Gigante chinesa das telecomunicações entra no mercado brasileiro de transporte

Por Nelson Valêncio – 18.08.2016 – 

Romulo HortaConhecida no setor de telecomunicações, principalmente como fornecedora de infraestrutura paras as operadoras, a Huawei avança no segmento de transporte com soluções para os monotrilhos de São Paulo e os VLTs do Rio de Janeiro e de Santos. Nesta entrevista, Rômulo Horta, diretor da área Enterprise da multinacional, explica o que a fabricante chinesa tem instalado e como ela pretende crescer no setor.

Infraroi: Quais são as soluções da Huawei para área de transporte?
Rômulo Horta: Quando falamos sobre transporte, temos várias áreas de atuação e uma delas para a Huawei é a de monotrilhos e metrôs. Nesse caso, o fornecimento envolve soluções de comunicação como um todo, incluindo infraestrutura de redes IP. É o caso dos projetos onde estamos atuando no Brasil, os quais envolvem backbone IP (rede principal) nos projetos de monotrilho. Também temos tecnologias para auxiliar na comunicação dos trens e na sinalização, controle dos vagões e os equipamentos de comunicação das máquinas com as estações de transporte.

Infraroi: Especificamente, o que isso envolve em termos de equipamentos?
RH: Tudo o que é necessário para uma rede de backbone, desde componentes como switch, fibra óptica e soluções de gerenciamento e o que mais for preciso para instalar um backbone IP.

Infraroi: No caso da fibra óptica, são vocês que fabricam ou acabam incorporando de terceiros?
RH: A fibra é basicamente um cabo e, na parte de cabos, usamos os produtos de terceiros, mas todo o controle de alta velocidade e controle da fibra óptica é tecnologia Huawei.

Infraroi: Que tecnologias estão envolvidas no controle de tráfego?
RH: Soluções para controle de velocidade dos trens e toda parte de telemetria. Alguns trens, inclusive, atuam sem a presença do maquinista, ou seja, com tecnologia driverless. Esse tipo de controle é muito critico: não pode haver falhas, precisa de comunicação de alta velocidade. Para esse segmento, trazemos a comunicação sem fio baseada em rede celular. Nós temos a primeira comunicação, no padrão GSMR, desenvolvida e aplicada para o segmento de transporte ferroviário, que é o eLTE, baseado no 4G das operadoras de telecomunicações. Trata-se de uma rede 4G privada. Com ela, os usuários têm muito mais controle dos dados. E ainda mais: a ativação dessa tecnologia permite ainda que se ofereça o acesso à internet aos passageiros dentro dos vagões.

Infraroi: Existem aplicações como essas já consolidadas fora do Brasil?
RH: Sim. Na China, na Europa, Emirados Árabes e Equador.

Infraroi: As soluções também se repetem para as redes de Veículos Leves de Transporte (VLTs)?
RH: Sim. A tecnologia funciona para os dois tipos de modal, porque o sistema de transporte ferroviário e o VLT são muito parecidos e a parte de infraestrutura e tecnologia é basicamente a mesma.

Infraroi: Onde estão acontecendo os projetos com participação da Huawei?
RH: Em São Paulo, estamos participando do monotrilho, com as linhas 15 e 17. Já nos VLTs, a tecnologia será ativada em Santos e no Rio de Janeiro, cidades com características comuns, ou seja, litorâneas e onde a proximidade do mar exige equipamentos mais resistentes. Se eles não forem protegidos adequadamente, acabam sofrendo e perdendo a qualidade. Os dispositivos instalados são da mesma família que vem sendo adotada em outros locais ainda mais hostis, caso das plataformas de petróleo.

Infraroi: A instalação do VLT no Rio de Janeiro parece ser mais complexa do que a de Santos. Qual a razão?
RH: Porque no caso do Rio de Janeiro, o VLT já usa a parte da infraestrutura do backbone para sinalização e não somente para comunicação de dados entre os trens e as estações. No VLT carioca há um anel de dados para telecomunicações e dois para sinalização, que precisa ser mais robusta para não haver falhas.

Infraroi: Em que fase estão esses projetos?
RH: A parte de tecnologia está em implantação e a parte física já está instalada em alguns casos, mas ainda não foi lançada porque temos ajustes a serem feitos.

Infraroi: Esse é um mercado interessante dentro do faturamento de Enterprise?
RH: Sim, é um mercado que a gente está apostando muito globalmente, embora bastante pulverizado. Estamos acompanhando todos os projetos que vêm sendo lançados pelos governos.

Infraroi: Existe algum tipo de trabalho da Huawei nas áreas de indústria pesada como química e petroquímica?
RH: Em óleo e gás, a tecnologia está muito presente desde a área de comunicação entre os próprios funcionários até a área de controle e monitoramento para os data centers. A Petrobras, por exemplo, adotou nosso sistema de data center em contêiner na Refinaria de Duque de Caxias. Mas é interessante lembrar que o mesmo tipo de instalação pode ser replicado em áreas corporativas diferentes e o caso do Mackenzie, em São Paulo, é um exemplo. Nele, a procura por um data center em contêiner aconteceu porque a universidade precisava de uma planta resistente à vibrações, pois o Metrô estava executando obras perto do campus. Já o antigo centro de dados virou salas de aula.