Vendas de geradores de energia começam a diminuir após recordes de 2014

Depois do sucesso impulsionado pelo risco de racionamento de energia no ano passado, setor vê os negócios estagnando em decorrência da desaceleração econômica.

Por Rodrigo Conceição Santos e João Monteiro – 03.07.2014

Maquigeral aposta em retomada da indústria para bater novos recordes de vendas.
Maquigeral aposta em retomada da indústria para bater novos recordes de vendas.

A seca do ano passado reduziu os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas e ascendeu alerta vermelho para o risco de racionamento de energia em 2015. Foi o fait accompli para os fabricantes e distribuidores de grupos geradores de energia elétrica, setor que chegou a registrar aumento de 60% nas consultas para vendas ao varejo até o início deste ano, segundo a SDMO-Maquigeral. Mas as chuvas em volume próximo à média durante o verão, o acionamento de usinas termelétricas inativas e a desaceleração da indústria – o que as levam a precisar de menos energia – acomodou o mercado. O descarte de racionamento de energia garantido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) após o governo integrar mais 2,5 GW de energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN) até junho, também acalmou o mercado, que agora trabalha com novas expectativas.

Está chegando a hora de ascender todas as luzes, principalmente nas grandes empresas, para retomar o crescimento recorde desse mercado. Afinal, para Ricardo Gaciolli, engenheiro de vendas da Cummins Power Generation, o descarte de racionamento abre duas vertentes, sendo a positiva envolvendo a comercialização de geradores para as indústrias e comércios de grande porte, interessados em reduzir o custo com energia no horário de ponta (das 17h00 às 21h00). “Para essas aplicações, devemos ter uma retomada do mercado, que está em baixa, devido à situação econômica do país”, afirma. A prova disso, segundo ele, seria o aumento nas vendas de geradores de porte entre 500 e 625 kVA, utilizados principalmente em aplicações prime power (acionados no horário de ponta).

Vendas de geradores da Cummins para varejo foram 20% maior em 2014.
Vendas de geradores da Cummins para varejo foram 20% maior em 2014.

A segunda vertente de Gaciolli é a desaceleração nas vendas de grupos geradores para o varejo, setor para o qual forneceu equipamento para utilização de emergência (regime stand by – veja mais sobre abaixo). A avaliação dele leva em conta que, com menos risco de racionamento, as pequenas empresas e residências deixam de investir em equipamentos que garantam energia em caso de não fornecimento pela rede pública.

Mas há mais mercados promissores, na visão de Gaciolli, e um deles é o público, envolvendo justamente as vendas de geradores para atender o incremento de energia ao SIN, algo que a Cummins já estaria se beneficiando com alguns processos de compras em cotação.

Kip Schwimmer, diretor geral da Cummins Power Generation para a América do Sul, valida que as usinas de geração termelétricas compensam a deficiência da geração de energia convencional, prejudicada pela ausência de chuvas. “Portanto, esse mercado deve continuar crescendo em 2015”, diz. No ano passado, a empresa vendeu 50 unidades de geradores com de 1.563kVA de potência de geração cada um para aplicação em usinas termelétricas.

Com medo do racionamento, varejo comprou mais geradores de pequeno porte em 2014.
Com medo do racionamento, varejo comprou mais geradores de pequeno porte em 2014.

Varejo
No varejo – leiam-se residências e pequenos empreendimentos – as expectativas são menores. Depois de registrar números recordes no ano passado, caso da Cummins, que vendeu 20% mais do que em 2013, o crescimento vem reduzindo, depois de um primeiro trimestre com demanda tão alta quanto a do ano anterior. Segundo Gaciolli, o resultado atual ocorre porque o risco de racionamento diminuiu e, portanto, muitas decisões de compra foram postergadas.

Francisco Gil, diretor de marketing da SDMO-Maquigeral, valida o menor aquecimento do mercado. A empresa teve mais de 60% de aumento na quantidade de consultas para compras de grupos geradores voltados a pequenos e médios consumidores no início do ano. “Todavia, estamos comercializando somente 15% a mais do que os primeiros meses de 2014”, diz ele, confirmando a postergação de compras citada pelo seu concorrente.

Gil confirma que o risco de racionamento caiu, mas não credita isso ao incremento de capacidade de geração pública. Para o executivo, a redução de consumo no varejo se deve ao aumento do custo de energia (cerca de 40% maior em relação ao ano passado). Já nas indústrias, houve redução em função da desaceleração econômica: produz-se menos, consome-se menos. “Avaliando que devemos chegar ao final de 2015 com níveis de reservatórios piores do que os registrados no fim do ano passado e que haverá novo aumento de energia, se houver qualquer aquecimento na economia o assunto ‘racionamento’ deverá voltar às manchetes”, diz.

Volvo Penta fornece motores para geradores da Atlas Copco e Transbraz.
Volvo Penta fornece motores para geradores da Atlas Copco e Transbraz.

A Volvo Penta também vê o mercado com otimismo, principalmente porque viu suas vendas de motores para grupos geradores ampliarem em 14 mil unidades no Brasil no ano passado. Para o diretor de vendas industriais da companhia na América do Sul, João Luiz Zarpelão, isso ocorreu porque a oferta de energia está muito próxima do volume que a nossa matriz energética produz, o que aumenta o custo de distribuição. “Isso força a utilização de energias complementares, o que nos dá oportunidade de negócios.”

Ao contrário da Cummins e da SDMO, a Volvo Penta não vende o grupo gerador completo, somente o motor. “A Volvo prefere ser um parceiro desses fornecedores, ao invés de concorrer com o montador de grupos geradores”, diz, salientando que entre os seus parceiros estão a Atlas Copco e a Transbraz.

Tipos de equipamentos
Segundo Zarpelão, os geradores com mais abertura de mercado são os configurados para trabalhar no regime stand by, quando são acionados somente em situações de emergência. Esse tipo de gerador aguarda uma queda de energia para entrar em ação, o que não acontece com frequência, por isso seu uso é baixo. Geralmente, os geradores stban by são utilizados em locais que não podem ficar sem energia, como shoppings centers, hospitais e grandes comércios. Mas a sua procura tem crescido em condomínios residenciais e empresariais.

Outra aplicação de gerador de energia é a prime power, quando o equipamento é utilizado no horário de ponta. Nesse caso, o gerador funciona de quatro a cinco horas por dia, substituindo a rede convencional no horário que o fornecimento é mais caro.
A terceira configuração para geradores é a contínua, na qual o equipamento trabalha durante todo o tempo e a rede pública passa a ser usada como redundância. Essa situação é bastante comum em aplicações em lugares ermos, como canteiros de grandes obras de infraestrutura, onde a rede convencional é limitada.

Francisco Gil, da SDMO-Maquigeral, esclarece que os equipamentos que atendem a essas três situações são os mesmos. A diferença fica na potência liberada para utilização, o que leva em conta as características de carga necessária e o tipo de uso do gerador do cliente.