É possível minimizar as tragédias de queda de barreiras?

Paulo Afonso Luz – 11.04.2019 – 

Sim, é possível, como detalha esse artigo do especialista em geotecnia 

Popularmente conhecidos como “queda de barreiras”, os escorregamentos de encostas naturais ou de taludes construídos pelo homem (nas obras de aterros e de escavações para estradas, loteamentos, barragens, etc) são um problema muito sério, tanto nas cidades quanto nas rodovias, principalmente quando estão localizadas em regiões serranas, pois podem causar vítimas fatais, o que é irreversível – como reparar a perda de muitas vidas humanas?

Além disso, podem acarretar danos materiais elevados, tais como: destruição de casas, edifícios, carros, ruas, etc. Também podem provocar desastres ambientais muito graves, como a poluição em rios, córregos e aquíferos, por causa do solo que vem escorregado das encostas ser transportado para esses locais.

Geralmente, esses escorregamentos de encostas ocorrem na época de chuvas de verão, principalmente no final do período chuvoso, entre o final do mês de janeiro até o final de março. Isto tem uma explicação: nessa época o solo natural da encosta já está saturado (encharcado) e às vezes uma pequena quantidade de chuva é suficiente para disparar (deflagrar) o fenômeno do escorregamento em si, pois a água em excesso diminui a resistência do solo.

Rio de Janeiro e rodovias ao longo do litoral estão entre os locais de deslizamentos

Este processo é o que tem acontecido nas encostas da cidade do Rio de Janeiro e em outras cidades em regiões de serras, como Petrópolis, Teresópolis, além de ocorrer em estradas como Rodovia dos Tamoios, Rio-Santos, Mogi-Bertioga, Via Anchieta, etc.

Em termos de Engenharia Civil (área de Geotecnia), é possível estudar esses locais e minimizar os riscos de ocorrer um escorregamento. Para tanto, essas encostas devem ser inspecionadas visualmente por engenheiros geotécnicos e geólogos, à procura de sinais que possam indicar a ocorrência futura (ou quase imediata) desses escorregamentos, tais como a existência de trincas, afundamentos do terreno, locais com manchas de umidade, etc.

Outra providência, também importante e fundamental, é a instalação de instrumentos (aparelhos) que permitem um acompanhamento (monitoramento) mais eficiente dessas encostas ao longo do tempo. Os principais instrumentos são medidores de: deslocamentos horizontais e verticais (marcos topográficos superficiais), pressão da água dentro da encosta (piezômetros) e posição do lençol freático (nível da água no interior da encosta).

Também é importante observar que a ocupação urbana desordenada, principalmente nas áreas de encostas, acaba contribuindo para a ocorrência desses escorregamentos. Daí a importância de o Poder Público atuar no sentido de minimizar e prevenir os riscos trazidos por essas ocupações.

*Paulo Afonso Luz é professor de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em Geotecnia. Está disponível para entrevistas. Caso necessite de foto, por favor, entre em contato.