Provedores regionais, OTTs e utilities ganham espaço na Padtec

Por Nelson Valêncio – 18.07.2016 – 

Grupo representa entre 20% e 25% do faturamento da fabricante de soluções ópticas turnkey. Empresa tem se destacado pela implantação de DWDM em várias operadoras de médio porte.

Berço do maestro Carlos Gomes, Campinas completou 242 anos na semana passada. O principal jornal local destacou a vocação high tech da cidade, inclusive pela presença do cluster de telecomunicações e tecnologia da informação (TIC). Uma das empresas locais que faz parte desse ecossistema é a Padtec, cujo foco, segundo seu balanço social mais recente, é o “desenvolvimento, fabricação e comercialização de soluções turnkey para sistemas ópticos”. De acordo com o presidente da companhia Manuel Andrade, um grupo de clientes formado por OTT, incluindo o Google, para quem instala um cabo submarino entre São Paulo e Rio de Janeiro, provedores regionais (ISPs) e utilities, ganha cada vez mais espaço. Dependendo do período, esse grupo pode representar entre um quinto ou mesmo um quarto do faturamento da Padtec.

Andrade: grupo de "outros" clientes pode representar entre 20% e 25% do faturamento.
Andrade: grupo de “outros” clientes pode representar entre 20% e 25% do faturamento.

Além da diversificação da carteira, a fabricante aposta na expansão de serviços de pós-venda. É o caso da oferta de seu centro de gerenciamento de redes (NOC) para os provedores regionais, as chamadas internet service providers (ISPs). Juntas, segundo a Abrint, associação que congrega o setor, elas têm liderado a ativação de acessos em banda larga no Brasil. Fortes no conjunto, elas têm força, mas geograficamente estão dispersas. E é nessa dispersão que a Padtec aposta para oferecer o gerenciamento terceirizado da infraestrutura física a partir do NOC em Campinas, que emprega 50 profissionais em quatro turnos diários.

Os serviços de manutenção da mesma infraestrutura física também podem entrar no rol de serviços de pós-venda, observado um detalhe importante: quando entrega uma ativação de rede, o contrato da Padtec, assim como de seus concorrentes, normalmente inclui uma garantia média de dois anos. Diferentemente de outros setores, como o de equipamentos pesados para construção, especificações como essas não são exatamente um estímulo às ofertas de pós-vendas. Mesmo assim, a fabricante de Campinas acredita que culturalmente o setor vai amadurecendo. Hoje, os serviços já representam 20% do faturamento da companhia.

O fato de desenvolver suas soluções é outro fator de diferenciação da Padtec, pois ela pode concorrer em melhores condições do que os players internacionais que atuam no mesmo mercado. Dos 560 colaboradores, 40% têm formação superior (5% são mestres e 1% são doutores). A precificação, no entanto, pesa no processo. Segundo um de seus clientes recentes – que implantou um sistema de multiplexação densa por comprimento de onda (DWDM) – o pacote oferecido pela Padtec foi 50% menor do que o da concorrente, um fabricante internacional norte-americano.

É nessa seara, a dos provedores regionais, que a empresa tem aparecido mais. Quatro exemplos já foram relatados aqui, pelo Infraroi: a Sumicity, do interior do Rio de Janeiro, a Telbrax, com atuação em Minas, a Vogel Telecom, uma espécie de confederação de ISPs regionais capitaneada pelo fundo de investimento Pátria, e a Wirelink, com operação forte no Nordeste e Pará. Todas foram unânimes em apontar a parceria ativa da Padtec, inclusive na flexibilização dos pagamentos.

Argemiro Sousa, diretor de Negócios da fabricante, explica, no entanto, que essa flexibilização não inclui um gradiente de financiamento direto mais amplo como ocorreu em outros tempos. Segundo ele, as opções de bancos comerciais avançaram, além do Finame, do BNDES. Dos provedores ouvidos – e pelo mais recente evento da Abrint, em São Paulo, no mês passado – a impressão é de limitação de crédito, particularmente em função de planos de negócios ainda mal elaborados pelos candidatos a empréstimos.

NOC com 50 profissionais: serviço oferecido para provedores regionais.
Centro de gerenciamento de rede (NOC), com 50 profissionais: serviço oferecido para provedores regionais.

No grupo de outros clientes, a Padtec inclui a argentina Silica Networks, outro comprador da plataforma de DWDM, que ativou recentemente um trecho de 2 mil km com essa solução e que já computaria 6 mil km com a tecnologia da empresa campineira. No rol de clientes tradicionais, a Padtec estaria na lista de afetados pela renegociação em curso da Oi, de acordo com o portal G1, citando informações publicadas no Diário da Justiça do Rio de Janeiro. O crédito seria pouco mais de R$ 4,5 milhões. Na verdade é quase ínfimo, quando se fala que a reestruturação da operadora considera um endividamento de mais de R$ 55 bilhões.

Ainda sobre as operadoras tradicionais, o balanço social mais recente da Padtec indica outra baixa: em fevereiro último, por desequilíbrios econômicos, a PSG, empresa totalmente controlada pela fabricante de Campinas, encerrou seu contrato de manutenção de sites de rede móvel nas regiões de Minas Gerais, Bahia e Sergipe. Além da PSG, a Padtec é dona da totalidade da sucursal argentina e da norte-americana (pré-operacional). Já a Civicom, localizada em Israel, teve suas atividades encerradas “devido principalmente às dificuldades financeiras, prejuízos acumulados e falta de caixa”, como indica o documento oficial. Os 76,36% das ações que a Padtec detém na WxBR, também de Campinas, são listados como “ativos disponíveis para a venda”.