio – 10 de abril de 2014

 

Quem pega o trem para Mauá, na estação da Luz em São Paulo, não consegue identificar bem onde terminam as cidades vizinhas, inclusive a capital, e onde começa o município de 400 mil habitantes. Mauá, uma homenagem ao famoso barão e industrial vanguardista – não exatamente nessa ordem – faz parte da enorme da confusão chamada de Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). O trem anda devagar, contrastando com outras linhas rápidas da CPTM, a companhia que administra esse ramal, mas a cidade paulista continua crescendo. E assim acontece com o esgoto. Hoje, apenas 5% do material coletado recebe tratamento, mas a Foz, empresa que pertence à Odebrecht Ambiental e detém a concessão para esgotamento sanitário na cidade, tem planos ambiciosos. A meta é tratar 100% dos resíduos coletados, começando a atingir esse índice no ano que vem. Até 2015 fica pronta a estação de tratamento de esgoto (ETE) da empresa, com capacidade para processar 1.125 litros por segundo. Parece simples?

A resposta é não. A estação é o elo final da cadeia e parte dos investimentos de R$ 167 milhões, dos quais 90% são financiados pela Caixa Econômica Federal. Além dela, a Foz precisa entregar uma rede consistente para transportar o esgoto das residências até a ETE. Fazem parte dessa obra a instalação de 22 km de troncos coletores, a tubulação que se interliga à rede secundária (aquela que passa em frente às casas) e aos interceptadores (os que afastam o esgoto até a ETE). Fabricados em manilha de concreto, com diâmetros de 200 mm a 600 mm, os troncos coletores estão no meio das estruturas. Já a rede secundária somaria cerca de 560 km e foi expandida nos últimos anos, desde que a Foz assumiu a concessão do serviço. Etapa quase final do transporte, os interceptadores são enormes tubulações com entre 600 mm e 1200 mm e que estão sendo implantados por métodos não-destrutivos, ou seja, sem abertura de valas.

Assim como enfrenta o desafio de construir uma rede quase que completa para transportar o esgoto até seu destino final, a Foz não tinha espaço – literalmente – para instalar uma planta convencional. O terreno disponível tem 45 mil m2, com 70 metros de largura. É quase uma “tripa”, mas aqui entra a engenharia. A solução foi visitar a Tailândia, onde funcionam três ou quatro plantas com o sistema de reatores de batelada sequenciais avançados. Resumidamente: a tecnologia exige menos terreno e é otimizada. Tem duas etapas primárias rápidas, envolvendo uma grade para separação de materiais não-orgânicos e um equipamento que recolhe a areia em suspensão.

A partir daí é o tratamento em si no reator, que funciona como decantador. Será o primeiro desse tipo no grupo Odebrecht e o segundo no Brasil, onde já existe outra ETE similar em Jau, no interior de São Paulo. Depois de quatro horas de ciclo de tratamento, temos uma água com redução de 90% da carga orgânica (DBO) e que segue para o rio Tamanduateí. Com isso, a cidade deixe da lançar o esgoto bruto no “rio dos tamanduás”, seu nome em tupi. Ao contrário do nosso trem, da Luz direto para Mauá, o Tamanduateí segue para São Paulo, desembocando no Tietê.

Ainda falando em números: ao tratar 100% do esgoto, a Foz se refere ao material coletado. Em termos de cobertura, a concessionária estará atendendo 86% da população em 2015, chegando a 95% em 2020. Não é pouco, pois tecnicamente ninguém atinge a totalidade. A saber: nem todas as residências têm viabilidade de serem interligadas à rede secundárias, por estarem em zonas de ocupação irregular (de preservação ambiental). Apesar disso é um avanço num país onde a média de coleta é de 48% e apenas 37,5% do esgoto produzido é tratado.

No rol de desafios da Foz acrescente-se ainda um problema comum no Brasil: apesar de ter um sistema de separador absoluto, ou seja, a rede pluvial não faz parte da malha de canalizações de esgoto, não avisaram a população a respeito. O problema é que grande parte das residências carreia a água das chuvas para o esgoto. Essa é uma das razões dos vários sistemas de triagem nas ETEs, antecedendo ao tratamento em si. E ainda mais: para dar conta das desobstruções da rede e de outras atividades de manutenção, a Foz mantém uma frota própria de 45 veículos. O grupo inclui de caminhões com jato e vácuo até veículos médios, passando por retroescavadeiras. Dos 170 colaboradores, 60% estão alocados na área operacional, reforçando o peso da concessão na cidade paulista.