Dessalinização já é opção para a crise hídrica?

Por Rodrigo Conceição Santos – 13.07.2015 – 

A seca do ano passado abriu discussão para o uso da tecnologia, que já tem experiências sólidas no mundo e está sendo cotada inclusive pelo governo do Rio de Janeiro.

 

No Brasil, mesmo com sua extensa faixa litorânea, a dessalinização nunca foi opção dado o alto custo de instalação e operação quando comparada às soluções de tratamento de água doce. Com a crise hídrica iniciada no ano passado, todavia, ela entrou em pauta e o InfraROI também começa a apurar até que ponto ela é viável. Nesta reportagem, a primeira constatação é que o custo de implantação vem diminuindo ano após ano, mas ainda é alto.

grafico dessalEm 1980, segundo levantamento da Nova Opersan (veja gráfico), a produção de cada m³ de água dessalinizada custava US$ 3,50. Hoje custa US$ 2,00. Além disso, a experiência positiva de outros países vem mobilizando a opinião pública a respeito do dessal. Em Israel, por exemplo, são tratados 388 m³ de água do mar por dia. Na Espanha já são 240 m³/dia e outros países como Arábia Saudita, Austrália e China também avançaram com grandes plantas.

Diogo Taranto, diretor de operações da Nova Opersan, valida que o custo é o principal impeditivo para a adoção da tecnologia no Brasil, e ele decorre principalmente do valor das membranas de filtração, principal tecnologia usada no tratamento da água. “Por outro lado, as recentes faltas de chuvas nas grandes regiões metropolitanas do país, a redução do volume nos reservatórios de água doce e consequentes desdobramentos para possíveis racionamentos, fizeram com que empresas e municípios próximos ao litoral iniciassem análises de viabilidade para implantação de sistemas de dessalinização para abastecimento público”, pondera ele.

O estado do Rio de Janeiro é um caso clássico. Em fevereiro, o governador Luiz Fernando Pezão, encomendou, de uma empresa espanhola, projeto de usina de dessalinização de água com capacidade para abastecer um milhão de pessoas. O projeto não andou até agora, mas a consulta foi uma espécie de chancela de que a tecnologia é capaz de minimizar o efeito negativo dos reservatórios de água da cidade, que operavam em baixa capacidade (chegando a 3,14%), no final de 2014.

“Esse exemplo, em menor escala, poderia ser replicado para cidades litorâneas com objetivo de suprir a falta de abastecimento de água em períodos de pico, como festas de fim de ano e feriados prolongados, ou ainda em empresas localizadas no litoral e que dependem da água como recurso importante dentro de seu processo industrial”, avalia Diogo Taranto.

Na avaliação do especialista, o mercado está evoluindo e hoje há companhias de tratamento de água no Brasil com a expertise necessária para projetar, instalar e até operar sistemas de dessalinização, fazendo com que as barreiras tecnológicas não mais sejam um obstáculo na viabilidade de fontes alternativas de abastecimento público e privado. “O que ainda deixa dúvida são os custos de operação e manutenção, que podem ser até quatro vezes maior do que o valor do metro cúbico da água doce tratada”, diz ele. “Mas, reforço, a cada ano essa diferença está diminuindo, seja pelo encarecimento gerado pela dificuldade na captação e tratamento da água doce, ou seja pela própria redução dos custos dos sistemas de dessalinização, decorrente do avanço tecnológico dos processos, materiais e equipamentos aplicados”, conclui.