Municípios criam cadastro web das redes de saneamento para despoluir a Baía de Guanabara

Por Rodrigo Conceição Santos – 24 de março de 2015

Mapas das tubulações de água e esgoto de 15 cidades permitirão que os responsáveis conheçam pontos fracos nas redes, planejem melhorias e reduzam o índice de perda de água potável

O cadastro de redes subterrâneas no Brasil é péssimo e isso vai desde as redes de telecomunicações até os ramais de água e esgoto. Para se ter ideia da precariedade, em vários municípios os registros ainda são em papel, feitos há anos e sem atualização de novos ramais ou mesmo de manutenções feitas nas redes durante esse período. A situação não era diferente em 15 municípios fluminenses que ficam em torno da Baía de Guanabara. Não era, mas pode vir a ser. Essas cidades, que são as poluidoras da Baía, precisam, assim como todos os outros municípios brasileiros, coletar 100% do seu esgoto até 2035, como determinam os Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSBs), previstos na Lei Federal 11.445, de 2007. Mas no caso delas há um agravante: as Olimpíadas de 2016, que precisa das águas da Baía de Guanabara para a prática de esportes como a vela.

Bem poluídas, essas águas viraram motivo de críticas na imprensa esportiva internacional. Giles Scott, velejador que defenderá o Reino Unido, por exemplo, afirmou categoricamente que, “com certeza a qualidade da água aqui não é boa”. Essa crítica, entre outras, foi positiva para movimentar o poder público numa ação profissional para a despoluição das águas, o que culminou no uso de várias tecnologias, incluindo o mapeamento das redes de saneamento básico dessas 15 cidades.

Antes de detalhar a tecnologia, Leandro Moreira, executivo da Imagem – empresa que forneceu a solução de mapeamento – avalia que a primeira decisão correta do governo estadual foi começar a agir na raiz do problema. Ou seja, na geração de poluição. “Não adianta ficar retirando poluentes da Baía se ela continuar recebendo esgoto sem tratamento”, pontua. A avaliação, que parece óbvia, é, na verdade, o que permitirá a essas cidades se tornarem umas das primeiras a atingir a meta do PMSBs antes do prazo final em 2035. Afinal, a meta é coletar até 80% do esgoto até 2018.

Tecnologia
O sistema de informações geográficas, ArcGIS, é fornecido no Brasil pela Imagem, que representa a norte-americana Esri, e envolve uma das primeiras etapas do processo. “As prefeituras coletam informações de suas redes, sejam elas em papel, por meio de georadar, GPS ou outras tecnologias mais avançadas”, diz Moreira. “Em seguida nós recebemos essas informações e disponibilizamos no software para criar o mapeamento com o máximo de detalhes possível” (veja exemplo neste link).

Segundo Moreira, a alimentação de informações pode ser contínua, pois o software vai sendo atualizado a cada intervenção na rede, desde que o cliente forneça as informações. “Assim, o sistema disponibiliza detalhes sobre as redes, incluindo as diferenças de material das tubulações”, diz ele, adiantando que isso permite aos responsáveis fazer as intervenções de forma programada e por prioridade.

Um exemplo é iniciar a manutenção, troca ou inspeção pelas redes de amianto (acredite, ainda existem), ou mesmo por aquelas com válvulas instaladas há mais de 20 anos e que, portanto, representam maior risco de rompimento e o consequente vazamento de água.

As informações do software ainda podem ser disponibilizadas online, com acesso somente dos envolvidos no projeto ou mesmo em uma plataforma comum, para acesso da população. “Com as questões de transparência do poder público cada vez mais em voga, essa é uma solução interessante”, diz.

No caso do Rio de Janeiro, o Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM) também capacitou mais de 60 servidores municipais para usar o software online. A utilização da tecnologia, segundo Leandro Moreira, tem culminado em novas políticas públicas, direcionando as ações de planejamento e execução das obras emergências necessárias.
Uma delas é a implantação do sistema de coleta e tratamento de esgotos da Bacia do Rio Alcântara, no município de São Gonçalo. Também já foi construído o tronco coletor Cidade Nova, no centro do Rio de Janeiro, e outros avanços estão na interligação de redes de coleta de esgotos da Baixada Fluminense às Estações de Tratamento (ETEs) Pavuna e Sarapuí.

“Com o Pacto pelo Saneamento damos um passo à frente em relação à gestão de saneamento básico, aproximando o Estado das políticas públicas de cada localidade e fornecendo, por exemplo, a tecnologia de geoprocessamento como uma fonte de dados mais detalhados e de fácil acesso às informações”, diz Otavio Cabrera De Léo, geógrafo do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e gestor do Núcleo de Geoprocessamento do Programa. “Ao mesmo tempo, unimos todos os dados municipais em uma única plataforma, promovendo a troca de conhecimento entre as prefeituras”, conclui.