Legalização de estrangeiros pode ajudar construção civil nos EUA

Redação (com informações do Equipment World) – 10.06.2019 –

Em uma reportagem de Don McLoud, publicada na semana passada no site especializado Equipment World, o CEO da AGC (associação de empreiteiros nos EUA), Stephen Sandherr, defende que a legalização de imigrantes é essencial para o crescimento da construção civil no país. A entrevista ocorreu após lei aprovada pela câmara norte-americana para dar proteção temporária a 2,5 milhões de dreamers (imigrantes sonhadores – já explicaremos).

O projeto venceu na câmara onde a maioria é democrata e ainda teve a adesão de sete republicanos, mas a tendência é que o senado, de maioria republicana, o vete. Se isso não ocorrer, Trump já avisou que veterá caso chegue o assunto à sua mesa.

“A falta de ação (legalização de estrangeiros) removerá dezenas de milhares de homens e mulheres da força de trabalho doméstica em uma época em que a grande maioria dos empreiteiros relata dificuldades em encontrar trabalhadores qualificados “, disse ele. “Sem esses trabalhadores, projetos de construção em muitas partes do país, particularmente em regiões com grande presença dos chamados sonhadores e indivíduos com status de proteção temporária, serão significativamente interrompidos”, completa.

Dreamers
Os “sonhadores” são pessoas nascidas nos Estados Unidos, mas de país que estavam no país ilegalmente. Esses imigrantes, com estatus de proteção temporária, devem vir necessariamente de países vivendo (ou que viveram à época) situações reconhecidos pelos EUA como de crise. “Os homens e mulheres cobertos por esta medida estão fazendo contribuições essenciais para o desenvolvimento econômico e projetos de infraestrutura em todo o país”, reforça Sandherr. “Além disso, essa medida representa um importante primeiro passo na reforma do sistema de imigração quebrado do país. De fato, essa associação defende há muito tempo e continua defendendo reformas mais amplas em nosso sistema de imigração, que incluem medidas de segurança de fronteiras melhoradas e programas de trabalhadores convidados baseados no mercado”, salienta.

Conjuntura
Em reportagem de 2018, o InfraROI relatou o crescimento de 2,6% no mercado de cimento nos EUA, já levantando a problemática com a falta de mão de obra para a construção. “Os investimentos em construção coincidem com o momento econômico do país, que está em ascensão, com baixa taxa de desemprego”, disse Ed Sullivan, vice-presidente sênior e economista chefe da America’s Cement Manufacturers (PCA) – uma associação que representa a indústria cimenteira norte-americana. Em contrapartida, ponderou ele, é preciso atentar para a escassez de mão de obra e para a inflação dos preços do setor, algo que naturalmente acontece com o aquecimento dos negócios.

É por isso que ele relativiza as políticas de Donald Trump. Pois, se por um lado é estimulante a promessa de 1 trilhão de dólares investido em infraestrutura durante os quatro anos de seu governo, por outro o cerco anti-imigração pode acelerar a falta de mão de obra na construção civil e ainda prejudicar o crescimento das obras residenciais, já que a demanda por novas moradias diminuiria igualmente.

Hoje, as obras residenciais são responsáveis por 43,5% do volume de construção no país. Obras para educação e hotéis vêm na sequência, com 17% e 12,5%, respectivamente.  Escritórios ficam com 7,4% da fatia, enquanto obras hospitalares com 7,2%. As construções industriais representam 5,8% dos investimentos no setor e as obras públicas – isso mesmo: infraestrutura – apenas 3,5%. “Com o pacote de Trump isso deve mudar, mas só a partir deste ano. Afinal, historicamente os governos não investem nem 10% do prometido no primeiro ano de mandato”, diz Sullivan.

No cenário geral, a expectativa dele é de que o setor da construção cresce nos próximos anos. O desafio então, passa a ser emplacar as estruturas de concreto no lugar de outras concorrentes, principalmente madeira.

Madeira de lei compete com alvernaria em construções

A madeira ficou realmente forte no mercado norte-americano. Pelos dados da PCA, em menos de três décadas ela inverteu o papel em relação às construções de cimento. Em 1992, por exemplo, o concreto tinha mais de 30% do mercado de construção norte-americano. Hoje não chega a 20%. “Já as estruturas de madeira, que tinham 7% há 25 anos, hoje têm quase 40%”, pontua Sullivan.

Nessa briga, tudo pesa, inclusive a política anti-imigração. Afinal, para os latinos, a construção em alvenaria é culturalmente mais utilizada, e isso influencia sim no modo em que constroem nos EUA.

A empregabilidade para mão de obra pesada também é um argumento da PCA. E isso volta favorecer a permanência de imigrantes no país. “Para cada milhão de tonelada que o concreto perde em market share, 5,5 mil postos de trabalho relacionados são desativados”, defende o especialista.

Pesando a favor de Trump, ele destaca que o pacote de investimento em infraestrutura é majoritariamente destinado a obras rodoviárias, onde as pistas de concreto compactado a rolo, pontes, galerias, viadutos, etc. terão forte participação. “O governo projeta que 48% dos recursos serão para obras rodoviárias, enquanto outros 18% serão divididos entre obras de aeroportos e transporte público, ambos com alta taxa de aplicação de concreto”, diz.

Com base nesses dados, Sullivan afirma que o fim desta década será rentável para a indústria cimenteira nos Estados Unidos. “Projetamos que ela crescerá os já citados 2,6% em 2018, além de 4,5% em 2019 e 6,4% em 2020”, conclui.