Furukawa poderá ter mercado de quase R$ 100 milhões somente com provedores regionais

Por Nelson Valêncio – 22.07.2016 –

De olho no segmento, empresa consolida oferta fim a fim e lança linha LightDrive, produzida a partir da absorção da divisão de soluções de acesso óptico, elétrico e digital da Asga, comprada no ano passado.

Primeiro vamos aos números citados: o segmento de provedores regionais de telecomunicações representa 35% das receitas líquidas da área de redes ópticas da Furukawa. Essa divisão (as duas outras são cabeamento estruturado e exportações), por sua vez, responde por um terço da receita da empresa. No ano fiscal encerrado em março, a multinacional japonesa apurou uma receita líquida de R$ 706 milhões e indicou que vai crescer 18% no próximo período, a ser encerrado em março de 2017. Ou seja, fazendo-se uma conta rápida de padaria, os chamados ISPs, como também são conhecidos os provedores regionais, poderão trazer algo como R$ 95,8 milhões para a Furukawa no balanço do ano que vem. Nada mal para um grupo de clientes que praticamente não representava nada no resultado da companhia em 2010.

Celso Motizuqui, gerente Geral de Vendas, avalia que consolidação desse mercado acontece em função de várias iniciativas da Furukawa, incluindo o portal de vendas exclusivo para as ISPs, que entra em funcionamento de fato em agosto, a criação de equipe de suporte e de gerentes de contas para entender e orientar os projetos dos provedores e uma oferta fim a fim, incluindo ativos de rede. A compra da divisão de soluções de acesso óptico, elétrico e digital da Asga, no ano passado, foi uma das últimas etapas para a oferta completa, que aliás não serve somente para os ISPs. De acordo com Motizuqui, a produção da Asga passou por uma adaptação, incorporando o know how internacional da Furukawa. Resultado: a multinacional lança, nesse mês, a família LightDrive, nome comercial para um escopo que inclui, entre outros , os equipamentos para redes passivas ópticas em Gigabit (GPON) para as centrais das operadoras (OLT) e na ponta da rede (ONT).

Antes do fechamento do ciclo, incluindo a compra da Asga, a Furukawa já vinha fazendo uma oferta fim a fim, porém com parte dos equipamentos sendo trazida de fora. Com a produção local, a multinacional elimina os entraves de logística de importação e, ao mesmo tempo, aumenta o grupo de produtos “finamizáveis”, ou seja, passíveis de serem comprados via cartão BNDES. O financiamento de equipamentos para redes, aliás, foi outro ponto atacado pela empresa. Motizuqui destaca que a Furukawa lançou seu próprio cartão (juros de 1,6% ao mês) justamente para atender a demanda dos provedores regionais. “Os agentes que intermediam o financiamento do BNDES não conseguem entender o perfil dos ISPs e não possuem uma metodologia de avaliação de risco e de crédito adequado para o segmento”, diz ele.

O lançamento do LightDrive vem acompanhado de outras soluções de ativação de rede em campo, incluindo a pré-conectorização, que permite a instalação da infraestrutura óptica até a casa do assinante (FTTH) sem a necessidade de fusão de fibra óptica na hora da derivação da rede. A linha de cabos pré-conectorizados, de tecnologia japonesa, já vem sendo fabricada no Brasil, segundo Motizuqui, e pode aumentar o tempo de instalação do FTTH em até cinco vezes, além de evitar problemas como os de fusão mal executada. Em função de grande parte da infraestrutura óptica dos provedores regionais ser aérea, a pré-conectorização também eliminaria os riscos de movimentação de equipamentos até os postes durante a instalação.

O entendimento da cultura dos provedores igualmente tem ajudado a Furukawa a identificar os erros da forte transição que acontece no setor, do cenário de redes ópticas de rádio digital com fibra óptica para um futuro exclusivamente de infraestrutura óptica. “O rádio digital foi uma solução adequada porque permite a expansão rápida da cobertura, de acordo com a demanda de assinantes, mas as redes ópticas exigem um planejamento, inclusive um plano de negócios que justifique a expansão”, argumenta Motizuqui. De acordo com o executivo, a mudança de cultura vem acontecendo no setor.

Apesar do incremento dos ISPs, o executivo lembra que os resultados projetados da Furukawa para o ano fiscal de 2017 levam em consideração as exportações e a oferta de produtos de maior valor agregado para todas as áreas de negócios. Especificamente no de redes ópticas, o segmento de grandes operadoras – com maior peso – continua em compasso de espera. De um lado, o mercado aguarda a definição da Oi a respeito de seu endividamento. De outro, as operadoras que investiram forte em rede óptica recentemente têm tentado rentabilizar as inversões.

No segmento de utilities e governo – que responde por 20% das receitas da divisão de redes ópticas –  o crescimento é mais orgânico. Há oportunidades na expansão do smart grid entre as distribuidoras de energia, o que exige cabos ópticos aéreos mais adequados, e há ainda melhorias nas redes das concessionárias de rodovia. No geral, Motizuqui lembra que os especialistas em infraestrutura óptica falam numa redução de 30% no volume de 3,7 milhões de km fibras ópticos demandados pelo Brasil em 2015.