Taxa de juros atrapalha vendas e fabricantes se voltam a financiadoras próprias

BMC-Hyundai e Irmen, dealer da Sany, encontram alternativas para conseguir crédito para seus clientes e contornar a taxa de juros crescente

Por João Monteiro

em 5 de Junho de 2025

Com a elevação da taxa Selic para 14,75% ao ano estipulada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua última reunião realizada em maio, o Banco Central conseguiu bater o recorde dos últimos 19 anos. É a sexta alta seguida do indicador, que serve como tarifa base para a taxa de juros nos empréstimos no Brasil e afeta principalmente o financiamento de bens duráveis, como os equipamentos de infraestrutura.

O reflexo já é sentido no humor desse mercado, que já percebe a falta de crédito como o principal desafio do setor. A BMC-Hyundai, por exemplo, conta com uma parceira para trazer alternativas de financiamento para clientes, a Tração Financeira. A empresa esteve presente na Brazil Equipo Show (BES) 2025, feira de equipamentos a céu aberto realizada esta semana em Jaguariúna (SP).

Lucas Lourenço, coordenador de Supply e Marketing da fabricante, diz que a queda dos juros é uma necessidade para o mercado, não só para vendas de máquinas, mas também para incentivar mais projetos de infraestrutura no País e puxar a demanda de mercado. Por mais que reconheça o problema macroeconômico que o governo precisa resolver, Lourenço diz que a BMC-Hyundai faz o que está a seu alcance para atender os clientes.

A situação é semelhante na Irmen, dealer focada na fabricante chinesa Sany. Marcio Abirached, gerente comercial da empresa, aponta que a taxa de juros é o principal desafio para o crescimento da Sany no Brasil. De acordo com ele, desde a pandemia de covid-19 em 2020, a marca conseguiu dobrar seu market share ano a ano, e detém 30% do mercado de escavadeiras. “A Sany já prometeu trazer sua financeira para o Brasil até o final deste ano e a Irmen conta com uma equipe para ajudar o cliente a obter crédito por meio dos bancos”, explica o gerente.

Setor está otimista, mas cenário pode melhorar

Segundo o Estudo Sobratema do Mercado de Equipamentos, o segmento de máquinas da linha amarela alcançou cerca de 36,6 mil unidades vendidas em 2024, o que representou alta de 14% sobre 2023. Para 2025, a Sobratema projeta estabilidade nas vendas com 1% de crescimento. De forma consistente, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima vendas totais de cerca de 38,2 mil unidades de máquinas de construção em 2025.

A Irmen está mais otimista, como aponta Abirached. Obras públicas, como as expansões do metrô de São Paulo e os projetos em rodovias animam os clientes. Para transformar o otimismo em vendas, a dealer trouxe duas novidades para a feira: as escavadeiras SY80U, de 8,8t, e SY155U, de 16t – esta última com giro reduzido, mas não zero, para trabalhar em locais reduzidos.

Lourenço também enxerga o mercado de infraestrutura crescendo neste segundo semestre com o aumento dos investimentos em rodovias por causa do ano eleitoral em 2026. Ele ressalta que o mercado brasileiro de linha amarela pode não passar da casa das 30 mil unidades por ano, em função de deficiências estruturais que, se fossem eliminadas, liberariam um potencial muito maior do que isso.