Por Rodrigo Conceição Santos – 21.03.2016 –
Eletromobilidade é o futuro do transporte público, acredita presidente mundial da Volvo; Capital paranaense se enxerga à frente de outras cidades brasileiras nesse aspecto e põe em teste o primeiro ônibus articulado com propulsão híbrida para circular em linha urbana.
Na última sexta-feira (18.03), a capital paranaense voltou aos holofotes. E não foi pela Lava Jato. A cidade iniciou a operação do primeiro ônibus articulado de propulsão mista (diesel/elétrico) para transporte circular de passageiros, para orgulho do líder municipal. “Por tudo que temos visto nos últimos dias (em relação à operação Lava Jato) e por esses anúncios realizados hoje (na sexta-feira), Curitiba é mesmo uma República”, disse o prefeito Gustavo Fruet (PDT). A ironia, ou a convicção (entenda como quiser) na fala do prefeito, é uma alusão a um dos grampos envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, no qual ele diz estar espantado com a “República de Curitiba”.
O ônibus, fornecido pela Volvo Bus, integra um projeto maior de sustentabilidade, firmado entre Curitiba e instituições governamentais da Suécia para um trabalho conjunto na intenção de reduzir a emissão de gases poluentes nos próximos dois anos. O veículo vem com Wi-Fi, numa banda 4G de telefonia celular dedicada, além de ar-condicionado e integração total ao Centro de Controle Operacional da Urbanização de Curitiba (Urbs). De acordo com o prefeito, ele será usado em caráter de teste por seis meses, e a operação será em uma linha circular de 41 km de extensão, que transporta 33 mil passageiros diariamente.
O teste é grátis, sem qualquer custo à prefeitura, segundo a Volvo. O veículo tem motor com nível de emissão Euro 6 que, combinado à tecnologia híbrida, emite até 39% menos dióxido de carbono (CO2) e 50% menos material particulado (fumaça) e óxidos nocivos à saúde (NOx). A comparação é em relação aos motores de tecnologia Euro 5, que são os mais modernos usados no Brasil atualmente.
Eletromobilidade
O ônibus é chamado de híbrido porque tem dois motores, um elétrico e outro a diesel. Eles funcionam em paralelo e de forma independente, de modo que a bateria do motor elétrico é carregada automaticamente a cada freada do veículo. Essa dinâmica, segundo a prefeitura de Curitiba, torna o ônibus mais indicado para operações com alto número de paradas.
O motor elétrico é utilizado no arranque e na aceleração até a velocidade de 15 km por hora. Depois disso, entra em ação o motor a diesel, que volta a ser desligado quando o veículo fica parado, caso de um sinal vermelho ou um ponto de parada para receber passageiros.
Para Hakan Agnevall, presidente mundial da Volvo Bus, esse tipo de veículo é um passo importante para a adesão da eletromobilidade (e-mobility), conceito que ele avalia ser o futuro do transporte urbano de passageiros. “Nós pensamos em eletromobilidade em três pilares: veículos, tecnologias completas de conectividade e desenvolvimento de sistemas em plataformas abertas”, diz. Segundo ele, esse conceito permite avanços de conectividade e monitoramento em estações de parada (ponto de ônibus), imagens distintivas para gestão de frota ou segurança, idealização e gerenciamento de pistas exclusivas de ônibus, e outras vantagens.
O executivo conta que participou da entrega de um projeto na Bélgica há duas semanas e na qual ficou clara a perspectiva positiva que a eletricidade usada como combustível pode ter no transporte público. “Afinal, como nesse caso belgo, as utilities de energia elétrica começam a surgir como um participante ativo, que opera os terminais de recarga de baterias e vendem essa energia para os operadores do ônibus elétrico”, diz Agnevall. “Em outros casos, a própria cidade é proprietária dos pontos de recarga e, não descartamos a possibilidade, de a Volvo ser a responsável em algumas situações, o que mostra que devemos ter diferentes tipos de negócios no futuro, mas sempre pensando na propulsão elétrica”, completa.
Ainda em Curitiba, promete ele, até o fim do ano a Volvo deve fornecer para teste um ônibus onde 70% da operação será elétrica e 30% a diesel. Nesse caso, revela ele, é possível que a fabricante assuma os custos fixos com a bateria recarregável.
Lembrando que há várias tecnologias de recarga de bateria e que a Volvo tende a trabalhar com os tipos de carga rápida (de até 36 minutos de duração), o executivo diz que é possível combinar a telemática da Volvo (desenvolvida com a Siemens e ABB) para otimizar o processo. “Por exemplo: podemos usar um aplicativo tipo Google Maps para apontar os pontos de recarga mais próximos ao motorista”, diz o sueco Hakan Agnevall.
Conteúdo nacional
O ônibus que está sendo testado em Curitiba foi fabricado no Brasil, na fábrica paranaense que atende a toda a região latino americana, exceto México. Além dos sistemas de conectividade e eletromobilidade, o lançamento preenche uma lacuna de veículos que a fabricante não tinha até então. “Faltava essa faixa de ônibus de 270 a 340 cv no nosso portfólio local. Acreditamos que agora temos o range completo para ampliar o market share no transporte urbano, a exemplo dos 23% que já temos do mercado rodoviário de ônibus no Brasil”, diz Luís Carlos Pimenta, presidente da empresa para a América Latina.
O ônibus 4×2 promete ser no mínimo 3% mais econômico que seus concorrentes e um dos motivos para isso, além do motor híbrido, é a tecnologia de chassi, com peso até 400 kg menor que modelos similares. Freios EBS, freio motor e câmbio automatizado (I-shift) de série são outros diferenciais do lançamento.