Pagamento em transporte público deve ser mais smart

Nelson Valêncio – 06.09.2019 – Os paulistanos – e quem vem de fora da cidade – começaram a testar novas formas de pagamento, mais exatamente o QR Code em sete estações da malha de metrô e trem metropolitano da capital. Será uma avaliação durante 45 dias e o usuário pode baixar o código por meio de um aplicativo ou comprar o QR Code e imprimi-lo nas máquinas de atendimento automático. Seja na tela do celular ou com o bilhete impresso, ele passa pela catraca (onde o serviço está sendo testado) e segue seu rumo.

As novas formas de pagamento são inevitáveis. Vieram para ficar. No Rio de Janeiro, o pagamento sem contato usando celular, cartão de crédito e outros recursos já é uma realidade. Você não fica mais na fila, esperando pra comprar o bilhete, não se preocupa se tem ou não algum tíquete de metrô na carteira (uma preocupação constante para pessoas que como eu que vivem fora de São Paulo, mas estão sempre na cidade). Mas para que isso aconteça, é preciso um ecossistema por trás e uma estratégia acertada. E, interessante, um dos players importantes nesse caso é uma operadora de cartão de crédito, a Visa.

A iniciativa da Visa não é de hoje. Ela foi pioneira em Londres em 2012, praticamente iniciando um laboratório de inovação de pagamentos em serviços de transporte público. Uma entrevista com Ana Reiley, head de implementação na Visa Urban Mobility, feita no começo de agosto desse ano, revela como projetos bem sucedidos acontecem, inclusive no caso carioca. Aliás, vamos começar por ele. De acordo com Ana, a parceria com a Planeta Informática foi fundamental para criar e desenvolver a tecnologia de módulo de acesso seguro (SAM, da sigla em inglês).

O exemplo carioca ilustra o nível de envolvimento da Visa, que pode variar do marketing à parceria para implementação. No Rio, o trabalho conjunto com a Planeta Informática teria permitido que a concessionária oferecesse a opção de pagamento com cartão de crédito, celular e mesmo outro equipamento vestível (wearable) e sem substituir as catracas das estações. A experiência anterior tanto em Londres, como mais recentemente em Manchester, segundo ela, conta pontos.

O rol de aplicações também inclui Nova York e Singapura, entre outros. Independente da cidade, ela destaca que é necessário entender como implantar o serviço para que o usuário tenha uma experiência descomplicada e segura, do ponto de vista dele. O processo também envolve os outros players do ecossistema, como as próprias concessionárias e o governo local, além dos fóruns especializados que envolvem os outros operadores de cartão de crédito e as empresas do setor de transporte urbano.

O pioneirismo de Londres confirma isso. Há uma visão ampla, na avaliação de Ana, do que é uma rede de transporte ativa e essa visão é encampada pela Transport for London (TfL), a autoridade por trás de todo a rede da capital inglesa. O foco é usar os pagamentos sem contato (contactless) para ajudar a modernizar os serviços e reduzir os custos operacionais. A especialista adianta que outras cidades europeias estão prestes a implantar a tecnologia e a lista inclui Praga, Madri e Milan.

Pra mim, como usuário, o envolvimento de quem vai usar é fundamental. Não estou interessado na complexidade do software que permite o pagamento ou qual é o percentual que a Visa ou outra operadora ganhe ao viabilizar o sistema. Um exemplo prático é Campinas, onde moro. Hoje, não é mais possível usar o transporte de ônibus se você não tiver um cartão do sistema. Exceto, é claro, se comprar o QR Code. Bom, já testei o QR Code impresso e tive problemas na leitura. O aplicativo, pelo na última vez, não estava disponível para ser baixado.

Em resumo: na minha percepção o usuário não foi ouvido e nem tem sido adequadamente orientado. Se for uma pessoa de fora da cidade, então, o problema será ainda maior. A lição de casa seria envolver o usuário, ter uma campanha de comunicação efetiva e, principalmente, orientar quem chega na cidade e não está acostumado com o processo.