Correnteza do Rio Tocantins vai gerar mais energia elétrica

Por Rodrigo Conceição Santos e Thomas Tjabbes – 7 de novembro de 2014

A hidrocinética será usada pela primeira vez no Brasil – e talvez no mundo – em águas fluviais

energia-limpaNada como uma onda, depois de outra onda, depois de outra onda, depois de outra onda… para gerar energia elétrica. Isso mesmo, a hidrocinética – técnica que aproveita da movimentação natural de fluídos (água, geralmente) para gerar energia – será aplicada pela Usina Hidroelétrica de Tucuruí (PA). Será a primeira vez no mundo que a tecnologia será usada em águas fluviais e a intenção é abastecer parte da comunidade ribeirinha no Pará.

Desenvolvido em cooperação técnica entre a Eletronorte e a Itaipu, o acordo foi assinado nesta semana, durante o 1º Seminário sobre Parques Hidroelétricos e Hidrocinéticos Fluviais, realizado na própria UHE de Tucuruí. O projeto ainda não detalha a quantidade de energia que será gerada, mas sabe-se que a intenção é abastecer a comunidade ribeirinha no Pará em primeira instância.

Rio Tocantins
Rio Tocantins

Esse sistema se torna mais interessante porque permitirá que o Rio Tocantins seja gerador de energia duas vezes. A primeira no barramento convencional usado por Tucuruí. Depois no aproveitamento das águas já vertidas ou turbinadas para gerar energia hidrocinética. Nessa segunda etapa, serão utilizadas turbinas com capacidade de 500 kW, instaladas inicialmente entre a margem direita do Rio Tocantins e uma ilha fluvial.

O sistema de Tucuruí será composto por um conjunto de unidades hidrogeradoras hidrocinéticas, que não precisam de barramento dos rios, gerando energia apenas pela velocidade das correntezas. Segundo os pesquisadores, o local foi escolhido porque as correntes de água turbinada, que correm por um longo trecho de fuga do Rio Tocantins, seguem a velocidade de 1 a 2,5 metros por segundo, o suficiente para a geração hidrocinética.

Para o assessor de Energias Renováveis da Itaipu Binacional, Cícero Bley, o Brasil possui 12% de toda a água livre do mundo, gerando uma oportunidade gigantesca para maiores investimentos em geração de energia desse tipo. “A energia hidrocinética é uma declaração de amor às águas e aos povos que ainda não foram aquinhoados pelo sistema Interligado Nacional de Energia. Por isso a nossa iniciativa conjunta é um bem maior para os povos ribeirinhos”, diz.

No evento desta semana, além de apresentar o projeto hidrocinético da UHE de Tucuruí, a Eletronorte e a Itaipú assinaram acordo de intenções para mapear o potencial dessa solução nas águas brasileiras, com foco em situações de jusante nas barragens.

Energia Hidrocinética já é produzida no mar do Ceará
Apesar de ser nova a aplicação fluvial desse tipo de geração, nos mares brasileiros a história é mais antiga. Em novembro de 2012, o Porto de Pecém, no Ceará, recebeu a primeira Usina Hidrocinética de Ondas da América Latina, instalada no quebra-mar do porto.

Sistema instalado em Pecém
Sistema instalado em Pecém

O projeto, de propósito experimental e 100% nacional, foi desenvolvido pelo Instituto Aberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Enenharia (COPPE), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O financiamento veio da empresa Tractebel Energia e do próprio governo cearense.

Nesse caso, foram desenhados flutuadores de 10 metros de diâmetro, acoplados a braços mecânicos de 22 metros de comprimento. Com o movimento das ondas, o flutuador movimenta o braço e aciona uma bomba hidráulica, injetando água para o gerador. O jato proveniente desse movimento equivale a uma coluna de água de 400 metros – o mesmo de muitas hidroelétricas.

Segundo o Laboratório de Tecnologia Submarina (LTS) do COPPE, o potencial energético das ondas no Brasil é estimado em 87 gigawatts e se estende pelas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Pesquisadores do grupo indicam que é possível converter cerca de 20% desse potencial em energia elétrica, o que equivale a 17% da capacidade total instalada no país atualmente.