A discussão do painel Expert Talks – Cenário econômico e seus impactos na reindustrialização do Brasil, realizado durante o Seminário de Gás Natural na última quarta-feira (14), no Rio de Janeiro, se focou na defesa por políticas públicas bem estruturadas, fundamentadas em dados e estudos técnicos, para promover um efetivo desenvolvimento do mercado de gás no Brasil.
Para o economista Marcos Lisboa, sócio-diretor da Gibraltar Consulting, a Medida Provisória (MP) 579/2012 serve como exemplo de política mal desenhada. A medida tinha como objetivo reduzir o custo da energia elétrica para o consumidor final, mas acabou impactando negativamente as empresas do setor elétrico. Segundo ele, gerou um amplo impacto na macroeconomia com aumento da inflação, redução de produtividade e ampliação de custos.
O economista, que dirigiu o Insper de 2013 a 2023 e foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda de 2003 a 2005, além de outros cargos em instituições acadêmicas e financeiras, destacou que a indústria brasileira tem em média uma baixa produtividade, e por esse motivo o crescimento econômico tem sido muito volátil, abaixo da média mundial.
“A volatilidade da economia brasileira é grande, especialmente no período pré-pandemia. O Brasil teve 14 anos de crise econômica nas últimas décadas, enquanto economias maduras têm cerca de três a quatro anos de crise econômica”, avaliou.
Para Lisboa, o crescimento econômico tem a ver com aumento da produtividade, e isso por sua vez é ligado à implementação de tecnologia. “Ficamos mais pobres com relação ao resto do mundo. Faltou produtividade, que é a capacidade de fazer mais com o mesmo investimento. Os Estados Unidos cresceram 38% desde 1994. O Brasil alcançou um crescimento de 18% no mesmo período”, comparou.
Grandes usuários industriais discutem a competitividade do gás natural
Fomentar a demanda de gás no setor industrial pode ser um vetor para o crescimento do mercado de gás no País. Grandes empresas com consumos expressivos de gás e expectativa de aumento da demanda no mercado brasileiro apresentaram suas experiências no painel “Debate sobre o futuro da demanda de gás na indústria”, realizado na sequência durante o Seminário de Gás Natural.
A Vale, por exemplo, utiliza o gás para aquecimento de fornos na produção, consumindo cerca de 1 milhão de m³/dia. O custo do gás é um item estratégico na operação da empresa que possui como seu principal cliente a China e por isso já apresenta uma desvantagem logística frente a seus concorrentes localizados em regiões como África e Ásia. “Somos pouco líquidos no gás, já evoluímos muito, mas podemos melhorar mais”, ressaltou Leticia Garcez, gerente global de compras de combustíveis e lubrificantes da Vale.
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Já Viviane Lichtenstein, gerente executiva de Suprimentos da Suzano, que consome 1,5 milhão de m³/dia, destacou a visão da empresa sobre o gás natural como combustível da transição energética. “Nosso portfólio é bem amplo e temos potencial de crescimento de demanda (de gás). Apostamos no gás para um caminho da descarbonização da nossa empresa.”
Biometano: descarbonização do transporte público e cargas pesadas
Durante o painel “Novas demandas: gás natural e biometano para frotas pesadas”, Laercio Ávila, CEO do Consórcio do Sistema Metropolitano BRT, comentou que espera tornar a frota de BRT, em Goiânia (GO), um benchmark de sustentabilidade. A migração para uma frota elétrica e veículos movidos a biometano terminará no próximo ano. A meta é adicionar 500 veículos movidos a biometano à frota do transporte coletivo até o final de 2026.
A diretora comercial da Naturgy, Giselia Pontes, disse que o Rio de Janeiro tem uma ampla vocação para aplicação do GNV e do biometano. A executiva indicou que a companhia já desenvolveu corredores sustentáveis, com 100% de autonomia de gás para veículos pesados. “Queremos fazer mais 16 corredores – com investimentos de R$ 300 milhões – para que caminhões possam rodar entre Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo”, disse ela. A diretora ainda informou que no estado do Rio de Janeiro, a Naturgy possui a capacidade de abastecer as 37 garagens com gás natural.
Vinicius Reiter Pilz, diretor presidente da REITER LOG, que opera com caminhões a gás e biometano, disse que a empresa deseja sair do mercado tradicional para agregar valor com base em boas práticas de sustentabilidade. “Temos quatro contratos com a Suzano para logística, além de ter investido R$ 350 milhões em frota sustentável em 16 anos de operações”, destacou.
Érik Trench, diretor de gases renováveis da Ultragaz, apontou que a liquefação do gás natural e do biometano ainda tem custos adicionais para a indústria nacional. Na visão dele, o GNC pode ser um modal mais eficiente para abastecer os clientes.
O Seminário de Gás Natural foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).