Será o fim do poço no setor de infraestrutura?

Por Rodrigo Conceição Santos – 09.06.2015 –

Presidente da Sobratema acredita que estamos começando uma agenda positiva no setor de infraestrutura a partir do segundo semestre.

Não é unânime a opinião de que estamos no fim do poço, tampouco de que estamos fora dele. Mas, na coletiva de imprensa de abertura da M&T Expo – Feira voltada ao setor de equipamentos pesados para construção e mineração –, os dirigentes da associação organizadora do evento, Sobratema, trataram a infraestrutura brasileira de forma otimista para o que deve acontecer a partir do segundo semestre.

“O pacote de investimentos de R$ 50 bilhões com recursos chineses é um dos indicadores positivos, pois mostra que o Brasil continua na agenda de investimentos mundiais e abre caminho para outros mercados. Estou confiante de que estamos saindo do fundo do poço”, enfatiza Afonso Mamede, presidente da Sobratema.

As concessões que estão sendo anunciadas pelo Governo Federal hoje, para captação de investimentos privados na faixa de R$ 200 bilhões, é outro chamariz para o setor. Segundo Mamede, esse pacote, diferente dos anteriores lançados no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, deve ter mais obras efetivamente entregues nos próximos anos. “Afinal, nós amadurecemos. Os projetos que devem ser concedidos estão mais estudados e focados principalmente em aeroportos e rodovias, dois modelos de concessões que nós já praticamos com sucesso anteriormente”, diz.

Questionado sobre a concessão do trem transoceânico, que deve compor o pacote anunciado pelo Governo hoje, ele esclareceu que esse projeto não deve ser listado na primeira leva de empreendimentos, o que, novamente, reforçaria o amadurecimento do país nas concessões de obras públicas. “Mas sabemos que ainda há muito a ser feito. Afinal, é inadmissível que metade da população não tenha esgoto e mais de 40 milhões de pessoas não tenham água tratada”, diz.

Ele pondera que os setores da infraestrutura necessitam de investimentos urgentes e a iniciativa pública deve reconhecer que são indispensáveis as concessões e parcerias público-privadas para isso. “Todavia, as expectativas indicam que pior que está não vai ficar e já neste semestre começamos a reverter esse cenário”, reafirma.

Pontos de vista
Mario Humberto Marques, vice-presidente da entidade, todavia, alerta para a necessidade de mais financiamentos para que obras de grande porte saiam do papel e cumpram a missão de alavancar a economia brasileira, como deseja o Governo Federal.

Segundo ele, o primeiro cuidado está acerca do modelo de debentures (que representam investimentos privados para compensações de dívidas) para aquisição de empréstimos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). “Ninguém investe em obra com os juros decorrentes do custo de capital que as debêntures incidem hoje em dia. Portanto, para atrair investimento privado, deve haver ajuste nesse modelo”, diz.

Marques ainda alerta para as intervenções de órgãos oficiais, como o Tribunal de Contas da União, que têm o poder de paralisar obras em andamento, o que também é um risco para o cumprimento da agenda positiva de infraestrutura. “No VLT de São Paulo, por exemplo, a intervenção do TCU decorrente da necessidade de desapropriação de áreas está desvalorizando a obra e a mantendo parada”, diz.

Para Mamede, todavia, a crise também representa um momento de oportunidade e é preciso admitir que, mesmo neste momento difícil, o pais não está parado. “Estradas estão sendo expandidas e duplicadas, as obras das olimpíadas caminhão a todo vapor, temos obras de metrô em várias cidades, obras de saneamento em mais de 300 municípios, etc.”.

A M&T Expo ocorre de hoje a sábado no Centro de Exposições São Paulo e espera receber 54 mil visitantes entre os cinco dias, com cobertura especial do InfraROI.