Timidamente ou não, Construção Civil deve crescer em 2020

Rodrigo Conceição Santos – 30.01.2020 –

Em 2019, o mercado brasileiro de construção quebrou um ciclo de retração de cinco anos. O crescimento, apontado pela Fundação Getúlio Vargas com dados da consultoria Focus, foi de 2% sobre 2018. Apesar de tímido, o avanço foi maior do que o do PIB (1,3%) e, quando destrinchado, demonstra índices que balizam motivos para maior otimismo, como o saldo de empregos gerados e o crescimento de fases preliminares às edificações.

O assunto foi tema de palestra proferida ontem pela economista Ana Castelo, da FGV e consultora da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic). Primeiro ela pontuou que o crescimento de 2019 foi puxado pela chamada autoconstrução, que engloba investimentos feitos pelas famílias e pequenos empreiteiros informais. Eles, em conjunto, representaram 42,4% do mercado nacional de construção, ficando os outros 57,6% a cargo das empresas formais do setor.

Apesar de proporcionalmente menor, a autoconstrução foi destinatária de 52% dos materiais de construção vendidos no ano passado, por exemplo. As edificações habitacionais – onde se concentra esse tipo de investidor – foi também a responsável por 65% da demanda de cimento no ano passado. E as vendas desse insumo cresceram 3,5%, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (Snic).

O saldo de emprego formal (contratados x demitidos) também foi positivo. O setor da construção teria ampliado as vagas em 75 mil cadeiras. Isso lhe dá a representação de 11% sobre os 644 mil empregos gerados por todo o setor produtivo em 2019.

Entre as fases de construção, as de projeto e de preparação de terreno foram as que mais contrataram: 1,8 e 6,7%, respectivamente. Isso, na avaliação da economista Ana Castelo, mostra que as fases posteriores, de edificação, devem andar mais em 2020. “Neste ano, novamente, a autoconstrução deve representar a maioria dos negócios do setor, mas devemos perceber melhora também no mercado formal”, diz.

A projeção é que esse mercado cresça 3% neste ano, ampliando a empregabilidade em mais 3,5%. A projeção para o PIB do país é de 2,3% até o momento, o que levaria a construção civil a crescer acima dos demais setores produtivos novamente.

Ponderações
Ana Castelo pondera com fatores que podem prejudicar o avanço, como questões políticas internas, questões políticas externas (guerra comercial China e EUA, por exemplo), catástrofes e doenças. Aqui, para sermos mais cirúrgicos, a falta de investimento público pode ser um complicador também.. Nesse aspecto, a retomada de projetos do Minha Casa, Minha Vida é ponto crucial, assim como o investimento ou atração de verbas privadas para obras de infraestrutura, cujos indicadores mostram estagnação em relação a 2018.

“Davos deu recados claros de que a questão ambiental e as questões regulatórias e das reformas são essenciais para que o país atraia mais investimentos externos”, diz ela. Em outra ponta, é preciso equacionar a questão de investimentos públicos em setores que não são atrativos para a iniciativa privada, caso das habitações populares para famílias de 1 a 5 salários mínimos.

Esses dados são convergentes com a Sondagem mais recente da Construção, feita pelo Sinduscon e que mostra que o nível de otimismo dos empresários do setor já passou da faixa de corte de 100, o que significa positivo. Outro índice da sondagem, sobre a percepção dos empresários sobre a situação atual, ainda é negativo, mas está em curva ascendente desde o começo do ano passado e hoje encontra-se perto do nível 80.

A expectativa, mesmo que tímida, é positiva, portanto, com o detalhe de que o setor da construção, hoje, está mais de 26% inferior do que estava até o último ano antes da crise, em 2013. Comparando o pré-crise com hoje (esperamos poder dizer pós-crise em breve), ainda não recuperamos totalmente a capacidade de gerar índices positivos nos mesmos níveis. O emprego, novamente, demonstra isso: em 2013 foram geradas 84,8 mil vagas formais, contra as já citadas 75 mil de 2019.

Se a projeção para 2020 for consolidada, devemos gerar outras cercas de 80 mil vagas durante o ano, o que nos colocaria uma projeção média de 12,5 anos para eliminarmos o déficit de 1 milhão de desempregados que a construção civil brasileira gerou entre 2014 e 2017.