Os guindastes não escaparam da digitalização

Rodrigo Conceição Santos – 05.11.2020 –

A digitalização dos equipamentos dos equipamentos de construção não deixa de fora os gigantes como como os guindastes. O segmento usa o termo telemática, às vezes, para falar dos recursos de telecomunicações e informática aplicados em campo. É o caso da alemã Demag, que chama sua plataforma de telemática de IC-1 Remote. Ela funciona como um Big Data sobre guindastes, recolhendo dados de equipamentos em serviço e devolvendo análises para os proprietários.

O fato de coletar dados online permite que a plataforma faça uma avaliação da saúde do equipamento, incluindo pressão, temperatura, nível de fluidos e horas de operação, entre outros. A devolutiva do sistema vem da análise desses dados, transformando-os em informação na forma de alarmes e relatórios regulares sobre os guindastes. É claro que um material que analise o equipamento também trará inputs sobre quem está operando e sobre as condições de operação da máquina. São dados preciosos, por exemplo, para estruturar cursos de aperfeiçoamento.

O interessante do monitoramento remoto é que ele pode permitir correções de problemas também de forma remota. Nem toda falha poderá ser reparada dessa maneira, mas é um avanço para evitar o despacho desnecessário de técnicos in loco. Esse e outros ganhos compõe a aplicação de telemática em equipamentos de construção. Lembro-me de um artigo de Sally McPherson, especialista australiana no assunto. Antes de mais nada, deixo aqui o link para o texto.

Ela é cirúrgica ao destacar que a telemática se tornou tema importante na indústria da construção exatamente por garantir que os equipamentos sejam adequadamente operados e recebam manutenção correta. Muitos dos recursos de captação de dados, Sally destaca, já saem embarcados dos fabricantes. Há várias iniciativas na indústria também para reforçar os padrões, facilitando a troca de informações e a vida dos gestores de frotas que tenham mais de uma marca no seu plantel de equipamentos.

A especialista indica ainda os usos atuais da telemática pelos players de infraestrutura. Já sabemos que os recursos ultrapassaram a função de avisar sobre a troca de peças e necessidades de manutenção. Hoje, o avanço é o empacotamento dos dados enviados online, gerando relatórios de gerenciamento, com leituras completas sobre a produtividade e todos os recursos operacionais das máquinas. “Vendo outra oportunidade de vendas, os fabricantes investiram na construção de soluções de software de gestão de frota sobre os dados telemáticos, triangulando as informações de muitas máquinas registradas para um cliente e fornecendo-lhes um portal onde podem acessar, ler e analisar esses dados”, detalha Sally.

Além de gerenciar um grande número de equipamentos, os recursos também evitaram danos às máquinas ao identificar previamente ações de manutenção. Sally traz o cenário australiano de 2019: “Alguns dos maiores canteiros de obras da Austrália, com centenas de máquinas de construção em funcionamento, agora são gerenciados por meio de plataformas de software telemáticas centralizadas”, diz referindo-se aos serviços criados por alguns dos gigantes do setor.  “O que isso dá ao gerente de projeto de uma grande infraestrutura ou projeto de mineração é uma quantidade inacreditável de supervisão precisa sobre o desempenho e a produtividade de todas as máquinas em seus locais”, continua a especialista.

A especialista destaca ainda que, ao produzir relatórios instantâneos, as plataformas informam rapidamente dados como horas de locação, notificações para a sala de controle quando há uma avaria e notificações ao proprietário da máquina se houver uma falha operacional. “Desta forma, a tecnologia telemática tem proporcionado ganhos de produtividade e eficiência inacreditáveis para tarefas complexas de construção e terraplenagem que requerem a coordenação de muitas máquinas e operadores, evitando problemas antes que eles aconteçam e garantindo que o trabalho esteja usando todas as suas máquinas para a capacidade máxima eficiente através do decurso de um dia de trabalho”, resume Sally.

Para nós do InfraROI, que estamos há alguns anos nesse mercado, o cruzamento de duas indústrias importantes – infraestrutura e telemática – é um momento privilegiado. A ida a campo para cobrir várias obras de construção e mineração nos viciou em entender os dois setores e pudemos ver, do ponto de vista de quem usa, o que é realmente importante nos recursos de telemática. A lição? Ouvir mais e mais os usuários de equipamentos para evitar que a telemática repita os erros de muitas áreas de TI, ou seja, enclausurar-se e deixar de escutar quem realmente usa os recursos.