MMR constrói backbone com neutralidade de rede no RJ

Por Nelson Valêncio – 01.11.2017 –

Com 110 km de extensão, rede metropolitana óptica da empresa vai oferecer locação de fibra apagada, com gerenciamento e manutenção. Segundo a companhia, trata-se do primeiro modelo desse tipo no Brasil. Nessa entrevista, Nelson Lundgren, gerente comercial da MMR Telecom explica como a empresa se estruturou para o processo e estima que a rede deve estar finalizada até o começo de 2018. De acordo com ele, a operadora também estuda replicar o modelo de negócios para outras regiões do país.

Anel metropolitano de fibra apagada tem 110 km de extensão, com cinco microdutos e deve ser finalizado em março do ano que vem

InfraROI – O que é o projeto de infraestrutura óptica da MMR Telecomunicações?

Nelson Lundgren (NL) – É um braço para o mercado de telecomunicações, que vai se especializar na comercialização de infraestrutura pronta. A ideia é criar um sistema novo, uma vez que a infraestrutura física é uma barreira de entrada para as pequenas e médias empresas no mercado de massa em telecomunicações. Nossa proposta é um modelo de infraestrutura e não de telecomunicações: nós construímos a rede e alugamos uma fração desse ativo, mantendo a responsabilidade de manutenção. Não criamos nenhuma barreira de entrada e muito menos de capacidade de serviço. A capacidade que a operadora cliente conseguir iluminar, em termos de fibra óptica, é diretamente proporcional à sua capacidade de investimento. O que o usuário nos paga é a locação e a manutenção da fibra óptica.

InfraROI – Considerando a rede que a MMR está montando, qual seria o valor de investimento que um cliente deixa de fazer?

NL: Para instalar uma rede similar, ele teria que desembolsar pelo menos R$ 30 milhões. Em vez disso, aluga e ilumina quantos pares de fibra precisar, com a mesma disponibilidade de infraestrutura ao longo da cidade, dos principais bairros e também dos principais pontos de interesse, a uma fração desse custo. A eletrônica necessária para iluminar a fibra vai depender de vários fatores, inclusive se tiver acordo com seu fornecedor de IP internacional que está na ponta da rede (que faria esse processo).  Fazendo uma comparação rápida: antes você tinha que buscar alguém para te dar uma poltrona em um serviço de transporte, de uma ponta A a uma ponta B. Agora, nós estamos oferecendo a infovia completa e é você quem determina a capacidade de poltronas, ou seja, sua capacidade de investimento.

InfraROI – Entre os clientes, estamos falando de provedores regionais, caso das ISPs?

NL: Sim. Vou um pouco mais além: as médias operadoras não têm, em virtude de limitação orçamentária, esse tipo de investimento nos seus vetores e agora passam a ter. Elas escapam de um custo de operação (Opex) e passam a ter um custo de investimento (Capex) conosco. Ela pode atuar em pé de igualdade com as grandes operadoras.

Microvaletamento agiliza instalação de rede com 45 cm de profundidade

InfraROI – O valor de R$ 30 milhões é o investimento da MMR na rede?

NL: Somos uma empresa cuja raiz é um grupo de engenharia, por isso temos a condição de executar a instalação da rede por menos e é exatamente esse o ganho, essa é a sinergia do grupo. A vantagem para o nosso cliente, o novo operador, é que ele iria gastar R$ 30 milhões em uma rede que ele vai precisar de parte para infraestrutura e parte para vender. Com o modelo que apresentamos, ele pode focar no negócio primário dele e não se preocupar com em rentabilizar a obra que custou muito dinheiro.

InfraROI – Existe algum tipo de modelo de negócios parecido com o de vocês?

NL: O que existe é a comercialização de rede apagada, mas nenhum modelo que proponha a neutralidade absoluta de rede que a MMR vai oferecer. Um par de fibra que fornecemos para uma grande operadora é inegavelmente igual a que disponibilizamos para um provedor de internet. Eu não faço restrição, o preço é o de mercado e o par de fibra é rigorosamente o mesmo. A MMR também não vai iluminar a fibra óptica para atender nenhum nicho de mercado.

InfraROI – Como é o projeto da rede e em que fase está o projeto?

