O painel “Universo móvel: redes privativas e inovação de portfólio”, realizado no Abrint Global Congress (AGC 2025) semana passada, debateu as oportunidades para provedores num tipo de oferta muito ligado às grandes operadoras. Para os participantes, há espaço para os ISPs nesse negócio, principalmente para aqueles que estão em regiões não atendidas por redes móveis.
José Felipe Ruppenthal, diretor da Telco Advisors, pontuou que os provedores têm uma relação mais pessoal com seus clientes corporativos e que isso pode ser usado para atender suas demandas. “Só levar conectividade não gera valor, mas disponibilizar uma rede móvel onde antes não havia nada pode transformar uma empresa a depender do negócio que ela atua”, disse.
Um produtor rural, por exemplo, tende a aproveitar melhor uma rede móvel privativa com a possibilidade de implementar projetos de Internet das Coisas (IoT). Já negócios em locais mais isolados, onde a fibra não chega e não é necessário muita banda, como postos de combustível, podem ser bem atendidos com 4G.
Maximiliano Martinhão, diretor de Relações Públicas da Qualcomm para América Latina, ainda apontou para o uso de rede móvel para outro tipo de oferta: o FWA (fixed wireless access). Segundo ele, como o ativo da fibra óptica acaba tendo depreciação e ainda é alvo de furtos, os custos operacionais do FWA são melhores que o da infraestrutura fixa.
Construindo o mercado
Everson Mai, CEO do provedor Mais Internet, ingressou no mercado móvel recentemente. Para isso, o executivo destacou que foi preciso estudar o mercado e procurar por nichos em que a Mais Internet poderia se beneficiar.
O primeiro deles foi o FWA. Segundo Mai, é difícil para as empresas entenderem a necessidade de ter um segundo link de internet para redundância da rede, mas a proposta de valor do FWA consegue romper essa barreira.
Outra oportunidade percebida foi oferecer 4G para quem já era cliente da banda larga fixa. Com base na experiência de seus clientes, Mai percebeu que eles perdiam a conexão assim que pisavam fora de casa, não tendo opção de atendimento por outras operadoras.
Por fim, a Mais Internet também entrou no mercado de IoT, oferecendo rede privativa para empresas. Neste caso, é preciso que o provedor avalie os tipos de negócio que há em seu local de atuação, já que cada um tem necessidades específicas.
Mercado de redes móveis está mais aberto para ISPs
De acordo com Cristiane Sanches, conselheira da Abrint, a Anatel vem buscando formas de abrir o mercado de redes móveis como foi feito com o fixo.
Mas ela diz que é preciso baratear o ingresso de provedores nesse mercado, além de mais segurança jurídica. Cristiane lembra, por exemplo, que o uso secundário de espectro é um risco para provedores, já que as operadoras podem ocupar o espectro usado pelos provedores.
Do ponto de vista do custo de infraestrutura, os ativos têm sido barateados e o Open RAN pode beneficiar ainda mais o provedor. “Nós temos a vantagem de estarmos do lado dos clientes. Cabe a nós buscar formas de valorizar nosso ticket e dar valor para esse relacionamento. Precisamos que o cliente entenda o valor de pagar o boleto todo mês”, encerrou Everson Mai.