Telecom e TI, quem diria, vão pra roça

Por Nelson Valêncio – 19.04.2017

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Projeto deve conectar 180 veiculos da São Martinho à rede 4G LTE criada pelo CPqD, recolhendo dados da operação em campo 

Usina São Martinho implanta projeto que combina rede própria de telecomunicações e Internet das Coisas (IoT) para gestão da colheita, de frota e de manutenção

Se as projeções da supersafra em 2017 forem concretizadas, o setor é forte candidato a melhorar os resultados do país. No caso do Grupo São Martinho, mais exatamente da unidade de Prodópolis, no interior de São Paulo, os resultados podem ser ainda melhores. A explicação reside na adoção de recursos de telecomunicações e tecnologia da informação (TIC) a partir de um projeto com apoio do CPqD, instituição baseada em Campinas (SP) e especializada no assunto. Desde o ano passado, as duas empresas trabalham no projeto que combina a ativação de uma rede própria sem fio – para transmissão de dados e voz – e o uso de sensoriamento de vários parâmetros dos equipamentos de campo. O projeto tem dois anos de duração total e recebe incentivos do BNDES.

Com o projeto a gerência da unidade da São Martinho passou a receber informações em tempo real da operação das colheitadeiras de cana de açúcar e dos caminhões que fazem o transporte da matéria prima até a usina de beneficiamento. Isso é possível porque foi instalada uma estação rádio base (ERB) com tecnologia 4G LTE, criando a cobertura num raio entre 25 km e 30 km, na usina, e ativados os chamados terminais nos equipamentos. Esses últimos dispositivos recolhem dados como temperatura e pressão de óleo e passam a enviá-los, em tempo real, para a gestão de frotas. Resumindo: a rede 4G LTE funciona como uma autoestrada e as informações são os carros que transitam nela. Um não vive sem o outro.

Para viabilizar a infraestrutura, o CPqD aproveitou as instalações da São Martinho, ou seja, as torres já existentes usadas na criação de uma rede de rádio tradicional. Era essa a rede que permitia que as equipes de campo se comunicassem – o que ainda é comum. Em vez de uma rede somente de voz, a malha 4G LTE, numa frequência abaixo de 1 GHz, permite a transmissão de dados e até de imagens. A rede continua privada e só pode ser usada pela São Martinho para fins próprios, mas os recursos sofisticaram-se. Um potencial exemplo: se o motorista de um caminhão tiver problemas em campo e não houver um mecânico próximo, ele pode passar a enviar imagens do veículo a um especialista remoto. Como? Além da rede 4G LTE – similar a qualquer infraestrutura de operadora celular atual – o projeto permite a criação de redes Wi-Fi, como as que temos em casa. Bingo.

Na avaliação do CPqD, outras fatores relacionados diretamente ao solo poderão ser monitorados futuramente com o avanço do projeto. Atualmente, a primeira ERB já funciona monitorando cerca de 21 veículos. O projeto – somente o da unidade de Prodópolis – prevê seis ERBs no total e aproximadamente 180 equipamentos, entre caminhões e colheitadeiras – conectados em tempo real. Enfim, é o IoT indo literalmente pra roça.