NL: Nós determinamos o desenho da rede analisando, no caso, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, incluindo todos os principais pontos de tráfego de telecomunicações e os fomentadores de troca de tráfego, além dos pontos de geração de conteúdo digital. Com isso em mente, planejamos para a que a rede passasse por todos eles, formando um grande anel. Na Zona Norte, por exemplo, estamos privilegiando bairros de alta densidade populacional e que sabidamente algumas operadoras móveis não têm infraestrutura e necessitam dela. Quem não tem rede fixa de fibra óptica é escravo de uma infraestrutura de microondas que é limitada na sua capacidade de transmissão. Por outro lado, se existe uma rede ela pode ser um limitador em função do preço que a operadora cobra ou pela capacidade física dos equipamentos do fornecedor. Nossa proposta é permitir que a montagem de uma infraestrutura própria, um backbone metropolitano.

InfraROI – Qual a extensão da rede?

NL: São 110 km de extensão em uma rede totalmente subterrânea, sendo que 40 km já foram finalizados. Construímos no sistema de microvaletamento, ou seja, uma vala aberta de 7,5 cm de largura e até 45 cm de profundidade. Em função dessa metodologia, a microvaletadeira ocupa uma faixa de rolagem  durante a abertura ao longo do dia e à noite a faixa de rolagem já funciona normalmente. Todo o processo envolve o uso de georradar, o que limita a trajetória e profundidade de corte. Em função da profundidade, o processo não ameaça as outras redes enterradas, permitindo que sejam lançados três microdutos de 12 mm, além de outros dois de 40 mm, específicos para reserva técnica. O cabo óptico utilizado é o de 144 fibras, que possui 8 mm de diâmetro. Nesse momento, estamos aguardando que a Furukawa homologue o cabo de 288 fibras e 11,2 mm para que ele possa ser adotado na rede. A previsão de finalização da infraestrutura é entre fevereiro e março de 2018.

Equipamentos compactos favorecem construção do anel metropolitano de 11o km de extensão

InfraROI – O fato de o mercado de infraestrutura ter reduzido a velocidade influenciou no projeto?

NL: O mercado de infraestrutura suspendeu os investimentos em virtude da crise, mas em  contrapartida o mercado de atendimento ao cliente final só cresce. O usuário de banda larga demanda mais e mais velocidade e o pequeno e médio operador se vê limitado na questão financeira, pois aumento de capacidade de banda larga é igual a aumento de preço. Os provedores regionais precisam melhorar o custo benefício da banda larga para o assinante final. Quando analisamos essa equação desequilibrada, pensamos que a maneira de equilibrá-la é oferecendo um preço fixo de banda larga para o mercado.

InfraROI – Quanto tempo vocês gestaram o projeto?

NL: Desde 2016 o Marcelo Fonseca que é o nosso diretor geral vem amadurecendo e trabalhando as variáveis de construção, elementos necessários para garantir aquilo que se tinha como objetivo na rede pronta. Cumprida a etapa inicial, começamos a construção nesse ano.

InfraROI – Um detalhe importante, a MMR vai gerenciar a rede?

NL: Vamos entregar a infraestrutura 100% gerenciada, inclusive com fibras de serviço, ou seja, de uso da MMR. Vamos acoplar equipamentos que fazem a leitura continuada de todo o anel metropolitano e, à medida que se tenha qualquer variação no monitoramento, haverá o alarme a localização do incidente. Na verdade, seremos uma operadora de infraestrutura que gerencia sua rede. As nossas equipes de manutenção são próprias, então temos capacidade para monitorar e antever um problema antes de uma ruptura de fibra óptica, por exemplo. E se houver uma variação na leitura de atenuação da fibra óptica, conseguimos disparar uma equipe de manutenção para o local e averiguar o que está acontecendo.

InfraROI – A MMR atua como contratada de alguma operadora?

NL: Também podemos fazer. Imagine uma operadora que tenha como cliente um grande condomínio. Ela pode contratar a MMR para a construção de uma ramificação entre nossa rede e o acesso ao condomínio. Uma vez construída, essa infraestrutura é da operadora e ela continua a usar o backbone da MMR para a conexão de seu cliente final.