Quando foi que perdemos a nave para o futuro da infraestrutura?

 

Foto divulgada por www.outroladodamoeda.com.br
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Por Rodrigo Conceição Santos – 24.09.2015 –

Para o economista Eduardo Giannetti, perdemos a “janela” do avanço para a infraestrutura quando o governo optou pela política de consumo ao invés da de infraestrutura entre 2004 e 2011, período no qual o Brasil cresceu, em média, 4% ao ano e ainda recebeu renda adicional com a valorização mundial das commodities. Ele avalia que a conta por essa escolha está sendo paga agora – junto com várias outras que ele conta a seguir – e a prova disso é que o nível de investimento vem caindo por oito trimestres consecutivos.

“Investimento é formação bruta de capital fixo, como compra de máquinas e equipamentos. No caso da infraestrutura, estamos tendo paralisia de obras inacabadas que o próprio governo não tem como dar sequência – caso da energia eólica, com parques prontos, mas sem linhas de transmissão para agregá-los ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Isso agrava a paralisia nos investimentos”, avalia.

Paradoxo

Foto Secovi
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Paradoxalmente, em sua mesma apresentação – realizada no Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), hoje (24.09), em Salvador (BA) e com cobertura especial do InfraROI – ele exaltou o fato de o Brasil ter colocado 30 milhões de pessoas no rol da casa própria e ter entrado no mapa mundial do consumo no período. “O país fez reservas fantásticas entre 2004 e 2011 que ainda hoje existem e nos dão alguma segurança para arcar com as contas em casos extremos”, diz. “Lembro desse fato para mostrar que tudo parecia bem, que estávamos num momento extraordinário da economia. No entanto, os erros nos últimos tempos despontaram e hoje estamos numa das piores crises que já tivemos”, completa.

Na visão dele, o baixo investimento em infraestrutura tem apenas uma parte da responsabilidade no resultado negativo que desencadeou a crise atual. Outros fatores teriam responsabilidade semelhante, ou maior, como o aumento da carga tributária que vem ocorrendo desde a Constituição de 1988. “Temos um problema fiscal estrutural, que se não for resolvido na essência, vai nos levar – no melhor cenário – à uma longa era de mediocridade”, adianta.

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Ele explica que, em 1988, a carga tributária bruta era de 24% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas a brecha das Contribuições Tributárias, deixada desde a promulgação da Constituição e usada por todos os governos desde então, permitiu aumentos gradativos na carga. “Hoje ela é de 36% e o nosso déficit nominal (o que o país gasta além do que ele arrecada) é de 8% do PIB. Portanto, carga tributária mais déficit nominal corresponde a 44% e é isso que o brasileiro, povo de renda média, transmite dos seus rendimentos ao setor público”, diz.

Giannetti pontua que o problema se agrava quando lembramos que, mesmo com a carga tributária maior, o investimento do governo em infraestrutura pública é menor do que era há 27 anos atrás: “Em 1988, investíamos 3% do PIB nessa área. Hoje, investimos 2,5%”, conclui.