Projetos de transformação digital precisam mostrar ROI

Por Nelson Valêncio – 16.07.2018 –

Os conceitos de transformação digital, Indústria 4.0 e outros estão na pauta do dia de várias verticais, inclusive de energia. Nessa, a OSIsoft é um player importante do universo de Big Data e Analytics, com sua plataforma adotada desde o Operador Nacional do Sistema (ONS) até distribuidoras como CPFL, além de Itaipu Binacional. Nessa entrevista, Paula Reichert, gerente de vendas Regional da OSIsoft explica a penetração da empresa no segmento e em outros setores e das tendências de transformação digital. E lembra: projetos de transformação digital precisam mostrar retorno de investimento (ROI) para avançarem. Confira. 

InfraROI – Como poderíamos caracterizar a OSIsoft?

Paula Reichert (PR): Somos uma empresa de São Francisco, Califórnia, que possui um sistema criado há 40 anos, desenvolvido inicialmente para o setor de óleo e gás. Ainda hoje é uma corporação familiar, de capital fechado. O foco da empresa era a criação de um depositório único de dados, agnóstico e que “conversasse” com vários bancos de dados. É essa característica que permite que uma companhia como a CPFL possa comprar várias distribuidoras e padronizar suas informações, apesar de bases diferentes de dados. Ela pode identificar benchmarkings internos e usar isso a seu favor.

InfraROI – O que dá essa agnosticidade ao sistema?

PR: Ele guarda informações de tempo e valor, independente se são dados de oscilação de uma torre de refino de petróleo ou da temperatura de cozimento de caldeiras na indústria de papel e celulose. Ele cria uma camada de interface e dá uma cara de banco relacional num banco de dados que é temporal. Então, pode identificar, por exemplo, valores de velocidade de esteiras em várias unidades de uma indústria de alimentos e compará-las.

InfraROI – É uma plataforma…

PR: É uma infraestrutura de dados em tempo real e tem um conjunto de interfaces, mais de 500 tipos diferentes, com integradores, fazendo a unificação de dados e alimentando sistemas de Big Data Analytics. Nossa missão é entregar uma base de dados sólida e confiável para que os provedores de tecnologia avançada possam se conectar e acessar os dados.

InfraROI – E vocês são parte do ecossistema de Big Data Analytics?

PR: Somos parte do cenário. Podemos fazer uma analogia com receita de bolo: existe uma ordem de ingredientes e eles precisam ser de qualidade. Para o Big Data funcionar é necessário ter dados estruturados e de qualidade, senão o produto final não será bom. Se a base de dados não for ajustada, pode-se concluir que o Analytics não funciona, quando na verdade o problema é a qualidade da informação que foi capturada. É preciso ter ferramentas, como a que chamamos de Event Frames, que permitem criar regras. É como se lêssemos um livro e colocássemos post its nas páginas que interessam. Um sistema inteligente foca somente nas páginas com post its, que funcionam como tags, ajudando na busca de problemas via métodos como os de causa raiz.

InfraROI – Há uma expectativa grande em relação ao Big Data Analytics…

PR: Sim, mas é preciso lembrar que às vezes se quer um BMW, mas o que se tem é um Fusca. É preciso criar um caminho do meio. É preciso olhar o cenário e definir um objetivo, começar por um ponto onde existe a coleta correta de dados em tempo real e extrair valor das informações. E, acima de tudo, que esse projeto inicial dê retorno de investimento, provando que é possível avançar para outras etapas. Hoje, as tecnologias de comunicação e sensoriamento avançaram muito. É possível colocar sensores de centavos de dólar em qualquer lugar, é interessante usar as tecnologias de comunicação sem fio e lembrar que a quinta geração de telefonia celular (5G) vai ajudar nisso. É um conjunto.

InfraROI  – Como se começa a organizar esse novo mundo?

PR: Criou-se o que se chama de tecnologia operacional (TO), porque os sistemas de dados avançaram muito na área operacional a ponto dos departamentos de TI acordarem para a realidade. As empresas que tem um caminho de transformação digital definido já definiram a criação da TO ou a tem dentro de uma estrutura de governança corporativa. Há vários pontos de melhoria em TO, inclusive a criação de regras para evitar problemas como os de ciberssegurança.

InfraROI – E há ainda a consolidação dos dados que devem atender várias áreas dentro da mesma empresa. Como se faz isso?

PR: O grande diferencial é “conversar” com sistemas diferentes de forma simples. Por isso a necessidade de conectores e da capacidade de cruzamento de dados. Usamos 100% das informações, mas de forma diferente para cada área. O interessante é que cada usuário pode configurar sua tela – e não depende de um profissional de TI para isso – consolidando as informações que precisa, seja ele mecânico, operacional ou ligado ao controle de meio ambiente. Há ferramentas para isso, caso do Asset Framework (AF). Ele funciona como um banco relacional dentro de um banco temporal. Quando conecta-se uma bomba nova numa concessionária de água, por exemplo, você insere dados como fabricante e data de acionamento, informações que não mudam ao longo do tempo. Outro exemplo é um sistema de dados corporativos, quando um alto executivo quer comparar o desempenho de várias unidades. O AF uniformiza a comparação a partir de dados diferentes e permite uma visualização equilibrada.

InfraROI – Em que verticais vocês estão mais atuantes no Brasil?

PR: Em número de sistemas, a Petrobras é a maior usuária, mas em número de tags, o setor de energia encabeça a lista de clientes, inclusive com o ONS e várias distribuidoras, além da Itaipu Binacional. O segmento de papel e celulose é outro importante, ao lado de mineração e siderurgia. Os modelos de negócio são variáveis, mas em contratos maiores, existe inclusive o monitoramento remoto dos servidores a partir de São Francisco (EUA). Monitoramos os servidores e não os dados. Se há uma falha em algum deles, emite-se um alarme, por exemplo. O setor de farma é importante porque é extremamente regulado e nosso sistema permite o rastreamento de qualquer mudança em campo.

O tipo de sistema adotado nos projetos também varia?

PR: Sim, varia. Uma plataforma do tipo FPSO, para exploração de petróleo, pode focar o controle em sistemas de alarme, em função do tipo de operação que executa. Ou seja, é um foco em um tipo específico de segurança. Já uma concessionária de água pode aplicar a captura de dados e sua análise em tempo real para reprogramar o tipo de bombeamento que vem fazendo. Ela pode perceber, pelos dados históricos, que talvez possa usar menos bombas para ter um reservatório que atenda sua região e fazer isso num período do dia em que as tarifas de energia – seu segundo maior custo – sejam as mais adequadas.