Consumo de energia cai em todos os setores industriais

Da resenha mensal da EPE – 04.04.2016 – 

Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram queda em praticamente todos os setores industriais do país, funcionando como um espelho da desaceleração atual. 

Em fevereiro de 2016, o consumo de eletricidade da indústria totalizou 13.375 GWh, refletindo uma retração de 7,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Dados do CAGED mostram que foram eliminados 26.187 empregos formais em fevereiro deste ano na indústria de transformação. A pesquisa PIM-PF do IBGE apontou redução no ritmo produtivo de 13,8% em janeiro, na comparação anual.

As estatísticas de consumo do ramo alimentício sinalizaram ligeiro avanço (+0,6%), principalmente nas regiões Sul (+1,6%) e Centro-Oeste (+6,5%). Entre os crescimentos mais relevantes, estão o de Mato Grosso (+11,3%), associado ao abate e produção de carne bovina e de frango e ao esmagamento de soja, e o do Paraná (+8,1%), sustentado pelo abate de aves e suínos e pela fabricação de ração para animais. No Sudeste (-0,6%), o Espírito Santo exibiu o maior aumento (+10,6%), impulsionado pela produção de bombons, chocolates e carnes bovinas frescas e congeladas.

Em contrapartida, a indústria alimentícia nordestina registrou a maior retração (-8,3%) entre as regiões. Sobressaiu o declínio de 9,3% em Pernambuco, em função da menor fabricação de farinha de milho e derivados, laticínios, moagem de trigo e produção de sorvetes e outros gelados comestíveis.

A demanda de energia no setor químico anotou alguma estabilidade (+0,1%), com desempenho bastante diversificado entre os estados: queda em São Paulo (-3,8%) e Minas Gerais (-6,6%) e expansão na Bahia (+13,7%) e Alagoas (+8,7%), terceiro e quarto maiores consumidores de energia do segmento (o mais expressivo do Nordeste, representando cerca de 22% do consumo industrial da região).

Destaque para os incrementos na produção nordestina de petroquímicos básicos, intermediários para plastificantes, resinas e fibras sintéticas. Segundo a Abiquim, o setor químico vem operando com patamar de utilização da capacidade instalada em torno de 78%, muito baixo para um ramo industrial que trabalha em processo contínuo. Esta performance está vinculada ao forte declínio do mercado interno, uma vez que muitos segmentos que demandam da cadeia química estão debilitados, como a indústria automobilística, construção civil, embalagens e linha branca.

O setor extrativo de minerais metálicos, quinto no ranking de consumo de energia elétrica, registrou decréscimo de 19,4% em fevereiro, o maior da indústria. Bahia (-7,2%), Minas Gerais (-6,7%) e Espírito Santo (-38,7%) apresentaram as maiores quedas, relacionadas aos declínios na produção de minerais metálicos não-ferrosos, minério de ferro e pelotização, respectivamente.

A retração na Fabricação de produtos de borracha e material plástico foi de 12,5% em fevereiro. São Paulo, que corresponde quase à metade do segmento, exibiu recuo de 11,8%, em grande parte pela menor fabricação de artefatos de borracha e de material plástico, embalagens plásticas e laminados planos e tubulares. A queda no setor está ligada ao cenário adverso dos ramos demandantes, tais como o de bens de capital, automotivo, entre outros.

No segmento de Fabricação de Papel e Celulose (-1,4%), o Rio Grande do Sul (-54,4%) anotou a maior retração entre os estados, visto que um grande cliente deixou de demandar energia da rede para consumir por autoprodução, a partir de geração térmica própria.

O setor de Fabricação de Produtos de Madeira, muito relacionado com a construção civil e com a indústria moveleira, expressou decréscimo de 14,3% em fevereiro. Rio Grande do Sul (-15,7%) e Paraná (-6,7%) retrataram quedas na fabricação de desdobramentos de madeira, artefatos diversos de madeira, cortiça e material trançado e na produção de madeira laminada e de chapas de madeira compensada, prensada e aglomerada. A retração no Pará (-46,9%) está relacionada a um grande cliente que vem utilizando cogeração de energia. Já o setor têxtil (-17,0%) registrou decréscimo generalizado entre os estados.

No Nordeste (-17,0%), Alagoas (-52,0%), Ceará (-13,2%), Sergipe (-14,4%) e Rio Grande do Norte (-8,3%) foram impactados pelas quedas na preparação e fiação de fibras têxteis, fiação de fibras artificiais e de algodão, produção de tecidos de denim e índigo e tecelagem. Em Sergipe, o setor foi impactado pelo desligamento de planta de um grande consumidor.

Por fim, a metalurgia declinou 2,7% em fevereiro, influenciada pelo Nordeste que diminuiu o seu consumo pela metade (maior queda regional), resultado do enfraquecimento da siderurgia no Ceará (-7,3%) e Pernambuco (-6,3%), das ferroligas na Bahia (-25,5%) e da metalurgia do alumínio no Maranhão (-87,2%).