Infra Latino-Americana: O retorno dos Hermanos

Por Fausto Oliveira – 09.10.2017 – 

Parece que ficaram definitivamente para trás os anos Kirchner na Argentina. E o setor de construção de infraestrutura e imobiliária já responde muito positivamente à nova gestão proposta pelo governo de Mauricio Macri. Não são poucos os dados que comprovam que os Hermanos estão de volta à ativa, e isso deve ser visto de perto pelo empresariado brasileiro: a Argentina agora é um campo aberto de oportunidades.

De acordo com os últimos dados do Indicador Sintético da Atividade de Construção do país, em agosto de 2017 a indústria da construção cresceu 13% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O acumulado dos primeiros oito meses do ano mostra aumento de 9,5% na produção do setor em comparação com o mesmo período do ano de 2016.

No que toca o setor imobiliário, as notícias também são boas. A superfície licenciada para obras privadas está em franco crescimento. Em um conjunto de 41 municípios do país, as licenças de construção registraram aumento médio de 10,6% em agosto em relação ao mês anterior. E com relação ao mesmo mês de 2016, esta mesma média mostrou um crescimento de 20,5%.

A mesma pesquisa oficial recém divulgada mostrou que 64% das construtoras que se dedicam a obras privadas acreditam que haverá ainda mais aumento no nível de atividade no último trimestre. Tudo, enfim, parece indicar um passo firme em direção a um período de atividade consistente. Mas nossa tarefa aqui é interpretar os fenômenos econômicos da América Latina, então perguntamos: de onde vem essa onda de crescimento da construção argentina?

Infraestrutura e obras públicas
A Argentina vive neste momento o mesmo ânimo conhecido pelo Brasil quando o governo federal anunciou os grandes projetos do PAC, já se vão mais ou menos dez anos. Tal como aqui, a euforia deles está em alta, mas ao que parece a credibilidade dos projetos é um tanto maior do que no Brasil (que jogou fora sua credibilidade internacional).

A lista é grande e os valores são significativos. Segundo o ministro de Finanças do país, Luis Caputo, o plano  é chegar a investir 3,5% do PIB em infraestrutura. Para isso, um plano de PPPs de seu Ministério já recebeu 59 projetos, segundo ele com valor total de US$ 26 bilhões. Nestas iniciativas, encontram-se obras rodoviárias que deverão incluir 6,8 mil Km de grandes rodovias, 4 mil Km de estradas e 3 mil Km de linhas de transmissão elétrica.

Isso é apenas parte do orçamento de infraestrutura previsto para os próximos anos. Só em 2018, na Argentina, o orçamento para grandes obras é equivalente a nada menos do que R$ 79 bilhões, aproximadamente.

O que não chega exatamente a ser absurdo se incluirmos na análise o elemento BID, o famoso Banco Interamericano de Desenvolvimento. Numa mostra clara de que as instituições financeiras multilaterais querem com toda força emprestar dinheiro para projetos de desenvolvimento, o BID já liberou para nosso vizinho três linhas de financiamento dedicadas à infraestrutura (todas na gestão Macri). A primeira delas, em 2016, foi de US$ 1,2 bilhão. Este ano os valores do BID entrando na Argentina chegarão a US$ 2,3 bilhões e no ano que vem espera-se que os créditos novos cheguem a US$ 6 bilhões.

Daí porque você não deve achar estranho se ler na internet que a usina hidrelétrica de Yaciretá (a “Itaipu” que a Argentina tem com o Paraguai) será ampliada ao custo de US$ 1 bilhão. Ou que o Plano Belgrano pretende universalizar serviços de água e saneamento em dez províncias do norte do país, a região mais pobre e necessitada da Argentina.

A diferença de momento entre as duas maiores economias da América do Sul reside, é claro, na credibilidade global. Os mesmos financiamentos e investimentos privados que agora irrigam a economia argentina poderiam estar (e um dia estarão) irrigando o Brasil. Mas entre a estabilidade de um governo liberal que maneja bem o dia a dia da política e promove o investimento privado, e outro que diz que vai reduzir o déficit público enquanto paga o que for para se salvar de denúncias, os investidores sabem bem para onde ir. Nada do que acontece agora é surpresa.

Mas o que interessa para nós agora é que o empresariado brasileiro tem muito a ganhar com o novo crescimento argentino. Afinal, eles ainda são o nosso principal parceiro comercial na região. Se aqui tudo ainda está parado, a demanda na Argentina só cresce pelos seguintes produtos: concreto, asfalto, agregados, aço, cerâmicas, químicos, petroquímicos, máquinas e equipamentos, veículos e autopeças, aviões, eletroeletrônicos, produtos de consumo, para não falar do setor de serviços associados a tudo isso.

Uma infinidade de oportunidades que deveria nos levar a festejar o retorno à vida econômica dos nossos Hermanos argentinos.

* Fausto Oliveira é Jornalista. Editor assistente da revista Construção Latino-Americana e correspondente brasileiro para o grupo de mídia KHL, publica a coluna Infra Latino-Americana mensalmente no InfraROI.