Vacinação e infraestrutura, a lição que vem dos EUA

Nelson Valêncio 01.07.2021 – Os Estados Unidos são uma referência para nós, independente da avalição ser positiva ou não. Há quem idolatre nosso vizinho ao Norte, da mesma forma que existem aqueles que o abominam. Para os dois casos eu recomendo uma visita à Gringa. Quem for descobrirá que, assim como o Brasil, os Estados Unidos tem o melhor e o pior dos mundos. E isso acontece com qualquer outro país. A explicação é simples: não existe país do bem e país do mal, da mesma forma que não há cidadão do bem e cidadão do mal. Quem forma os países são as pessoas que os habitam e elas são, por natureza, diversas e complexas. A minha opinião sobre os Estados Unidos vai nesse caminho. Há pontos negativos como o sistema de saúde e há inúmeros pontos positivos. De forma geral, gosto e muito do país e cada experiência que tive lá foi até agora muito enriquecedora.

A recente eleição de Joe Biden mostrou um dos aspectos mais interessantes dos Estados Unidos. Depois de quatro anos de confusão e falta de postura, o país vive uma tediosa normalidade. E que inveja sinto dos estadunidenses por viverem exatamente essa tediosa normalidade. Biden não é totalmente responsável pelos resultados da vacinação contra a Covid-19 no país, mas ele turbinou as iniciativas da gestão anterior. O resultado é que os Estados Unidos tinham aplicado 327 milhões de doses até o final de junho de 2021, o que significa que 155 milhões de pessoas foram totalmente vacinadas (47,2% da população total). Como informou o site Infomoney, “sobram vacinas e faltam braços”. Resultado do negacionismo: 99% das mortes por covid em maio de 2021 foram de pessoas que se negaram a vacinar. Os dados são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o renomado CDC.

Uma informação importante diz respeito à política de estado de saúde – e não de governo. Apesar de não ter um SUS, os Estados Unidos nunca cogitaram de privatizar a vacina ou sua aplicação. Pelo contrário. O governo americano assumiu a iniciativa, trabalhando com os estados de forma cooperativa. A melhor representação da política de estado de saúde num cenário de pandemia foi dada com a manutenção do Dr. Anthony Fauci como principal conselheiro da Casa Branca. Mudou o governo e ele permaneceu porque combater uma pandemia é uma questão de estado e uma atitude correta do ponto de vista de gestão. E gestão se faz, na maioria das vezes, com atitudes sensatas, cumprindo ritos aparentemente tediosos.

Sim, eu tenho inveja desse governo. Confesso. E da mesma forma, tenho inveja do plano de investimentos em infraestrutura lançado pelo presidente Biden. Segundo estudo da Wharton School, os investimentos previstos de US$ 1,2 trilhão nos próximos cinco anos (com estimativas de bilhões adicionais) vai envolver iniciativas de renovação da infraestrutura de rodovias até a ampliação do acesso de banda larga. E vai favorecer levemente o crescimento do Produto Interno Bruto do país. De acordo com os pesquisadores da famosa escola de administração, o investimento adicional de US$ 579 bilhões somente em novas infraestruturas poderá aumentar o produto interno em 0,1% e reduzir a dívida dos Estados Unidos em 0,9% até 2050. Veja bem, os números se referem ao pacote adicional de quase US$ 600 bilhões e não ao pacote principal de US$ 1,2 trilhão.

Poderíamos falar horas sobre os dois temas – saúde e economia – tendo os Estados Unidos como exemplo. Avalio que chegaríamos à mesma conclusão, ou seja, saúde e economia andam juntas e não é preciso contradita-las. É possível conjugar as duas coisas tendo-se uma gestão decente e líderes sensatos, bem preparados e, muitas vezes, tediosos. O resultado de tal política é um país que vai saindo aos poucos do controle estrito e necessário da pandemia e retoma, com forte investimento público, seus trilhos.