Não há solução única para a transição energética na área de equipamentos para construção, conclui painel no BW Fórum

Participantes do BW Fórum foram unânimes ao afirmar que não existe uma solução única para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e alcançar a neutralidade de carbono até 2050

Por Redação

em 27 de Dezembro de 2024

O mercado de equipamentos para construção está investindo em diversas rotas estratégicas para a transição energética. Com isso, os especialistas participantes do BW Fórum foram unânimes ao afirmar que não existe uma solução única para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

“A única coisa que amarrava todos os equipamentos de construção era o diesel. Isso significa que o que era fundamento mudou completamente. E, nós somos seres de hábito e uma transformação desse tipo é um grande desconforto. Mas, a indústria de motores está bastante avançada e desenvolvendo ideias interessantes para esta etapa de transição”, explicou Yoshio Kawakami, sócio-diretor da Raiz Consultoria, durante o evento do Movimento BW, uma iniciativa da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), realizado no 10 de dezembro no Instituto de Engenharia, em São Paulo, que citou como tecnologias transientes: gás natural, biodiesel, híbridos, hidrogênio de combustão interna, elétrico com capacitor, elétrico com bateria, hidrogênio com célula.

O segmento de máquinas tem evoluído consideravelmente nos últimos 30 anos quando se trata da redução de emissões de carbono, contudo, de acordo com Kawakami, ainda há muito o que fazer para chegar à neutralidade. Ele lembrou ainda que nesta área há uma dificuldade maior em relação aos veículos de passeio e de carga, que é o extenso portfólio de produtos, com máquinas completamente diferentes, seja em dimensões, funções e configurações.

Fabricantes também concordam

Corroborando com a avaliação de Kawakami, Luis Ferrari, Corporate Affairs Manager da John Deere, destacou que não existe uma única tecnologia para os equipamentos, pois cada um deles possui demandas diferentes, devido ao uso e até o mesmo o local de aplicação. “É muito difícil ter uma solução como foi o diesel até por conta da logística, distribuição, e das questões relacionadas ao cliente e de trabalho. Por isso, os combustíveis líquidos devem ter ainda um preponderância por um tempo. Mas esse leque de opções precisa ser considerado nas políticas públicas”, comentou.

Para Suellen Gaeta, gerente Executiva de Product Compliance & Regulatory Affairs para América Latina na Cummins, quando se pensa em soluções sustentáveis, é preciso olhar o tripé, infraestrutura, regulamentação e tecnologia. “A matriz energética brasileira se destaca pelas energias renováveis, a disponibilidade de biocombustíveis líquidos é bem feita no país, o biometano possui várias fontes e a produção de hidrogênio é promissora”, explanou. Ela fez ainda uma reflexão, durante o BW Fórum, sobre o ciclo virtuoso dos bicombustíveis e se a matriz energética conseguiria se manter renovável com o aumento considerável de veículos elétricos.

Combustíveis alternativos também foram assunto no BW Fórum

Sobre o biometano, Thiago Brito, supervisor de Novos Negócios da MWM, concordou com Suellen sobre o potencial de aplicação, mencionando que no caso da empresa, ele é obtido, principalmente, de resíduos do saneamento. Também reforçou que o mercado está buscando criar soluções limpas, econômicas e viáveis, que promovam condições dignas de vida para toda sociedade, e reiterou a importância de se melhorar a eficiência energética, pois o diesel ainda será utilizado por um tempo, citando o exemplo da evolução contínua do padrão de emissões Euro. O Brasil está no Euro 6, que entrou em vigor em janeiro do ano passado.

Marcelo Sakurai, Customer Manager da FPT Industrial, tratou das diversas tecnologias em desenvolvimento pela marca, explicando as diferenças técnicas entre o biodiesel 100% (B100), o biometano, e o etanol. Avaliou que no segmento rodoviário, principalmente quando se trata de veículos de menor porte, o foco está em eletrificação, já que é possível controlar o perímetro de movimentação e o abastecimento. Já em veículos de maior porte, estão abertas outras possibilidades.

Além das questões técnicas, Camilo Adas, diretor de transição energética da Be8 e Conselheiro em Tecnologia e Transição Energética da SAE BRASIL, trouxe como ponto fundamental sobre a transição energética no setor: a geopolítica. “A Europa está determinando como a energia é hoje e como deve ser no futuro, mas essa narrativa não vale para todo o mundo”, disse. Para ele, algumas rotas tecnológicas vão ficar maduras em períodos posteriores e que a transição energética só tem sentido se pensar em economia circular. Recordou ainda que o Brasil tem um histórico importante relacionado aos biocombustíveis e que é preciso fomentar uma maior conscientização para quem possui carro flex sobre os benefícios do uso do etanol para diminuir o impacto ambiental.